No meu primeiro dia de estágio me deparei com broncas "descontroladas", gritos sem explicações, vozes vindas do alto que não faziam sentido algum para a criança. E a partir disso fiquei pensando se seria essa a melhor forma de lidar com as "feiuras" das crianças.

Quando presenciei essa situação me senti agredida e violada. A palavra também pode machucar. Pouco nos colocamos no lugar das crianças que recebem essas broncas. Sei que é difícil e a paciência também tem limites. Mas gritar palavras sem sentido pode não resolver a situação e ainda virar uma espécie de violência verbal.

Piaget nos ajuda a pensar sobre isso quando escreve sobre o desenvolvimento moral da criança. Ele nos apresenta três fases do desenvolvimento moral, a anomia (ausência de regras), heteronomia (quando as regras são vistas como algo externo e imposta de forma coercitiva) e a autonomia (quando as regras são internalizadas e significadas, os princípios morais são criados na criança).

O autor, então, vai colocar que uma postura autoritária e impositiva por parte dos adultos vai gerar uma sensação de medo e opressão na criança. O que pode não possibilitar o desenvolvimento de sua autonomia, que é baseada no respeito mútuo e na reciprocidade.

Pensando sobre isso, podemos refletir que essas broncas "descontroladas" e autoritárias deixam marcas no desenvolvimento moral da criança, criando relações de respeito unilateral, baseadas no medo.

Mas então, o que fazer nessas situações? Como já escrevi tenho mais perguntas que respostas sobre o tema. Porém, podemos pensar em "broncas" baseadas no diálogo, em um tom de voz não-agressivo e que possibilite à criança a compreensão de seus erros. E, para isso, temos que ter uma dose extra de paciência e empatia, pois fácil não é. Mas acredito que vale à pena refletir um pouco sobre esse tema e nossas práticas.

Agora proponho que vocês pensem um pouco sobre isso. Quais os limites da bronca? Existem outras possibilidades? Vamos pensar juntos(as)!

Referência: PIAGET, Jean . O Juízo Moral na Criança. SP: Summus, 1994(1932)

* Mariana Morais é graduando de psicologia (UFG) e relata um pouco de sua experiência do Estágio em Licenciatura de psicologia, sendo realizado em um Centro Municipal de Educação Infantil de Goiânia

Fonte do texto e da imagem: Criança em Questão