Por Bianca Sollero

As tecnologias invadiram a nossa vida com tudo mesmo! Em todo canto, a todo segundo, elas estão ali, aqui, aí. Quase como parceiras inseparáveis do nosso cotidiano.

Com tamanha presença nos nossos dias, é inevitável que as crianças passem desapercebidas por elas. Se a criança nasce às 4h da manhã e às 4h01 já tem foto do rostinho dela no grupo da família, não é de se espantar que aos seis meses de idade (ou menos) ela já arraste o dedinho em cima do seu smartphone.

O mundo digital é fantástico e pode ser bastante propício para o agir criativo, à medida em que nos conecta com o mundo inteiro, o que aumenta nosso repertório de conhecimento e, portanto, aumentam também as chances de conectarmos duas coisas aparentemente distintas, criando algo novo, diferente.

Mas, para este mundo ser mais positivo do que negativo, nós precisamos saber oferecê-lo para as crianças tomando certos cuidados.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças de até 2 anos de idade não tenha acesso às telinhas digitais e que as de 2 não usem por mais que uma hora ao dia. Os efeitos negativos podem ser drásticos. As crianças crescem superestimuladas visualmente e mentalmente, aumentam as chances de desenvolverem transtornos de déficits de atenção e hiperatividade, além de estarem sendo privadas de aprenderem a conviver socialmente.

Como psicóloga, vejo um problema ainda maior, que reside na dificuldade dos pais de dizerem não para seus filhos, de impor limites: as crianças crescem sem aprenderem a lidar com a frustração e sem reconhecerem como seu espaço interfere no espaço de outra pessoa.

Como educadora criativa, observo que habilidades imprescindíveis para o agir criativo são atrofiadas ou minadas quando existe o excesso ao uso de telas, como curiosidade, imaginação e coragem.

A SBP ressalta, ainda, o aumento da probabilidade de uma vida sedentária, ou seja, mais propensa a doenças de todos os tipos e seus malefícios.

Para possibilitarmos as nossas crianças a viverem saudável e produtivamente neste novo cenário, a principal dica é usar as telas como um recurso, e não como um hábito. Você não precisa evitá-las 100% se é impossível para você. Mas pode olhar para elas como um último recurso e dar quando não tiver outra alternativa.

Por falar nisso, uma excelente iniciativa é o cantinho da liberdade criativa. Um cantinho na sua casa em que a criança pode fazer quase tudo o que ela quiser (você deve frisar alguns combinados universais como "cuidar para não se machucar", conheça mais buscando a hashtag no instagram #4CombinadosUniversais). Quando a criança tem um espaço assim, para o livre fazer, o livre criar, ela se sente mais motivada a realizar alguma atividade diferente das telinhas.

Outra dica que vale para qualquer idade a partir dos 3 aninhos é realizar um quadro com horários do que se deve ou pode fazer, incluindo banho, lanches, almoço e escola. É fundamental que a criança participe da decisão e da confecção desse quadro de horários, lembrando que a maior parte do tempo deve estar voltada para o brincar livre ou o cantinho da liberdade criativa. Se os #4CombinadosUniversais estiverem bem realizados, você não precisará de um adulto "vigiando" a criança nestes momentos.

Ter um ambiente doméstico bem preparado, ou seja, com tomada cobertas e outros riscos mais graves impedidos, você pode e deve deixar a criança livre pela casa. Feche a porta da cozinha e dos banheiros, certifique-se de não ter objetos de vidro ou outros que possam cair sobre a criança e deixe-a solta. Você perceberá o quanto ela se distrai sem precisar de você. É claro que se ela já estiver muito acostumada às telinhas, curtir a casa não vai acontecer tão rápido assim. Mas basta que você insista em diminuir o tempo de tela e ofereça atividades de liberdade e de exploração para ela que rapidinho ela troca de "brincadeira preferida".

E, para você que tem crianças menores de 2 anos e não quer ser refém das telas, pode apostar nessas dicas que eu dei que funcionam muito bem.

Na minha casa tenho duas crianças: uma com menos de 1 ano e a outra com 2 anos. Eu pratico essas dicas e garanto que as telas não fazem parte da nossa rotina – mas também confesso que quando o bicho pega (mas só quando o bicho pega mesmo) me rendo a elas.

Para terminar, devo dizer que mudar o hábito de uma criança não é tarefa fácil mesmo. Se mudar os nossos já é difícil, imagina o delas. Provavelmente acontecerão muitas birras neste processo e você deverá saber como lidar com elas para que o melhor para a sua criança seja realizado.

Fonte do texto e da imagem:Pais e Filhos

[p]Imagem: Getty Image