O mês de setembro acabou, mas vale lembrar que ações de conscientização devem ser realizadas constantemente, visto que os suicídios ocorrem diariamente. De acordo com o Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. Os dados constam que, jovens e adolescentes de 15 a 29 anos são os principais alvos e, segundo a folha informativa da organização, 79% da ação são praticados em países subdesenvolvidos, sendo por meio de enforcamento, arma de fogo e uso de produtos tóxicos.

De acordo com o médico Thiago Ribeiro de Arruda, o indivíduo que tem desencadeamento de ideias suicidas não quer especificamente acabar com a própria vida, mas sim com a sua dor, com o sofrimento do qual esteja passando no momento. É possível que possa identificar um comportamento de uma pessoa suicida, Tiago realça alguns sinais de alerta, como por exemplo, se o indivíduo possui um quadro depressivo, se há desânimo em suas falas de modo contínuo, uso de drogas e bebidas alcoólicas, e mudança de comportamento. Esses fatores podem ser bem significativos.

Para ele, um dos motivos para os pacientes cometerem suicídio é pelo fato de apresentarem um transtorno mental, conhecido como depressão unipolar. " A famosa depressão, tida como o mal do século, é uma patologia na qual ocorre alterações na neuroquímica cerebral desencadeando o transtorno. O uso abusivo de álcool e drogas também estão associadas ao suicídio, principalmente na adolescência", explica o médico.

Ainda de acordo com o profissional, ignorar o comportamento como a expressão do pensamento do indivíduo é um erro grave, há quem diga que o suicídio não é avisado, que o desejo do ato é consumado sem levar antecedências, e muitos acreditam que do contrário disso, as falas do sujeito é algo feito para chamar a atenção de pessoas ao seu redor. Portanto é de extrema relevância prestar atenção aos sinais indicados pelo o indivíduo.

"Os pacientes comentam sobre isso em busca de ajuda para o seu sofrimento. É um mito achar que não devemos perguntar acerca disso. Muitas vezes, só quando interrogado, é que o paciente comunica essa ideação. Entretanto, isolamento social, apatia, irritabilidade, queda do rendimento em atividades, automutilação, tudo isso chama a atenção, mostrando que o mesmo necessita de auxílio", afirma Tiago.

A estudante de jornalismo, Barbara Carvalho, passou um período bem difícil em sua vida. Ela relata ao Minuto psicologia que, durante muito tempo, perdeu a vontade de viver, já não saía de casa, não conversava mais com os amigos, não tinha ânimo para trabalhar e estudar. Ela conta que já chegou a se machucar duas vezes, e sempre que relatava algo para alguém, ouvia palavras como frescura ou falta de Deus em sua vida.

"É muito difícil ter alguém que te apoie e entenda aquele seu momento. Eu decidi procurar ajuda porque não queria mais sentir toda aquela angústia dentro de mim. Não queria tentar me machucar novamente e acabar machucando junto às pessoas que amo. Foi assim que decidi procurar ajuda", conta a estudante.

Barbara destaca a importância de se estar de "volta a vida" e o ensinamento que levou desse doloroso processo. "É inexplicável, é como se eu tivesse pausado meus sonhos, meus objetivos, e agora pudesse correr atrás deles novamente. Eu consigo ver que hoje meus sonhos e a minha vida valem a pena, que preciso lutar por isso com unhas e dentes", diz emocionada.

Segundo o médico Tiago, é importante promover campanhas de conscientização, ações que levam conhecimento de saúde mental para a população. É necessário que ampliem as equipes de profissionais da área de saúde para que possa ter um atendimento de qualidade, pois, há uma grande demanda para poucos especialistas e, isso acaba fazendo com que não tenha um resultado eficaz nos tratamentos. O profissional ressalta que o apoio familiar é fundamental para o paciente, é preciso que a família saiba e compreenda, visto que, depressão e ansiedade, na maioria dos casos, é desencadeado por problemas refletidos dentro da própria casa. Um lar desarmonioso contribui para o estado depressivo em que esses indivíduos enfrentam, por isso, o apoio é de suma importância para uma recuperação adequada.

Para ele, existem métodos que devem ser trabalhados em conjunto com estes pacientes. "É de suma importância a psicoterapia, desde os casos moderados aos mais graves, além disso, medicação adequada também contribui na reabilitação, sendo a psicofarmacoterapia também agregada", diz.

Portanto, o paciente deve buscar ajuda aos profissionais de saúde mental, já citados acima. Além destes, o farmacêutico tende a estar atento aos efeitos colaterais que as medicações podem causar no paciente, sempre acompanhando e prestando os seus serviços quando forem solicitados.

O suicídio ainda é considerado um tabu na sociedade, uma vez que, ao indagar sobre o tema, em alguns lugares existe uma certa censura, com o argumento de que falar sobre o assunto impulsiona ainda mais o ato em si. O médico relata sobre sua visão em relação ao tabu imposto perante a sociedade.

"Muitas pessoas não compreendem que é algo patológico, e acabam julgando e rotulando como fraqueza, frescura, falta de Deus na vida, sem necessidade. Ainda há muita ignorância e preconceito quanto a isso, muitos acham que ao ir em um psicólogo e psiquiatra é coisa de doido, e não deixam às vezes outras pessoas também buscarem ajuda. Procurar tratamento não é sinal de loucura, nem para se envergonhar, mas sim, viver a vida melhor. Há também tabu quanto ao suicídio e a questão religiosa, isso é algo que deve ser quebrado e trabalhado para o bem de toda uma sociedade, sendo assim, pode-se criar campanhas de educação de saúde para toda a população", afirma Tiago.

Por Raquel Lima.