Ainda que seja um desejo ancestral de toda mãe evitar que seus filhos sofram, tanto a frustração quanto o perder fazem parte da maturação emocional e cognitiva do Ser Humano. Apenas nesse processo é que se aprende, paulatinamente, a superar os danos causados por rompimentos de maior ou menor magnitude, reversíveis ou não, que ocorrem com todas as pessoas: mas essa é uma das lições mais difíceis em qualquer idade e que levamos a vida toda tentando assimilar e aceitar.

É comum vermos os pais se esforçando para proteger seus filhos e, às vezes, até com grande exagero, pois muitas são as pessoas adultas que têm dificuldades acentuadas de lidar com as próprias perdas. E como assistir o sofrimento dos que tanto amamos é imensamente doloroso, exemplos desse empenho são frequentemente vistos no dia a dia.

Os aprendizados que assimilamos, ao longo de nosso crescimento, sejam de que ordem forem, são de fundamental importância, não apenas para promover a aquisição de novos conhecimentos e comportamentos, mas também para nos preparar física, mental, emocional e socialmente, para nos tornarmos autônomos e capazes de vencer os revezes da vida com maior dignidade e equilíbrio, sem perder a autoestima e sem precisar adentrar ao mundo das compensações fáceis e, terrivelmente, perigosas na adolescência, principalmente.

Viver e crescer trazem, necessariamente, novos aprendizados: hoje, ninguém é igual ao que foi ontem ou será amanhã; perdemos pedaços de nós nas experiências diárias e vamos nos transformando para permanecermos fiéis a nós mesmos. Afinal, nosso cérebro não para nunca, e nas trocas com o ambiente é que aprendemos e mudamos. Seja perdendo ou ganhando, sempre estamos em um ciclo vital de transformação.

Mas é no câmbio de informações, com o mundo ao nosso redor, por meio da interação com as outras pessoas e situações mais ou menos favoráveis, enfrentando desafios e dificuldades de diferentes ordens, que aprendemos as duas lições mais singularmente difíceis: optar e perder. Fazer escolhas tem um significado especial para nós, humanos, pois somos dotados de raciocínio e consciência e, desde cedo, nos frustramos por perceber que de uma opção sempre decorrem inevitáveis danos.

Aprendemos, desde crianças, a pensar em termos de pequenas (ou grandes) compensações às frustrações, que, se não nos dão uma satisfação absoluta, ao menos nos permitem lidar, com menor sofrimento, com as situações adversas do dia a dia.

Quando falamos em perdas, logo nos vem à mente o luto. Mas nem sempre a morte, embora irreversível, constitui a maior de todas as dores. Perder pode ter significados múltiplos e diversos para as pessoas, conforme as situações vividas e as diferentes idades, já que as conotações culturais são, também, variadas.

As perdas sofridas durante a vida, especialmente ocorridas na infância, são, em geral, muito pontuais e, embora menos frequentes do que as que nos assolam mais tarde, são, de modo geral, abrangentes e marcam a pessoa por toda a vida. Ou seja, embora boa parte das perdas sofridas, no período inicial da vida, seja praticamente superável, a dor sentida nem sempre é esquecida ou superada facilmente, pois trata-se de uma época de elaboração, de crescimento pessoal e, desde a destruição de um brinquedo, a perda de um lugar privilegiado na família, assim como o fim do convívio com amiguinhos queridos, com um dos pais, ou um bicho de estimação, que morre, a mudança de escola, a repetência do ano letivo, tudo isso é vivenciado pelas crianças como algo novo que pode ser assustador.

Entretanto, se não houver um adulto com quem se vinculem bem e que lhes garanta segurança afetiva, mesmo as frustrações às pequenas expectativas das crianças, geralmente pouco embasadas na realidade, podem causar danos, por vezes irreparáveis. É claro que, se de um lado podemos procurar evitar prejuízos desnecessários, de outro, não os podemos suprimir totalmente, pois fazem parte do amadurecimento e fortalecimento pessoal para futuros e inevitáveis rompimentos, entre o desejo e a realidade da vida, e que sempre ocorrerão em maior ou menor número e intensidade.

O que os pequenos ganham com as perdas é uma lição para o futuro e esse aprendizado pode ocorrer na realidade diária, ou mesmo por meio de jogos e brincadeiras. Saber escolher, optar, perder e até ganhar constituem uma série de processos lentos de aprendizado, que, mesmo não ocorrendo apenas na escola, também dizem respeito a ela, pois facilitam a aquisição de conhecimentos acadêmicos, do momento que crianças mais seguras pensam com mais clareza e, assim, se dedicam melhor à aprendizagem formal.

Deixar os filhos vivenciarem seus lutos dentro dos limites que podem suportar, dando-lhes apoio emocional e acolhimento, é o melhor que se pode fazer diante de dois momentos inevitáveis da vida: aprender a optar e a perder. É dessa forma que os pais podem, realmente, auxiliar seus filhos a superar e enfrentar novos desafios: oferecendo apoio afetivo, mas tratando do assunto como uma forma natural de prática para a vida.

Fonte: Portal Ciência e Vida