"Só é possível mudar as coisas se você focar no professor. Ele é altamente importante para o futuro do país". Essa é a visão da diretora do Curso de Formação de Professores da Harvard Graduate School of Education, Katherine Merseth. Ela esteve em São Paulo nesta quinta-feira (17), em evento no Instituto Singularidades, e apresentou ideias para melhorar a carreira de professores de forma a contribuir com a função transformadora das escolas.

Durante sua fala, Katherine defendeu a relevância do papel do professor como principal agente de mudanças na sociedade e que, para isso, ele deve também ter condições novas de atuação, o que implica alterações na formação e no desempenho da função. Segundo ela, que também é professora, não há modelo ideal para simplesmente ser replicado entre países – com duras críticas a políticas vigentes nos Estados Unidos pelo excesso de responsabilização aos professores, ela afirma que não indicaria que outros países replicassem algumas medidas, como política de bônus por desempenho – mas defende que há ideias para inspirar transformações.

"Ensinar não é algo mecânico e genérico, que se faz da mesma forma independentemente de quem sejam os indivíduos que estão na sua frente. Precisamos retomar o papel humano do professor, e sua interação com os alunos", afirmou Katherine. "O papel da escola é oferecer aos alunos as competências cognitivas e socioemocionais que eles vão precisar para seguir suas vidas de forma feliz e produtiva", defendeu.

As chamadas competências socioemocionais podem ser entendidas como o conjunto de competências que cada pessoa mobiliza para lidar com as próprias emoções, se relacionar com as outras pessoas e buscar objetivos na vida (como resiliência, determinação e abertura a coisas novas). Estudos indicam que, tanto quanto saber ler e calcular, essas competências possuem importante papel no alcance de realizações na escola e na vida, e também podem ser desenvolvidas em crianças, jovens e adultos.

Segundo Katherine, as escolas precisam observar o aluno como um todo, não apenas como alguém que recebe conteúdos, se quiserem cumprir sua função de melhorar a relação das pessoas consigo mesmas e melhor o bem-estar da sociedade. "Hoje, muitos países têm obsessão em medir resultados de desempenho, mas não podemos focar em apenas um critério. Nos últimos anos, tem havido mais interesse em iniciativas que desenvolvam o socioemocional e é importante auxiliar os professores para trabalharem esses aspectos também", disse.

Para a educadora, existem diversas formas de motivar e viabilizar caminhos para os professores desempenharem este papel e contribuírem para uma educação mais plena. Entre eles, o estímulo para que professores também sejam pesquisadores, e sigam buscando novos conhecimentos mesmo quando estão dando aulas em escolas. "Ensinar é pesquisar. Professores devem poder conhecer o funcionamento do cérebro, estudar o conteúdo que irão ensinar e ter sempre acesso a novas abordagens de ensino."

É fundamental, para isso, que os programas de ensino ofereçam oportunidades para os profissionais refletirem sobre sua prática, como espaços para formação continuada conectada com o dia a dia da sala de aula, ações de mentoria entre professores da mesma área do conhecimento e atividades integradas, como aprendizagem baseada em projetos, em que cada educador conheça o outro e possa atuar em colaboração, ao invés de apenas disciplinas isoladas.

Fonte: Instituto Ayrton Senna