Uma crença do passado sugeria que, quando o pedaço de umbigo do bebê caía, ele devia ser enterrado perto daquilo que a mãe gostaria que guiasse a criança. Por exemplo, ao depositar o umbigo perto de uma roseira, a criança seria linda. Próximo a um hospital, o filho se tornaria médico. Quando o faziam em frente a uma igreja, seria uma pessoa bem religiosa, e assim por diante.

E ainda havia a tradição de guardar o pedaço do cordão seco, tão logo ele se desprendesse. Isso porque no caso de doenças, como bronquite, um chá feito com este "ingrediente" seria um tratamento seguro e eficaz. Não se sabe se isso funcionava. Mas uma coisa é certa, ainda há muito o que se aprender a respeito do cordão umbilical.

Então, vamos lá: esse primeiro e tão importante elo entre mãe e filho mede menos de um metro. Isso mesmo, entre 50 e 60 cm. O cordão umbilical segue do umbigo fetal até a placenta, levando sangue, oxigênio, nutrientes e anticorpos para o feto, no sentido da placenta, e carrega gás carbônico, além de outras substâncias que precisam ser eliminadas.

Do que é feito esse cordão?

"Em condições habituais, o cordão umbilical é composto de duas artérias, que vão do feto para a placenta, uma veia, que faz o caminho contrário, e a chamada geleia de Wharton, substância gelatinosa e consistente que envolve os vasos", explica Roberto Cardoso, especialista em medicina fetal e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele diz que existem casos em que ocorre a involução de uma das artérias, ou seja, acaba ficando apenas uma delas. Mas o médico alerta que isso nem sempre traz problemas e é melhor não se alarmar, mas esta gravidez deve ser seguida com um pouco mais de cuidado.

Acidentes raros

Viviane Lopes, coordenadora de ultrassonografia e medicina fetal do Femme – Laboratório da Mulher (SP), informa que, eventualmente, nós podem ser formados no cordão que levam a acidentes de compressão, mas isso é raro. "Também pode acontecer que ele se enrole em uma parte qualquer do feto, como no pescoço. A isso damos o nome de circulares", diz. Mas o risco é mais baixo do que pensam as mães.

Os médicos revelam que se um obstetra for observado em um plantão público com uma ocorrência de dez partos normais, em dois ou três deles haverá a necessidade de retirar uma circular do pescoço do bebê no momento do nascimento.

Dessas, cerca de 77% são frouxas, sem maior risco "Nos casos de circulares mais apertadas, notam-se algumas desacelerações dos batimentos cardíacos, e então são tomadas medidas conforme sejam necessárias", esclarece Viviane. Mas a especialista adverte: essa característica é bem dinâmica, ou seja, podem ser vistas em um ultrassom e não estarem lá no momento do parto e vice-versa. Para avaliar eventuais problemas, o ultrassom é a melhor forma. Em alguns casos, como o de vasa prévia (quadro), há a opção de realizar um ultrassom transvaginal, com detecção de fluxo sanguíneo.

Cardoso acrescenta que os fatores de risco para anormalidades são o líquido aumentado (eleva a probabilidade de prolapso do cordão, quando ele precede o bebê durante o parto), assim como fetos transversos, quando estão em posição "atravessada" no útero. A placenta baixa eleva as chances de vasa prévia. O cordão longo favorece as múltiplas circulares. Gêmeos também têm mais problemas. "As mães devem confiar em seus obstetras, não se alarmar nem deixar de curtir a sua gravidez", indica o médico.

Quanto à cesariana, ela não é sempre uma solução preventiva. "É indicada por causa de circular pela reação que os pais apresentam diante da informação. Mas como dito, os riscos são bem menores do que se imagina", fala Viviane. Quando o problema é o cordão, raramente existe uma indicação para a cesárea, a não ser em situações emergenciais.

A QUESTÃO DAS CÉLULAS-TRONCO

No momento, as células-tronco em cordão são bem promissoras. "Apesar disso, ainda existe certa polêmica sobre a relação custo-benefício. Algumas doenças tratadas dessa forma se limitam a indivíduos com até cerca de 60 kg, pelo volume sanguíneo do cordão. Ou seja, essas células nem sempre poderão ser usadas para a vida toda", esclarece Cardoso. Ele conta ainda que a grande utilização atual é para o transplante de medula óssea, em situações como leucemia e linfoma, por exemplo. Futuramente, podem surgir outras indicações.

Fonte: UOL