Um conjunto recorrente de queixas de clientes em psicoterapia contém frases como "Ela não entende o que eu passo no meu trabalho", "Ninguém viu como eu fiquei triste com aquela conversa", "Parece que ele não percebe o quanto isso me magoa", "Ele só pensa no próprio umbigo". Será que empatia, sensibilidade e compreensão perderam espaço nos relacionamentos atuais?

No modelo de variação e seleção do comportamento proposto por Skinner, são apresentados três níveis de seleção do comportamento humano: filogenético, ontogenético e cultural. Cabe considerarmos dois deles para a reflexão de hoje: a seleção ontogenética refere-se à modelagem do comportamento pelas consequências produzidas por ele, ao longo da vida de um indivíduo; a seleção cultural aborda a manutenção de padrões de comportamento por meio da transmissão intergeracional.

Adotando este modelo, vamos tratar do tema sensibilidade ao outro como um conjunto de comportamentos que pode ser aprendido. Ufa! Então os relacionamentos têm salvação?

Para Skinner, pode-se falar de compreensão quando formos capazes de responder de forma apropriada à situação em curso. No caso da sensibilidade, então, diríamos que compreendemos o outro quando identificamos corretamente seus sentimentos e reagimos de maneira socialmente esperada a eles: vibramos junto com uma conquista de um amigo, prestamos nossa solidariedade diante de algum evento aversivo vivenciado por alguém, ficamos apreensivos diante da incerteza que um colega está vivendo.

Para conseguirmos isso, precisamos aprender a identificar o que se passa com o outro: ingrediente indispensável para esta receita ter seu sabor garantido! Primeiramente, a nossa comunidade nos ensina a nomearmos nossas próprias experiências sensoriais: dor, fome, sono, em seguida nossos sentimentos. Feito isso, estaremos aptos para, analogamente, conseguirmos perceber o que acontece com as pessoas à nossa volta.

Outro ingrediente de peso, que é transmitido pela nossa cultura (e que precisa continuar a ser feito!), é que o bem estar do outro precisa se tornar tão precioso para nós quanto o nosso próprio bem estar. Quando a satisfação e alegria do outro se tornam importantes para nós, bem como o alívio de suas dores e sofrimentos, cada um se torna mais predisposto a se comportar em situações que possam ter como efeitos a promoção de qualidade de vida do outro – e, apenas consequentemente, a nossa própria.

Sendo assim, o tempo que temos para aprender a considerar o outro é o nosso tempo de vida, e a ferramenta para tal aprendizado é o nosso grupo de convivência. O desafio está lançado!

Fonte: Comporte-se