O que você quer ser quando crescer? Quais são os seus planos quando acabar a faculdade? Qual é a sua meta de vida? Quem nunca ouviu ou perguntou isso a alguém que atire a primeira pedra! Nós estamos acostumados a ter metas em todas as fases de nossas vidas, e nos comportamos (nem que seja por um breve período de tempo) de modo a atingir essas metas. O interessante aqui é notar que, no senso comum, as metas estão localizadas "em algum lugar do futuro" que ainda não existe.

Todos os comportamentos relativos às respostas a essas perguntas poderiam ser descritos pelo termo "comportamentos direcionados a metas" (goal-directed behavior). Comportamentos cuja "motivação" parece ser algo no futuro… Mas como algo que não aconteceu ainda, ou em outras palavras, que ainda não existe poderia determinar um evento presente? Como conciliar essa compreensão corriqueira com a compreensão da ciência do comportamento de que as causas do comportamento, ou seja, as variáveis que controlam os comportamentos devem preceder o comportamento a ser explicado?

Vamos recorrer à definição da psicologia cognitiva para analisar essa questão. De acordo com Burnstein e colaboradores (1998), "metas pessoais são representações cognitivas elaboradas do que a pessoa quer atingir ou evitar nas circunstâncias presentes em sua vida" (p. 494). Para a psicologia Cognitiva, portanto, metas são vistas como eventos mentais que representam propriedades do futuro, e esses eventos seriam responsáveis por influenciar o comportamento.

Vamos pensar um pouco… É possível tratarmos metas como representações de eventos futuros? O futuro, por definição, não tem características objetivas. Não é uma propriedade do ambiente externo. Como podemos então representar algo que não existe?

Voltemos à visão analítico-comportamental. Skinner vai dizer que o uso de palavras que sugiram ações prováveis, embora pareçam se referir ao futuro, estão, na verdade, se referindo a consequências passadas. Quando uma pessoa diz que está procurando os seus óculos, ela está, de fato, descrevendo as variáveis às quais esse comportamento é função. O que fica implícito na frase "estou procurado meus óculos" é algo do tipo: "quando eu perdi meus óculos no passado, eu fiz isso (procurei os óculos) e os encontrei". Assim, de acordo com Skinner (1953), "expressões envolvendo metas e intenções são abreviações".

Podemos retirar disso duas funções para o comportamento, quando falamos sobre metas. A primeira é que metas são utilizadas como abreviações, ou seja, se referem às consequências reforçadoras passadas de determinados comportamentos emitidos por uma pessoa; a segunda é que as metas denotam a descrição de uma consequência específica antecipada que encerra um evento comportamental. Essa explicação faz sentido quando a meta de um indivíduo tem relação com a história de vida dele. Mas e quando a meta de um indivíduo é algo não relacionado aos eventos cotidianos de sua vida, como querer "a paz mundial", por exemplo?

Esse questionamento nos leva ao conceito de comportamento governado por regras. Uma regra nada mais é que um conjunto de descrições verbais que especificam comportamento e consequência para esse comportamento. É o velho caso do "filho, não coloque a mão na tomada, senão você vai levar um choque". Quando alguém se comporta sob controle de regras, ela não precisa entrar em contato com as consequências de determinado comportamento para se comportar de certa forma. Não é preciso colocar a mão na tomada para saber que existe uma chance de levar um choque. Portanto, uma meta nada mais é do que um comportamento sob controle de um outro comportamento, a dizer, a declaração de uma meta (goal statement).

Isso esclarece uma questão, mas traz outra: como exatamente um comportamento verbal (a declaração de uma regra) pode controlar outro comportamento (seguir essa regra)? Infelizmente, Skinner não nos respondeu a essa questão, mas, atualmente, pesquisadores têm buscado formas de entender essa relação. O’Hora e Maglieri (2006), por exemplo, realizaram recentemente essa análise, incorporando princípios da teoria das molduras relacionais (RFT, em inglês) em busca de respostas a essa questão.

A RFT, em linhas gerais, sugere que o comportamento verbal é uma forma especial de responder a relações entre estímulos. Por meio dos comportamentos operantes, aprendemos a responder a contingências socialmente estabelecidas desde muito pequenos. O nome dado a essa habilidade, na RFT, é responder relacional arbitrariamente aplicado. Ele é arbitrário no sentido de que nós aprendemos a relacionar arbitrariamente eventos baseando-nos em dicas contextuais, e não somente nas características físicas dos eventos. Assim, se somos capazes de interagir com dicas contextuais de forma que possamos transformar a função dos estímulos, palavras ou gestos podem fornecer dicas que podem alterar o seus significados.

Imaginemos a seguinte situação: uma pessoa ouve a frase "carros alemães são melhores que carros franceses". Se o indivíduo que ouviu essa frase já dirigiu um carro francês, ele pode passar a considerar carros alemães como melhores, mesmo sem nunca ter tido contato com um carro alemão. Assim, da mesma maneira que um estímulo A pode ser considerado "melhor" que um estímulo B sem que o indivíduo tenha tido qualquer experiência direta com A, um estímulo ou evento pode ser visto como "algo que vem depois", mesmo que o indivíduo (logicamente) não tenha entrado em contato com o futuro. Assim, o que chamamos de evento futuro, ou meta, nada mais é, do que comportamento verbal emitido no presente. Desse modo, a RFT oferece uma análise de como comportamentos verbais, especificamente, a declaração de uma regra pode controlar o comportamento de determinado indivíduo.

Será que agora dá para entender por que aquela meta de "ir à academia todos os dias", "guardar certa quantia de dinheiro por mês para fazer aquela viagem", ou "só beber cerveja nos finais de semana" foi estabelecida, mesmo que você nunca tenha feito isso antes?!

Fonte: Boletim Behaviorista