Brenda Milner é considerada a criadora da neuropsicologia e uma das pesquisadoras que mais nos ajudaram a entender como funciona a nossa memória. Sem dúvida, estamos falando de uma das figuras mais notáveis da neurociência cognitiva.

Ela nasceu em 15 de julho de 1918 no Reino Unido, e em breve completará 100 anos. Os seus pais se dedicaram à música e demonstravam um grande talento, mas desde o início, Brenda Milner demonstrava que tinha um interesse muito diferente. Ela começou a trabalhar no campo da psicologia experimental, se especializando em distúrbios da memória relacionados a lesões nos hemisférios cerebrais e à síndrome amnésica resultante.

Ela continua trabalhando como professora universitária e é considerada uma autoridade no campo da neurociência.

O caso H.M: a origem da neuropsicologia

H. Molaison tinha 9 anos de idade quando foi atropelado por um ciclista. Quando ele caiu no chão, bateu a cabeça com força, o que causou uma ruptura do crânio. Era o ano de 1935 e H.M precisou consultar um médico, porque como consequência do forte golpe sofrido, ele começou a ter convulsões contínuas, inclusive com perda da consciência.

Ele viveu dessa maneira por mais duas décadas, até que as convulsões se tornaram tão graves que o impediam de levar uma vida normal. Começou a ter falhas de memória com frequência e foi demitido do seu trabalho como mecânico de motores. Sem emprego, sem saúde e sem família, ele ficou desesperado. Os médicos lhe falaram sobre um neurocirurgião que poderia ajudá-lo que estava experimentando novos métodos de tratamento em pacientes com lesões cerebrais.

O Dr. Scoville testou todos os tratamentos não invasivos conhecidos pela ciência médica na época, mas nada mudou na vida de H.M. Ele decidiu então remover parcialmente o lobo temporal de H.M. É verdade que com essa intervenção as convulsões diminuíram consideravelmente, mas as consequências foram dramáticas. O paciente começou a esquecer tudo o que acontecia com ele.

Assustado com o resultado obtido, ele consultou a Dra. Brenda Milner, que na época fazia especialização em distúrbios da memória e trabalhava como professora de neurociência cognitiva.

Brenda Milner realizou uma série de testes no paciente e percebeu que, toda vez que o visitava, ele não a reconhecia. Tudo era novo para H.M e ele não se lembrava do que tinha feito antes. Apresentava uma amnésia anterógrada, ou seja, uma perda da capacidade de criar novas memórias.

As conclusões de Brenda Milner sobre os trabalhos realizados com esse paciente foram determinantes no campo da neuropsicologia para diferenciar dois tipos de memória: memória explícita e memória procedimental.

Memória explícita e memória procedimental

A memória explícita é um tipo de memória de longo prazo (MLP). Refere-se a memórias que podem ser lembradas de forma consciente, como por exemplo as memórias de infância, experiências com determinadas pessoas na infância ou adolescência e alguns flashes das primeiras imagens da nossa infância.

A memória procedimental se refere a memórias inconscientes. Ou seja, habilidades adquiridas no passado, como dirigir ou andar de bicicleta. No caso de HM, Milner observou que a memória explícita do paciente tinha parado de funcionar depois da remoção parcial do lobo temporal, mas foi melhorando ao longo dos testes nas tarefas de repetição associadas com a memória procedimental. Ou seja, melhorou o desempenho em todas as tarefas que envolviam aprendizado por repetição.

O corajoso H.M morreu em 2008 em um asilo para idosos aos 82 anos. Talvez ele tenha sido o paciente mais famoso da história da neurociência. Por essa razão, os médicos conservaram o seu cérebro em formol e analisaram exaustivamente as áreas danificadas e relacionadas aos seus distúrbios de memória.

O reconhecimento internacional de Brenda Milner

Milner é considerada uma pioneira no campo da neuropsicologia. Os seu trabalhos com o paciente H.M foram determinantes no estudo da memória e de outras funções cognitivas.

Ela ajudou a descrever a lateralização do cérebro humano e a determinar como a representação da linguagem nos hemisférios cerebrais pode variar em indivíduos canhotos ou destros. No seu currículo há mais de vinte reconhecimentos "honoris causa". Atualmente, prestes a completar 100 anos, continua trabalhando e se envolvendo como fez no começo da sua carreira, conservando o seu posto de professora do departamento de neurologia do Instituto Neurológico de Montreal.

Fonte: A mente é maravilhosa

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