Montar um currículo é um momento muito importante na hora de buscar uma vaga no mercado de trabalho. Sim, este papel que algumas pessoas pensam não ter muita importância pode ser determinante na aquisição de uma vaga em um processo seletivo mais formal. Antigamente muitas vagas eram preenchidas pelo famoso "QI" ("quem indica"), mas o crescente mercado de Empresas de Recursos Humanos (RH) tem sido bem mais criterioso nos processos de recrutamento e seleção; Isso acontece porque as empresas que contratam o serviço terceirizado de RH começaram a entender que, além da comodidade de não terem que se preocupar em buscar novos funcionários, necessitavam de maiores critérios de seleção de pessoal capacitado ou com determinadas características psicológicas adequadas às vagas. Com base nisto, muitas empresas de RH se especializaram em processos de Recrutamento e Seleção de pessoas e trouxeram os psicólogos para dentro de suas portas.

O psicólogo, que é o profissional responsável por estudar a subjetividade humana, que se expressa em seus comportamentos, se tornou protagonista neste processo, por alguns motivos: 1) O psicólogo é o profissional que possui formação adequada em temas de desenvolvimento psicossocial humano; 2) É o profissional com a formação adequada para traçar um perfil da personalidade do indivíduo; 3) É o único que pode aplicar testes de avaliação da personalidade, de humor, de inteligência, ou de qualquer outra área psíquica (Lei 4.119/62); 4) O psicólogo possui formação adequada para diagnosticar e prevenir problemas psicológicos, sociais e institucionais. Por estes e outros motivos o psicólogo é peça central no processo de Recrutamento e Seleção de pessoas.

Entendendo o papel do psicólogo no processo de seleção de pessoas, e a sua importância, é preciso saber quais são as principais coisas que um psicólogo busca em um currículo:

  • Veracidade: Com certeza esta é uma das primeiras coisas a ser observadas em um currículo – se o mesmo é verdadeiro. Mentir em um currículo é mais do que feio, é antiprofissional, e esta atitude é inaceitável para o mercado de trabalho. Virtudes como honestidade e sinceridade são muito desejadas no mundo de hoje. Por isso, não se deve mentir em um currículo, pois por mais que este passe em uma primeira etapa, numa segunda, ou mesmo aprove o candidato para a vaga, o próprio mercado de trabalho se encarregará de desmascarar ou eliminar o mentiroso.
  • Capacitação: Outro dos primeiros pontos observados pelo examinador do currículo é o nível de capacitação do indivíduo para determinada função. Este ponto pode ser medido através de distintos indicadores no currículo: Formação acadêmica, experiência profissional ou extra profissional (Associações, clubes, ligas acadêmicas, centros acadêmicos, ongs, etc), idiomas, cursos, uso adequado da Língua Portuguesa. O nível de formação de uma pessoa deve ser sempre adequado à função proposta. Alguns postos de trabalho, dada a sua especificidade e especialidade, exigirão formação superior, pós-graduação, e outros exigirão apenas o fundamental completo ou nem isso. Engana-se quem pensa que erros de português (não de digitação, que podem ocorrer) não eliminam um currículo, pois é incoerente um currículo apresentar uma pessoa com "Encino Çuperior" completo com um nível de domínio do idioma nativo baixíssimo (Veja na parte sobre a coerência). Outro ponto importante é sobre o uso de idiomas – Uma pessoa só deve colocar idiomas no currículo se realmente dominar algo sobre a sua escrita, fala ou compreensão. Colocar "Inglês Básico" no currículo pode denunciar uma pessoa que só sabe conjugar o verbo "To Be" ou palavras como "Shopping Center, Milk Shake, Power Ranger", etc. Alguns examinadores, a entrevista de emprego, podem fazer algumas perguntas em inglês ou começar uma conversação na língua shakespeariana só para medir a veracidade desse dado. Sobre a experiência, que é um dos fatores que mostra a capacitação de um currículo, cabe ressaltar que a mesma não é medida somente através de experiências profissionais remuneradas – Experiências em associações de voluntários ou em qualquer outro lugar que te levou a exercer funções adequadas ao cargo pretendido podem te ajudar neste momento, o que você precisa ver é se a vaga é adequada ou flexível para isto.
  • Coerência: Uma das coisas que revela a veracidade de um currículo é o seu nível de coerência. A formatação de um currículo exige várias etapas e estas devem ser harmônicas entre si – Uma pessoa não pode colocar que possui pós-graduação em letras e escrever "meu obijetivo eh fazer um esselente trabalho". Outra coisa que denuncia a incoerência de um currículo é a discrepância entre a formação e o objetivo do mesmo – A pessoa é formada em odontologia e quer uma vaga de mestre de obras, ou a pessoa só trabalhou com vendas em toda a vida e quer uma vaga de professor de ensino fundamental (sem ter formação acadêmica). Por isso, currículos incoerentes são eliminados.
  • Originalidade: Este é um ponto interessante, e muitas vezes desprezado ou mal interpretado por quem o tenta. A maioria das pessoas, ao fazer um currículo, pega modelos prontos de internet e só se dá ao trabalho de modificar o conteúdo, sem trabalhar a forma em que o mesmo é apresentado. Um leigo se surpreenderia com a quantidade de currículos homogêneos que nós examinadores recebemos (algumas vezes é até possível saber de que site o modelo foi retirado). Uma das coisas que as empresas buscam são os profissionais diferenciados, criativos, dinâmicos e proativos, e um dos primeiros momentos em que isso se revela é no currículo. Currículos com um bom layout (criativo, simples, organizado, objetivo, coerente, bonito, uniforme, são ótimas dicas). Erros comuns de profissionais que tentam ser originais em um currículo, e que devem ser evitados são: Fotos "exóticas", páginas coloridas, desenhos (a não ser que você seja um arte finalista ou desenhista), perfume, batom, adesivos muitas letras diferentes ou artísticas; todos estes são pontos negativos e não favoráveis.
  • Formalidade: Este é um dos pontos chave para um currículo – pessoas que tentam "forçar" uma certa amizade ou um tom cômico para com o recrutador não são muito bem vistas. A relação de recrutamento e seleção deve ser profissional e focada no profissionalismo e não em amizades construídas em 3 minutos. Essa tentativa de estabelecer uma relação forçada com o examinador através de um currículo ou mesmo entrevista de emprego pode revelar um comportamento sedutor e/ou imaturo da pessoa, ou mesmo uma tentativa de mascarar a falta de capacidade da pessoa para o cargo, haja visto que, o bom profissional é diferenciado pela capacitação que possui e não por ser um "bom vivant".
  • Objetividade: O último ponto abordado neste texto será a objetividade. Um currículo deve ser objetivo ao máximo (por isso recomenda-se uma ou duas páginas para o mesmo), já que o volume de dados para ser avaliados por nós é extremamente grande e a quantidade de informações desnecessárias também. Um dos indicadores para a inteligência de um profissional ao escrever um currículo é maneira como o faz objetivamente – o mundo tem pressa, e pessoas com capacidade de síntese parecem ser mais organizadas, decididas e honestas (por não "encher linguiça" como diz o ditado). A objetividade de um currículo pode ser observada na quantidade de páginas, concisão das informações oferecidas no currículo, divisão das partes do mesmo de uma maneira clara e compreensiva, e do que será escrito na parte de "Objetivo" do currículo.

Essas são as primeiras, de uma série de dicas que podem ser oferecidas para alguém em busca de empregos, ou mesmo para estudantes de psicologia que queiram entender melhor os processos de avaliação de um currículo.

Fonte: Colunista Murillo Rodrigues