Quando pensamos em psicopatia, logo nos vem à mente um sujeito com cara de mau, aparência descuidada, pinta de assassino e desvios comportamentais tão óbvios que poderíamos reconhecê-lo sem pestanejar. Esta imagem, entretanto, se trata de um grande equívoco! É o que comenta a psicóloga Maitê Hammoud neste artigo.
Embora não possuam empatia, representam muito bem, sendo extremamente sedutores e cativantes. Seu raciocínio é frio e calculista, combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos.
Além de psicopatas, eles também recebem outras denominações como: sociopatas, personalidades antissociais, personalidades psicopáticas, personalidades dissociais e personalidades amorais.
De onde vem a psicopatia?
A psicopatia é um transtorno de personalidade e a origem do termo significa literalmente doença da mente (do grego psyche = mente; e pathos = doença).
Os psicopatas não são considerados loucos nem apresentam algum tipo de desorientação. Em geral, são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício, possuindo níveis variados de gravidade: leve, moderado e grave.
São incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocarem no lugar do outro, sendo desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos.
Destituídos do senso de responsabilidade ética, jamais experimentarão a inquietude mental ou o menor sentimento de culpa ou remorso por desapontar, magoar, enganar ou até mesmo tirar a vida de alguém.
Sua parte racional e cognitiva é perfeita e íntegra, por isso sabem perfeitamente o que estão fazendo. Quanto aos sentimentos, porém, são absolutamente deficitários, pobres e ausentes de afeto.
Tais características os fazem livres de constrangimentos ou julgamentos morais internos. Por isso, podem fazer o que quiserem, de acordo com seus impulsos destrutivos.
15 características psicológicas e comportamentais dos psicopatas
Como qualquer transtorno psicológico, há uma série de características que ajudam a conformar a personalidade das pessoas que sofrem de psicopatia:
1. São espirituosos e muito bem articulados, com uma conversa divertida e agradável. Contam histórias inusitadas e demonstram conhecimento em diversas áreas, tais como filosofia, arte, literatura, sociologia, poesia, medicina, psiquiatria, psicologia, legislação, entre outros. Utilizam termos técnicos, passando credibilidade.
2. Possuem uma visão narcísica e supervalorizada de seus valores e importância.
3. Tem mania de grandeza e fascínio pelo poder e controle sobre os outros.
4. Demostram uma total e impressionante ausência de culpa em relação aos efeitos devastadores que suas atitudes provocam nas outras pessoas.
5. A empatia não é um sentimento capaz de ser experimentado por um psicopata. Pessoas são mero objetos ou coisas que devem ser usadas sempre que necessário, para seu próprio prazer e benefício. Caso possuam laços com alguns membros mais próximos, como familiares ou cônjuges, certamente é pelo sentimento de possessividade e não por amor genuíno.
6. Mentir, trapacear e manipular são talentos inatos.
7. Pobreza emocional, evidenciada pela limitada variedade e intensidade se seus sentimentos. São incapazes de sentir certos tipos de sentimento, como amor, a compaixão e o respeito pelo outro.
8. Impulsividade: visa sempre alcançar o prazer, a satisfação ou o alívio imediato em determinada situação, sem nenhum vestígio de culpa ou arrependimento. Busca sempre satisfação imediata dos seus próprios desejos, sem nenhuma preocupação com o futuro.
9. Autocontrole deficiente: possuem níveis de autocontrole extremamente reduzidos. São conhecidos como ''cabeça quente'' e ''pavio curto'' por sua tendência a responder às frustrações e às críticas com violência súbita, ameaças e desaforos. Eles facilmente se ofendem e se tornam violentos por trivialidades ou motivos banais. Apesar de a explosão de agressividade e a violência serem intensas, elas ocorrem em um curto espaço de tempo, após o qual os psicopatas voltam a se comportar como se nada tivesse ocorrido.
10. Necessidade de excitação: buscam situações que possam mantê-los em um estado permanente de alta excitação. Apreciam viver no limite. Nessa busca desenfreada, muitas vezes envolvem-se em situações ilegais, agressões físicas, brigas, desacatos a autoridades, direção perigosa, uso de drogas, promiscuidade sexual, etc. Frequentemente mudam de residência e emprego na busca de novas situações que os excitem.
11. Falta de responsabilidade: obrigações e compromissos não significam absolutamente nada. Sua incapacidade de serem responsáveis e confiáveis se estende para todas as áreas da sua vida.
12. Problemas comportamentais precoces: desde pequenos dão sinais de sua estrutura de personalidade, seja com atos cruéis contra animais ou praticando bullying nas escolas.
13. Comportamento transgressor: o comportamento transgressor e antissocial é uma constante na fase adulta. É incapaz de amar e nutrir o sentimento de empatia e jamais deixará de apresentar comportamentos antissociais; o que pode mudar é a forma de exercer suas atividades ilegais durante a vida (roubos, golpes, desvio de verba, estupro, sequestro, assassinato, etc).
14. Não são necessariamente assassinos: em geral, estão envolvidos em transgressões sociais, como tráfico de drogas, corrupção, roubos assaltos à mão armada, estelionatos, fraudes no sistema financeiro, agressões físicas, violência no trânsito, etc.
15. Desajustes em graus bem variáveis: alguns deles estudam com interesse, outros trabalham durante anos com sucesso, há aqueles que cometem delitos desde pequenos e ainda existem os que podem levar uma vida aparentemente integrada, mas, paralelamente, vivem executando crimes bárbaros.
Falando sobre causas e prevalência da psicopatia
A psicopatia está presente em cerca de 4% da população. Não existe um consenso sobre a origem dessa estrutura de personalidade, porém, alguns autores utilizam a palavra sociopata por acreditarem que fatores sociais desfavoráveis são a causa da estrutura. Já outras correntes acreditam em fatores genéticos, biológicos e psicológicos como possíveis envolvidos na origem do transtorno, adotando o termo psicopata.
Especialistas atrelam a origem do transtorno à incapacidade de sentir e não de agir de maneira correta. Isso porque o sistema límbico em nosso cérebro é responsável por todas as nossas emoções (alegria, medo, raiva, tristeza, etc.). É a interconexão entre a emoção (sistema límbico) e a razão (lobos pré-frontais) que determina as decisões e os comportamentos socialmente adequados.
Vale citar que várias pesquisas conseguiram demonstrar que pessoas sem nenhum traço psicopático revelaram intensa atividade na amígdala e no lobo frontal quando estimuladas a se imaginarem cometendo atos imorais ou perversos. No entanto, quando os mesmos testes foram realizados num grupo de psicopatas criminosos, os resultados apontaram para uma resposta débil nos mesmos circuitos.
Se considerarmos que a amigdala é o nosso ''coração cerebral'', podemos considerar que os psicopatas são seres humanos sem ''coração mental''. O cérebro deles é gelado, tornando-os incapazes de sentirem emoções positivas como amor, amizade, consideração, etc. Sua amígdala deixa de transmitir de maneira correta as informações para que o lobo frontal possa desencadear ações ou comportamentos adequados.
Chegam menos informações ao sistema afetivo/límbico para que o centro executivo do cérebro (lobo frontal), o qual, sem dados emocionais, prepara um comportamento lógico, racional, mas desprovido de afeto.
Podemos, então, concluir que a psicopatia apresenta dois elementos causais fundamentais: uma disfunção neurobiológica e o conjunto de influências sociais e educativas que o psicopata recebe ao longo da vida.
Evolução e tratamento da psicopatia
A psicopatia não tem cura, isso acontece por ser um transtorno de personalidade e não uma fase de alterações comportamentais momentâneas. Com raras exceções, as terapias biológicas (medicamentos) e as psicoterapias em geral se mostram ineficazes para a psicopatia.
Os psicopatas parecem estar inteiramente satisfeitos consigo mesmos e não apresentam constrangimentos morais nem sofrimentos emocionais, como depressão, ansiedade, culpas ou baixa autoestima, tornando-se impossível tratar um sofrimento inexistente. Porém, quando em grau leve e detectada ainda precocemente, a psicopatia pode, em alguns casos, ser modulada por meio de uma educação mais rigorosa.
Um ambiente familiar mais estruturado e com a vigilância constante em relação aos filhos ''problemáticos'' certamente não evita a psicopatia, mas pode inibir sua manifestação mais grave.
Fique atento a estes sinais em crianças e adolescentes para identificar a necessidade de ajuda de um psicólogo, tanto para receber orientações quanto para que seja estruturado um trabalho que possa ajudar a minimizar tais comportamentos e impedir que o quadro evolua:
- mentiras recorrentes;
- crueldade com animais, colegas ou irmãos;
- condutas desafiadoras às figuras de autoridade;
- impulsividade e irresponsabilidade;
- baixa tolerância à frustração, com irritabilidade ou ataques de fúria;
- tendência a culpar os outros pelos seus atos;
- preocupação excessiva com seus próprios interesses;
- insensibilidade ou frieza emocional;
- ausência de culpa ou remorso;
- falta de empatia;
- ausência de constrangimento ou remorso quando pegos mentindo ou em flagrante;
- dificuldade em manter amizades;
- violação às regras sociais (atos de vandalismo, destruição de propriedades alheias ou danos a patrimônios);
- participação em fraudes (falsificação de documentos), roubos ou assaltos;
- sexualidade exacerbada, podendo forçar relações sexuais;
- introdução precoce a drogas ou álcool.
Fonte: Mundo Psicólogos
Fonte da Imagem: Google