As Demências são classificadas pelo DSM-IV como um transtorno cognitivo, pois apresenta múltiplos déficits cognitivos (incluindo a memória, a linguagem e o intelecto) decorrentes dos efeitos fisiológicos de uma condição médica geral, dos efeitos de uma substância ou de múltiplas causas.

Pacientes com demência costumam exibir prejuízo da linguagem, reconhecimento, identificação de objetos e habilidades motoras. Os pacientes podem ter dificuldades para produzir as palavras apropriadas e para compreender frases abstratas, como provérbios. A demência é tipicamente crônica e ocorre na presença de um sensório íntegro.

Os déficits observados representam um declínio de um nível mais elevado de funcionamento e não são consequência de Delirium, embora um Delirium possa estar superposto a uma demência e ambos podem ser diagnosticados se a demência for observada quando o Delirium não está em evidência (KAY & TASMAN, 2000).

O rastreamento precoce da Demência não é tarefa fácil. O diagnóstico tende a ser feito por exclusão, depois que outras possibilidades foram descartadas. A discriminação entre Demência e mudanças pronunciadas provocadas pelo envelhecimento é complicado quando a Demência está em um estado inicial. O diagnóstico do tipo de Demência é igualmente complicado, pois diferentes tipos de Demência compartilham sintomas semelhantes.

Não existe um único teste psicológico que possa ser usado como padrão. A maioria dos testes neuropsicológicos usados são extensos, muito complicados, ou necessitam de treinamento especial dos aplicadores. O teste mais estudado no mundo todo tem sido o MMSE - Mine Exame do Estado Mental, mas seu desempenho é afetado por diversos fatores sócio-culturais.

O uso combinado de testes tem mostrado resultados promissores na melhora da precisão de rastreio da Demência, em especial a Demência leve. Os pesquisadores têm investigado tanto a combinação de dois testes cognitivos quanto a combinação de um teste cognitivo com uma escala funcional, os quais podem ser utilizados como complementares para o avaliação de pessoas com suspeita de Demência (BUTAMANTE, BOTTINO, et al., 2003).

Para o diagnóstico de Demência é necessário que seja observado déficits cognitivos, incluindo prejuízo da memória e pelo menos duas das seguintes anormalidades da cognição: afasia, agnosia apraxia ou um distúrbio da função executiva.

A afasia (perda da linguagem) ocorre frequentemente em demências vasculares. Na Afasia de Broca (afasia não fluente) o paciente tem dificuldades para falar, exibe pobreza de discurso, articulação inadequada e um padrão de discurso telegráfico. Na Afasia de Wernicke (afasia fluente) o paciente pode ser bastante verbal e articulado, mas grande parte da linguagem não faz sentido e está repleta de parafasias, como neologismos e associações ressonantes.

A agnosia (incapacidade de reconhecimento) geralmente é característica de lesões do hemisférios dominante e envolve uma alteração da percepção, que torna a pessoa incapaz de reconhecer objetos apesar de ele ser normal no que toca a sensação, intelecto e linguagem.

As formas de apraxia mais comum em pessoas demenciadas são a apraxia ideacional e a apraxia da marcha. A primeira forma é a incapacidade de realizar atividades motoras que exijam etapas sequenciais, e resulta de uma lesão envolvendo os dois lobos frontais ou todo o cérebro. A apraxia da marcha é a incapacidade de executar vários movimentos de ambulação, geralmente é observada em condições como hidrocefalia de pressão normal e também de condições que afetam o cérebro difusamente.

O prejuízo da função executiva é a incapacidade de pensar de forma abstrata, planejar, iniciar e completar comportamentos complexos.

Para o diagnóstico de demência é preciso analisar antes a possibilidade de um diagnóstico diferencial, pois o prejuízo de memória ocorre em diversas condições entre elas Delirium, Transtornos Amnésticos e Depressão. No Delirium a alteração na memória é agudo e o padrão tipicamente flutua (crescendo e diminuindo) com maior predisposição para confusão durante a noite. No Delirium há mais probabilidade de se darem hiperatividade autônoma e alterações do nível de consciência (KAY & TASMAN, 2000).

Pacientes com Depressão Maior frequentemente queixam-se de lapsos de memória e de discernimento, concentração insatisfatória e capacidade intelectual aparentemente diminuída, mas esses pacientes têm melhor percepção de sua disfunção cognitiva e tendem a apresentar também sintomas neurovegetativos de depressão. No Transtorno Amnéstico também há um significativo déficit de memória, porém sem as outras condições associadas (agnosia, afasia e apraxia). (KAY &TASMAN, 2000).

A Demência pode se manifestar em qualquer faixa etária. Mas a probabilidade de apresentá-la aumenta com a idade. A incidência de demência é de 1% até os 60 anos e depois dobra a cada cinco anos (2% até os 65 anos, 4% até os 70 anos, 16% até os 80 e 32% até os 85 anos). Depois dos 85 anos de idade as chances de manifestar a doença diminuem (STUART-HAMILTON, 2002).

Muitas podem ser as causas de uma demência. Doenças clínicas: transtornos endócrinos (hipotireoidismo, hipoparatireoidismo), condições metabólicas crônicas (hipocalcemia, hipoglicemia), deficiências nutricionais (tiamina, niacina, vitamina B12), lesões estruturais (tumores cerebrais, hematomas subdurais) e esclerose múltipla neoplasias (tumor cerebral primário, tumor cerebral metastático), tóxicos (álcool, venenos, medicamentos, inalantes, metais pesados), dentre outros.

Fonte: Psicologado