Pode-se dizer que a paixão é uma exacerbação do amor, o seu aspecto doentio. Dominado por esta emoção, o Homem fica cego e passa a habitar um universo ilusório, regido pelas leis da irracionalidade. Ele se vê desprovido de sua personalidade e de sua identidade, pois seduzido pela influência que o outro exercita sobre ele, funde-se ao ser amado e torna-se incapaz de usar o dom da racionalidade.

Mas a paixão também tem sua face positiva, pois ela estimula a imaginação, a criatividade, a visão onírica, inspira artistas e é a responsável pela maior parte da produção estética humana. Ela é igualmente a primeira etapa de um relacionamento entre duas pessoas, pois precede o amor, que exige um conhecimento maior e mais profundo da pessoa amada. No primeiro momento, tudo que se sabe sobre o outro é o que está impresso em sua aparência, daí a paixão estar intimamente associada à atração física, ao desejo, aos impulsos sexuais. Por essa razão, muitas vezes, amor e sexo se confundem, porque nem todos sabem diferenciar este sentimento da passionalidade.

Os problemas aparecem quando um casal não consegue ultrapassar esta etapa inicial, mantendo o véu ilusório das idealizações, não vendo no outro senão aquilo que deseja encontrar em um parceiro, o que comumente se define como projeção. Ou seja, as pessoas geralmente projetam no outro as características que buscam no amor ideal, alimentado pela literatura e, mais recentemente, pelo cinema e pela televisão.

Muitos casais se unem baseados nestas idealizações, e tentam construir um casamento sólido em alicerces quiméricos. Mas a paixão não sobrevive ao cotidiano, e logo as máscaras caem, a realidade aparece e, se esta emoção não se converte em amor, o relacionamento se deteriora. Especialistas afirmam que esta condição passional dura no máximo cerca de quatro anos.

Infelizmente a paixão pode cegar, e assim gerar ciúmes doentios, frutos da insegurança, da baixa auto-estima, da falta de confiança em si mesmo, agravados pela sensação de que todos os sentimentos nutridos até então eram nada mais do que ilusões, uma vez que pertenciam ao âmbito da paixão, não do amor. Desta forma, esta emoção pode levar as pessoas a cometerem verdadeiras loucuras, até mesmo a destruírem o ser pretensamente amado. É assim que nascem os crimes passionais, pois o apaixonado acredita ter a posse do objeto de seus desejos.

Um casal deve buscar, portanto, a harmonia entre a paixão, primeiro sinal de um envolvimento amoroso, e o amor, sua etapa mais amadurecida, concreta, sólida. Sem a presença deste sentimento, a paixão se torna destrutiva, furiosa, primitiva e irracional, convertendo aquele que a cultiva em um ser solitário, alienado, deslocado do convívio social saudável. Os apaixonados em excesso se distanciam da própria realidade, e em dado momento não conseguem mais discernir o real e o imaginário, o certo e o errado. Eles optam por um caminho que cada vez mais se aparta da racionalidade.

Mas a paixão é sempre temporária, por mais intensa que seja, a não ser nos casos doentios, em que o indivíduo se torna obsessivo, compulsivo. Ela ocorre principalmente entre adolescentes, que ainda não detêm a experiência necessária para se precaver contra esta emoção, mas ninguém está imune a ela, seja qual for a sua faixa etária e o conhecimento dos caminhos do coração, pois qualquer um está sujeito ao fascínio exercido pela paixão. O importante é não permitir que ela se exacerbe a ponto de provocar cegueira e o enfraquecimento da vontade, o qual desvitaliza a mente e debilita a alma.

Fonte: psicologia/paixao/" target="_blank">InfoEscola