Moreno é lembrado não só na área da psicologia como também em outros campos do conhecimento por sua vasta produção. Suas teorizaçoes podem ser assim resumidas: a socionomia, ciência das leis sociais, visa compreender a dinâmica complexa que envolve as interações humanas. Esse arcabouço teórico pode ainda ser dividido em três: a Sociometria, que se destina a estudar as características e a mensuração que se pode fazer acerca dos relacionamentos; a Sociodinâmica, que busca compreender o funcionamento e a dinâmica das relações interpessoais isoladas ou em grupo; e a Sociatria, que é a ciência dos sistemas sociais, abarcando o Psicodrama e o Sociodrama.

Sua contribuição mais significante é a respeito do desenvolvimento humano. Moreno concebe o desenvolvimento como algo que se inicia desde os primeiros momentos de vida da criança, em que essa assimilará mecanismos para suportar as frustrações e satisfações que a realidade oferece. Esse porto seguro em que a criança será guiada e orientada é chamado de matriz de identidade. Nesse sentido, seguindo processualmente o desenvolvimento, podemos elencar três fases da matriz de identidade: matriz total e indiferenciada ( as pessoas e objetos são vistos como pertencentes à própria criança e a não diferenciação realidade/fantasia); matriz total e diferenciada (a criança percebe objetos e pessoas atuando independente de si, atribuindo o mesmo grau de realidade seja para criações imaginarias ou reais.) e matriz da brecha entre realidade e fantasia (o mundo da realidade e da fantasia são claramente identificados e separados).

Para elucidar esse complexo processo de desenvolvimento, Moreno, sistematiza cinco etapas da formação na matriz e depois os resume em três fases: (1) fase da indiferenciação, em que a criança, a mãe e o mundo são percebidos como um só; (2) fase do reconhecimento do eu, momento em que a criança percebe o outro e começa a individualizar-se criando sua identidade como pessoa; (3) fase do reconhecimento do tu, a criança volta para si e percebe-se como ser independente, já conseguindo identificar suas sensações; (4) fase da tomada de papéis, percebe o outro e as influências que ele sofre devido suas ações, podendo assumir seu papel, mas jamais deixa o outro assumir o seu; (5) fase de inversão de papéis, neste momento a criança vive constantemente a troca de papeis permitindo que os outros assumam seu papel. Resumindo: (1) Fase do duplo – é o período de indiferenciação que a criança precisa de outro (ego-auxiliar) para fazer o que não consegue fazer sozinha; (2) fase do espelho – composta por dois movimentos, o de se concentrar em si mesma e esquecer o outro e o de focar no outro e esquecer-se de si mesma; (3) fase de inversão – primeiro a criança se permite assumir o lugar do outro parta depois inverter concomitantemente os papeis outro-eu / eu-outro.

Para que possamos compreender melhor essa ultima fase do desenvolvimento faz-se necessário que conheçamos a teoria de papéis de Moreno. Papel seria a menor partícula social em que se pode perceber a conduta do individuo, que diz da forma de funcionamento do sujeito em cada situação. Os papéis podem ser divididos em: psicossomáticos que ocorrem nas situações de dependência em que não há interação entre duas unidades pessoa-pessoa, sendo moldados pelo ego-auxiliar; os papéis sociais que se referem à interação social; e os papéis psicodramáticos que é a forma como o sujeito desempenha o papel social.

O desenvolvimento de um novo papel é um processo que se divide em três fases: o role-taking, role-playing e o role-creating. Esse percurso vai desde a imitação fiel, passando por testagem das formas de representar até chegar ao desempenho do papel de forma espontânea e criativa. Diante dessas constatações teóricas a respeito da matriz de identidade e dos papéis, Moreno, desenvolveu algumas técnicas psicoterápicas para ajudar as pessoas a saírem da estagnação e poderem desempenhar um papel aberto, com movimento e criatividade.

Referências

HALL, C; LINDZEY, G; CAMPBELL. Teorias da personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2006.

Autora: psicologia.com.br/colunista/15/" target="_blank">Stéfany Bruna