Sempre fui uma pessoa "implicada" com o politicamente correto, e pode-se notar isto até mesmo pela maneira pela qual escrevo meus textos – pessoais, na primeira pessoa do singular, com o sujeito ativo e etc.: Sinal de narcisismo não tratado? Não... Pelo menos nem sempre (nada que um bom processo de autoanálise não tenha me dito), mas deixo estas interpretações para quem comunga da linha teórica psicanalítica. Talvez uma maneira acadêmica ou filosófica de transgressão como forma de afirmação de uma identidade em busca de autorrealização, afinal de contas, a rebeldia sã sempre fez parte de meus traços de personalidade. Por isso, neste texto eu gostaria de tratar de uma coisa que é muito presente nos círculos sociais pelos quais frequentamos: O POLITICAMENTE CORRETO.

Após um tempo de reflexões e estudos, pude embasar melhor a minha "birra" contra este ato que é tão louvável nos meios preconceituosos em que vivemos, afinal de contas é preciso muito preconceito para sustentar-se um ato politicamente correto.

Mas vamos aos fatos: O que vem a ser "politicamente correto"? Um ato politicamente correto é uma atitude que tem como fim agradar "gregos e troianos", ou seja, algo que objetiva apaziguar todos os grupos sociais existentes de modo a diminuir ao máximo a frustração destes. Em um primeiro ponto de vista, isso parece ser perfeitamente ideal, mas se olharmos mais ao fundo da questão veremos o porquê não é.

Toda vez que afirmamos uma ação ou opinião, estamos afirmando igualmente uma posição de poder e identidade: Ao afirmar que não somos favoráveis a cotas para negros nas universidades, por exemplo, podemos estar fazendo isso com base em inúmeras informações ou argumentos, mas no fim estamos dizendo de algo do que SOMOS OU ACREDITAMOS, e quando fazemos isso estamos marcando uma posição. Todavia, no mundo complexo em que vivemos, devemos assumir o fato de que as pessoas pensam, agem ou sentem por si mesmas, e o fazem de maneiras muitas vezes diferentes às nossas.

Neste contexto, porque o politicamente correto é perigoso? Porque ele não diz realmente nada do que somos ou acreditamos. Ele tem como simples objetivo evitar conflitos! É um processo comportamental de fuga e/ou esquiva no nível discursivo e ou fatídico.


"_Mas porque evitar conflitos pode ser prejudicial?"

Simples, nem todo conflito é nocivo! Às vezes os conflitos nos servem para que possamos produzir novas experiências, significações, maneiras de ver ou fazer as coisas. Imaginemos um país sem debate político, por exemplo, ou um governo sem oposição... o que aconteceria? Simplesmente estaríamos fadados ao mesmo ciclo de improdutividade política e social, e isso igualmente pode ocorrer em várias áreas de nossa vida. Devemos entender que certo nível de tensão é benéfico, pois deveras vezes, são estas mesmas tensões que servem para manter as nossas estruturas em funcionamento.

Mas finalmente, o que estou querendo dizer: Devemos repensar nossas práticas comunicacionais de forma a nos policiar contra o politicamente correto, pois uma atitude que tem como finalidade fugir de conflitos é o mesmo que assinar uma sentença contra a nossa liberdade por medo da responsabilidade que advém desta. Não estou fazendo uma ode à opinião prejudicial, mal fundamentada, ou à ofensa alheia, mas sim que devemos nos responsabilizar pelas posições que assumimos, de modo a termos uma comunicação produtiva e que sirva para diálogos, debates e não para discursos vazios e hipócritas, pois o politicamente correto nada mais gera do que conforto e improdutividade. Devemos sim buscar uma vida socialmente harmônica, mas viver sem posicionar já é tomar posição, e tomar posição pelo "meio termo" é uma prática historicamente conhecida por "mediocridade". Por isto afirmo: O politicamente correto é a expressão mais louvável da mediocridade social humana.

Fonte: psicologia.com.br/colunista/13/" target="_blank">Colunista Murillo Rodrigues