No campo da ciência psicológica, o trabalho tem sido considerado uma das formas de significar a existência humana, a partir da transformação da natureza do próprio homem com suas experiências singulares a partir das atividades que desenvolve. É através do trabalho que o sujeito reconhece a si mesmo e, pela via desse movimento, reconhece o outro e produz subjetividade, que é um foco de estudo dessa área.

Os primeiros teóricos que se propuseram em estudar sobre a temática da psicologia do trabalho foram os franceses. Esses profissionais se dedicaram a entender as causas e os efeitos da fadiga no contexto do trabalho. Desse modo, o foco principal era a seleção de trabalhadores bem capacitados para ocupação dos cargos. Assim, os testes psicológicos eram os instrumentos mais utilizados nesse processo de escolha.

Ao longo da história da inserção do profissional de psicologia nas organizações, a sua atuação pautou-se apenas em seleção de pessoal, recrutamento, aplicação de testes psicológicos, etc. Esse trabalho era feito para bem selecionar pessoas "adequadas" que estariam aptos ao cargo. Porém, a atuação do psicólogo do trabalho ganhou novas visões e conseguiu ampliar seu escopo, passando a considerar também a formação do trabalhador, a orientação do trabalho, a melhoria do plano de carreira e fomentar uma reorganização em diversos aspectos que concernem ao trabalho.

A psicologia do trabalho abrange tais focos de atuação: o homem e sua relação com o trabalho, levando em consideração a personalidade do trabalhador, as suas aptidões para aprender e as diferenças individuais entre os trabalhadores, bem como visa estudar o ambiente onde ocorre o trabalho, suas relações com o instrumento de trabalho e aborda as relações entre todos os componentes desse contexto, de modo que objetiva saber como este está definido, organizado e controlado.

Diferentemente das perspectivas tradicionais da psicologia, que assumem a existência de uma subjetividade do trabalhador na ausência de sua própria atividade de trabalho, postulando, por conseguinte, a possibilidade de uma análise da subjetividade dos trabalhadores, sem considerar o que realmente fazem e vivem, a psicologia do Trabalho – oriunda dos estudos de Yves Clot (2006) –, tem balizado a subjetividade como "o continente escondido da atividade" (CLOT, 2006).

Nesse caso, embora a subjetividade seja algo voltado ao campo dos processos psíquicos, ela só pode ser apreendida através das questões concretas e materiais da existência humana, o que afirma sua importância na consolidação da psicologia do trabalho, na qual os indivíduos são ativos no processo e sua experiência provém na vida "material".

Para (VIEIRA ET al 2007) não se trata de um sujeito abstrato, mas concreto, e o trabalho é entendido em seu sentido genérico, como expressão da relação do ser com a natureza, em sua dupla dimensão: transformar a natureza e, ao mesmo tempo, auto transformar-se, como ser que trabalha, por meio da relação com a cultura, da identificação com o grupo, da auto-realização e do sentimento de auto-estima. Em outras palavras, o trabalho se apresenta como elemento constituinte da essência humana, da experiência, do saber/aprender fazer de cada um.

Sem negar a importância de se considerar as características individuais, é necessário pensar, também, de que forma as exigências, condições e problemas concretos do trabalho se relacionam com "o modo de ser" de cada um. Em outras palavras, trata-se de entender a constante interação entre a subjetividade e a objetividade (LIMA, 2002).

Os profissionais da psicologia do trabalho podem atuar em diversas esferas, tais como: organizações, consultorias, órgãos públicos, etc. A sua atuação se revela importante tanto para os funcionários, como para as empresas, devido o aumento da rentabilidade proporcionada por um trabalhador satisfeito.

Para bem contemplar a práxis do psicólogo do trabalho é válido ressaltar que essa atuação deve ser um compromisso com o sujeito, a instituição e a humanidade percorrendo um caminho sistematizado e orientado pelo sistema ético profissional. Nesse sentido, o psicólogo deve buscar promover qualidade de vida no trabalho, bem como estar atento para entender por que o trabalho realizado na contemporaneidade, muitas vezes, não é fonte de prazer para os homens.

Para BASTOS (2007) significa pensar o trabalho como ação que modifica a natureza, mas que, ao mesmo tempo, produz sentido. A partir de uma teoria psíquica do sujeito, pensar o trabalho como categoria central no estudo dos processos psicossociais que causam impacto sobre os indivíduos e as organizações.

O psicólogo do trabalho deve se preocupar com a saúde organizacional como um todo, ou seja, pensar nos aspectos de produtividade e da qualidade, considerando o trabalho como categoria central e propondo-se em entender os fenômenos psicológicos que ocorrem na organização e na relação do homem com o trabalho. Nessa perspectiva, é importante que o profissional esclareça seu papel e sua importância para a saúde mental do trabalhador e para a saúde organizacional.

Uma questão de fôlego é investigar o homem na sua relação com o trabalho, o sentido subjetivo do trabalho para este homem e o papel da organização nisso. Fazê-lo como uma práxis ética é evitar reproduzir ideologias de dominação ou, qual avestruzes, enfiar nossas cabeças no areal da burocracia; dar conseqüências às nossas ações, analisar e interpretar a realidade de trabalho e, como agentes de mudanças, intervir, quando a organização do trabalho apresentar prejuízos individuais ou coletivos nos sistemas produtivos, reestruturados ou não BASTOS (2007).

Um modelo ético se preocupa em entender as transformações que ocorrem no âmbito organizacional e que fazem do sujeito um "homem objeto", que deve dar muito mais de si para atender as demandas que o mercado exige. A partir dessa visão, a ética da psicologia do trabalho tem a função de resgatar a subjetividade perdida e saber qual é a concepção do homem acerca do seu trabalho.

Sem negar a importância de considerar as características individuais, é necessário pensar, também, de que forma as exigências, condições e problemas concretos do trabalho se relacionam com "o modo de ser" de cada um. Em outras palavras, trata-se de entender a constante interação entre a subjetividade e a objetividade (Lima, 2002).

Nesse sentido, para evitar equívocos ou falhas éticas é imprescindível entender os paradoxos introduzidos pela própria instituição de trabalho, para que não hajam atribuições arbitrárias frente às atividades ligadas ao trabalho, ou injustiças com aqueles que o compõem.

Entender como ocorrem os fenômenos psicológicos no âmbito do trabalho e atuar para promover qualidade de vida, a partir de uma visão global do sujeito, tem sido uma tarefa árdua, e, como tal, têm exigido dos psicólogos do trabalho maior empenho e capacitação no que tange aos processos das organizações. Desse modo, a psicologia do trabalho tem a função de possibilitar um novo olhar para a subjetividade do trabalhador, mas levando em consideração os fatores objetivos que ocorrem nesse sistema, a fim de evitar a psicologização dos fenômenos ou reducionismos. Assim, devem ser consideradas as dimensões materiais, históricas e sociais que perpassam tal atividade. Nessa perspectiva, pode-se pensar em uma psicologia do trabalho que contribui, de fato, para abrir caminhos que lidem com esses impasses, uma vez inerentes ao próprio objeto de estudo.

Fonte: psicologia-organizacional/o-que-e-a-psicologia-do-trabalho" target="_blank">Psicologado