A capacidade humana de criar arte não está ligada a uma única área do cérebro. Dependendo das emoções em jogo no momento, regiões distintas poderão ser acionadas, e em intensidades distintas. É o que sugere um estudo recente que analisou a atividade cerebral de pianistas de jazz.

No estudo, pianistas foram levados ao laboratório e convidados a improvisar, enquanto eram submetidos a exames de ressonância magnética. A título de inspiração para a sessão de improvisação, exibiam-se aos músicos duas imagens numa tela. A primeira mostrava uma jovem mulher com uma expressão positiva. Na segunda, a mulher aparecia com uma expressão séria. Para evitar vieses, porém, os estudiosos não usaram explicitamente palavras como "alegre" ou "triste" para se referir às imagens.

Estudos anteriores que monitoraram músicos, desenhistas e compositores mostraram que, no momento do ato criativo, havia uma diminuição da atividade elétrica no córtex pré-frontal dorsolateral (ou DLPFC, na sigla em inglês), que está associado a planejamento e tomada de decisões. O resultado parece ser uma diminuição da autocensura, facilitando a entrada num estado mental mais flexível.

No estudo, os exames de ressonância perceberam que a redução na atividade do DLPFC foi significativa apenas quando os pianistas tocavam observando a imagem mais positiva. Nas improvisações sob inspiração da foto de clima triste, houve maior ativação das regiões do cérebro associadas à recompensa, o que tende a reforçar comportamentos que gerem sensações positivas e a aumentar a conexão dessas regiões com o DLPFC. Não faria sentido, portanto, tentar explicar o fenômeno da criatividade humana, em termos cerebrais, apenas em função de um decréscimo de atividade do DLPFC.

Fonte: Instituto Ayrton Senna