O aumento acentuado da frota automobilística nos últimos anos está saturando nossas ruas, avenidas, provocando enormes congestionamentos, tornando o tempo médio de deslocamento entre um ponto e outro de uma grande cidade cada vez maior, principalmente nos horários de pico, que são no início da manhã e final da tarde.

Segundo as estatísticas realizadas pelo DETRAN / PR ( 2006 ) a frota de veículos só na cidade de Curitiba aumentou 6,21% de 2005 para 2006 e estima-se que neste ano ela chegue a um milhão de veículos, concluindo que para cada dois habitantes um possui veículos.

Com o aumento da frota, causando congestionamentos, maior poluição sonora provocada por motores e buzinas, motoristas imprudentes e pedestres que não respeitam as regras de circulação, espera-se também o aumento de estresse e conseqüentemente o aumento dos índices de acidentes, provocados principalmente por falha humana, fazendo com que o comportamento agressivo de um motorista desencadeie a agressividade do outro, resultando num quadro caótico de motoristas mal-humorados, agredindo-se mutuamente , aumentando mais a violência urbana.

HENNESSY E WIESENTHAL ( 1997, citado por Presa, 2002 ), tem realizado estudos sobre o estresse, mensurando a predisposição ao mesmo e as reações dos motoristas ao passar pela experiência de condições de congestionamento no trânsito e encontraram uma grande variedade de comportamentos direto e indiretos provenientes dos motoristas em situações de grande congestionamentos, enfrentando também comportamento provocativo de outros motoristas ou pedestres, xingamentos, palavrões, ofensas morais, etc. Concluem que o estresse ao volante está se tornando uma síndrome típica em motoristas de grandes centros urbanos que usam o automóvel diariamente.

Para VASCONCELOS ( 1998 ), o trânsito é uma disputa pelo espaço físico , que reflete uma disputa pelo tempo e pelo acesso ao equipamentos urbanos – é uma negociação permanente do espaço, coletivo e conflituoso. E essa negociação, dadas as características de nossa sociedade, não se dá entre pessoas iguais: a disputa pelo espaço tem uma base ideológica e política; dependendo de como as pessoas se vêem na sociedade e de seu acesso real ao poder.


Nessa disputa pelos espaços surgem divergências de idéias, de valores, de cultura. E a negociação que deve ocorrer no trânsito nem sempre acontece. Os condutores ficam então, nervosos, ansiosos e estressados, traçando um caminho para a luta e a agressividade no trânsito.

De acordo com STORR ( 1970 ), não pode haver dúvida de que o homem também é um animal territorial. Mesmo em circunstâncias tão remotas do primitivo como na civilização ocidental contemporânea, a área rural é demarcada por cercas e tapume de varas ou ripas, muitas das quais exibem avisos dizendo que os "Invasores serão processados"; e o ingresso em nossas casas de pessoas não-autorizadas é tão ressentido quanto a perda de qualquer propriedade que elas possam esconder. A presença de um estranho no jardim geralmente é considerada como uma ameaça ou, pelo menos, como uma circunstância que exige investigação.

Como os outros animais, o homem também reage com maldade à superaglomeração. Embora, na civilização adiantada, o amontoamento de gente nas cidades não leve, forçosamente, à escassez de alimento, talvez existam traços de agressividade que outrora serviam para espaçar tanto os indivíduos como grupos de homens. Aqueles dentre nós que vivem em cidades aprendem a se acomodar, em certo grau, ao tipo de congestionamento que parece ser uma conseqüência inevitável da urbanização; as quanto mais amontoados ficamos, maior a facilidade com que tendemos ao ressentimento mútuo, favorecendo ao descontrole do impulso agressivo.

É verdade também que algumas pessoas se alteram com maior facilidade quando estão na direção de um veículo, muitas vezes elas nem estão totalmente conscientes dos fatores que estão gerando o seu estresse. Também é importante destacar que nem todo o tipo de estresse tem de ser necessariamente negativo para a condução, já que este pode ajudar, em alguns momentos, no estado de alerta e reação que se necessita para o manejo dos veículos ou para evitar um acidente. O estresse não é mais que uma resposta adaptativa do organismo a situações em que seja necessária uma tomada de decisão. Geralmente esta decisão envolve respostas vigorosas, rápidas e que tem por finalidade o retorno ao equilíbrio.

O cortisol é o hormônio do estresse e seus níveis aumentam e diminuem ao longo do dia, apresentando um pico pela manhã. Este hormônio tem um papel preponderante na regulação do metabolismo, da pressão arterial, da função cardiovascular e da atividade imunológica. O cortisol ajuda o organismo a responder ao estresse, mobilizando-o para uma atividade intensa. Quando produzido em níveis excessivos, em conseqüência do estresse crônico, sobrecarrega o sistema cardiovascular, o cérebro, o metabolismo e as demais funções corporais.

O motorista deve ficar alerta para o estresse crônico, o estresse de longo prazo ( os negativos; conseqüência de situações consideradas altamente estressantes, como por exemplo : a morte de um ser querido, mudança de emprego, divórcio, etc. ). Estes são geralmente geradores de maiores níveis de hostilidade e de comportamentos competitivos, manifestações de agressividade direta em relação a outros condutores aumentando a predisposição para uma condução imprudente , com tendência à tomada de decisões mais perigosas do que a habitual ou com menor valoração e percepção de risco.

Segundo os especialistas em Medicina de Tráfego ( ABRAMET 2002 ), o organismo tende a reagir ao estresse através de quatro estágios : alerta, resistência, exaustão e falência, causando sérias conseqüências físicas e emocionais. O organismo pode diante de uma situação estressante reagir "enviando mensagens" , de tensão muscular nos braços e cintura escapular, sensação de aperto no estômago, taquicardia, rubor facial, insônia, cefaléia, lombalgia, etc.

Assim ,caracterizando a fase de exaustão, e como não é possível modificar o trânsito, temos que aprender a conviver com situações estressantes durante a nossa vida, então, os especialistas em Medicina de Tráfego passam algumas recomendações para diminuir o estresse no trânsito:

- Saia com antecedência de casa;
- Procure caminhos alternativos, evitando grandes avenidas, de trânsito intenso;
- Quando tiver discussão, no trabalho ou em casa, evite sair de casa;
- Procure ouvir música calma e relaxante, em volume condizente, confortável, não ouça o noticiário do rádio. Começar o dia bombardeado por notícias deprimentes sobre corrupção e desvios de verbas é meio caminho andado para piorar seu estado de espírito.
- Deixe o ar condicionado ligado, mesmo com a janela um pouco aberta;
- Conte até dez antes de responder a insultos e fazer gestos obscenos, não descarregue sua ira nos outros. Procure ser mais tolerante com as barbeiragens dos outros motoristas, evite revidar, fechadas, xingar , respeite os pedestres, eles estão desprotegidos em relação a você.
- Faça exercício respiratórios, inspirando e expirando lentamente, "sinta o ar entrar e seus pulmões";
- Aproveite o trânsito parado para planejar seu fim de semana ou férias;
- Evite manter o pé fixo na embreagem e faça exercícios com os pés.

Procure ser solidário no trânsito.

Cassemira de F. da Maia Kopycki

Psicóloga Perita em Trânsito

REFERÊNCIAS

ABRAMET – Associação Brasileira de Medicina de Tráfego. Medicina de tráfego : 101 perguntas e resposta. 1.ed. São Paulo, 2002.

PRESA, Luís Alberto Passos. Mensuração da raiva em motoristas: STAXI, São Paulo: Vetor, 2002.

STORR, Anthony. A agressão humana. Tradução de Edmond Jorge. Zahar editores, Rio de Janeiro, 1970.

VASCONCELOS, E. O que é trânsito? 3.ed. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1998.

Fonte:psicologiaetransito.blogspot.com.br/" target="_blank"> psicologia do trânsito