Afinal de contas, o que é o desejo? Muita gente pensa, fala teoriza e conclui sobre este tema que é tão complexo e tão polêmico. O próprio pai da Psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), foi um dos maiores teóricos do desejo, seguido por toda uma escola de pensamento. Tenho por mim que o desejo é uma força, e esta que é moldada segundo as necessidades reais e fabricadas pelas condições sociais e culturais.

Uma pessoa que ajudou-me a compreender a relação social/genética na construção do desejo foi Konrad Lorenz (1903-1989) ao cunhar o seu termo do imprinting, mostrando que podem existir predisposições para alguns comportamentos na vida, mas que estes necessitam da estimulação adequada para se desenvolverem. Algo próximo disso por tratado por Vigotski (1856-1934) quando falou da necessidade que os seres humanos tinham da relação com a sociedade para o desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores, que eram construídas sob uma base de funções psicológicas inferiores. Sendo assim, o desejo, por mais que possua uma predisposição de ser, é também socialmente construído.

Entender o desejo como muito mais do que uma força instintiva é o primeiro passo para entender um ser humano não determinado por forças incontroláveis, mas um ser autodeterminante. Neste sentido, a discussão se coloca sobre o fato de o ser humano ser ou não determinado por algum tipo de força alheia à sua vontade. Ora, se o desejo é uma construção social este também pode ser "desconstruído".

O desejo é insaciável, ele nunca se farta após alcançar o seu objetivo. Ele não é uma coisa em si, ou uma substância, mas uma força que movimenta o homem: Tão mais ele deseja, mais ele quer desejar. Logo, a finalidade do desejo não é o objeto, mas sim o próprio ato de desejar, pois quanto mais cheio de vontades, mais incontrolável será o homem. E esta falta de controle é o que o homem, nos seus mais íntimos instintos busca: A liberdade, mas esta que, quando sem responsabilidades se converte em libertinagem e aprisiona o homem em um ciclo de decepções e desilusões.

Por isso, é sempre importante para um ser humano em seu caminho de desenvolvimento refletir sobre as suas vontades, pois estas são as que dirigem a vida do ser humano. Compreender quais são as vontades compatíveis com suas necessidades e bem estar, pode ser considerado um dos crivos para regular o ponto de saúde entre um ser humano movido pela vontade ou pela ganância.

O desejo é o pai dos sonhos, o desejo é o pai da vontade, e este é o que move o ser humano para os seus objetivos. Desejos sãos levam pessoas para caminhos são, mas desejos torpes levam as pessoas à caminhos socialmente controvertidos. O desejo, quando bem ajustado, é uma força que move o homem para a liberdade. Ora, por mais que seja um tema complicado e polêmico, o fato é que, para viver em comunidade, o ser humano precisa ser sujeito de sua vontade.

Fonte: psicologia.com.br/colunista/13/" target="_blank">Colunista Murillo Rodrigues