Uma das maiores psicólogas do Brasil, Sílvia Lane, já na década de 1980, teorizava em seu célebre texto "A psicologia social e uma nova concepção de homem para a psicologia", que a psicologia sofria um estado de dependência de duas escolas teóricas: A estadunidense e a europeia (Lane, 1984). Isso se deve ao fato de a psicologia Moderna ser, essencialmente uma invenção ocidental.

A psicologia que "começou" nos laboratórios de Wundt na Alemanha, e gradativamente migrou para os Estados Unidos durante as Guerras Mundiais, onde atraiu a atenção dos congressistas (que liberavam as verbas para pesquisas) graças à sua utilidade do Peri e Pós Guerra: O próprio pai do Behaviorismo Radical já chegou a ser "recrutado" pelo Pentágono para condicionar pombos em um inovador sistema que foi precursor dos mísseis teleguiados. psicologia.com.br/postagens/2014/06/26/skinner-e-a-2-guerra-mundial-pombos-misseis-e-condicionamento-operante/" target="_blank">(Veja esta história em outro texto meu).

O fato é que a cultura dos países que abrigaram a psicologia, seja ela da tradição pragmática estadunidense, ou da tradição filosófica estruturalista de países europeus, foi um grande influente na constituição do que conhecemos hoje como ciência.

Mas o fato é que em 135 anos de psicologia Moderna (Desde a fundação do Laboratório de Wundt), a psicologia transitou entre estes dois polos, tendo os demais locais sendo renegados à categoria de subcultura científica, com produções de pouco interesse para a "comunidade científica internacional".

O primeiro esboço de psicologia que se sobressaiu fora desta "panelinha científica" foi na antiga União Soviética, notadamente com o trabalho de Vigotski (embora muitos outros cientistas tenham se sobressaído na área da psicologia, como Pavlov, Bechterev, Kornilov e etc): Este foi o primeiro psicólogo à apresentar uma alternativa ao pensamento dual e reducionista da psicologia, que na época já era extremamente polarizado. Todavia, por questões políticas a psicologia vigostkiana foi considerada "radical" à política da época e proibida na URSS, e foi considerada marxista e "apagada" no Ocidente.

Todavia, já na década de 1960, a psicologia começava a se oficializar na América Latina: O Brasil tinha sido o primeiro país na América Latina a reconhecer a psicologia como Profissão, e um dos primeiros quatro no mundo a fazê-lo, o que deu força para todo um movimento de psicologia Social Crítica que já se levantava na época. Esta geração da virada da década de 1970, foi altamente produtiva, ativa e crítica, quando nomes como Silvia Lane (Brasil), Maritza Monteiro (Venezuela), Martín-Baró (El Salvador), Fernando González Rey (Cuba), dentre outros, se colocaram como grandes nomes da psicologia e Ciências Sociais, em favor de uma revolução científica na psicologia, afirmando a necessidade de uma psicologia Latino-Americana.

O mais interessante é que estas psicologias Latino-Americanas se ampararam nos braços da antiga psicologia Soviética, essencialmente em Vigotski e Leontiev, tomando-a como base teórica para reflexões e postulados. Esta psicologia focava-se em temas como identidade, coletividade, processos, comunidade, cultura. Esta psicologia ficou famosa e teve grande abertura nos ramos da psicologia Social, ao encontrar-se grandemente amparada na psicologia Comunitária, pois esta era muito pertinente em realizar críticas sociais e políticas para as realidades da época.

Todavia, esta psicologia latino-americana não foi tão bem recebida assim pelos setores políticos que estavam no poder àquele tempo: Alguns psicólogos foram perseguidos e fiscalizados pelas ditadura, e outros até mesmo assassinados, como foi o caso de Martin-Baró. A questão é que, as pressões políticas externas e internas, transformou parte do pensamento emancipador da psicologia social crítica, em uma psicologia para um "grupinho" de estudiosos.

Neste sentido, a psicologia mundial já apresentou sinais de que são possíveis outros caminhos às alternativas dualistas estabelecidas (Funcionalismo e Estruturalismo) e que o problema em conhecê-los e pesquisá-los é mais político do que teórico.

Referência:

Lane, S. T, M. (1984). psicologia social e uma nova compreensão de homem para a psicologia. Em, Lane, S. T. M., & Codo, W. psicologia Social, o homem em movimento (pp. 10-19). São Paulo: Brasiliense.

Fonte:psicologia.com.br/colunista/13/" target="_blank"> Colunista Murillo Rodrigues