A época em que vivemos nos oferece tantas opções de prazer, diversão e distrações que mesmo sem a pressão social, que existe, já nos sentimos na obrigação de estarmos sempre alegres e leves.

Infelizmente ou não, essa não é a realidade. A tristeza faz parte de quem nós somos. Aliás, as quatro emoções básicas recebem esse nome por serem essenciais à nós e fazerem parte da experiência humana. Sem qualquer uma delas, nós seríamos menos diversos e nossas existências muito menos ricas.

Mesmo assim, lidar com a tristeza está longe de ser fácil. Por ser uma emoção que nos passa uma sensação de peso e por vezes mal-estar, queremos nos livrar dela e voltar para a alegria.

Como lidar com a tristeza? Será que ser alegre 100% do tempo é a solução? Será que isso é possível?

Sempre vejo confundirem ter equilíbrio emocional com ser alegre o tempo inteiro. Nada poderia estar mais longe da verdade.

Equilíbrio é distribuir de forma proporcional. É balancear a alegria, o medo, a raiva e sim, a tristeza – além de toda a enorme gama do que sentimos – de forma a viver uma experiência emocional rica e prazerosa.

Na construção do seu equilíbrio emocional, aprender a lidar com a tristeza é fundamental mas sei que pode ser muito difícil. Para te ajudar nisso, eu elaborei algumas dicas importantes para compartilhar com você.

Tristeza é diferente de depressão.

A tristeza é uma emoção normal e saudável, que faz parte de nossa vida. A depressão, por outro lado, é uma doença, com diversos sintomas definidos e que possui tratamento. A principal diferença entre a tristeza e a depressão, é que a depressão tira o prazer da vida e às perspectivas. Com isso, a pessoa em depressão lentamente vai perdendo a vontade de fazer suas atividades e de viver.

Se a sua tristeza vai gradativamente se aprofundando, tirando seu prazer na vida, e sua vontade de realizar mesmo as atividades mais simples, pode ser que na verdade você esteja desenvolvendo uma depressão. Busque apoio de profissionais qualificados.

Dê nome ao que você sente.

Você sabe o que você está sentindo? Um ‘tô triste’, pode esconder um mundo de sentimentos que você não está interpretando corretamente, e ajuda muito se você der nome a eles.

Pergunte-se ‘o que estou sentindo?’. Diga a si mesmo. ‘Estou triste, desanimado, decepcionado e com vontade de ver uma mudança’, por exemplo. Dedicar alguns momentos a se observar dessa forma e nomear o que você sente, ‘força’ seu cérebro a começar a modificar seu estado mental, ao se conscientizar de que ele é incômodo para você. Além disso, você pode lançar mão desse recurso em qualquer hora e lugar e ninguém precisa nem mesmo perceber.

Incrível, né?

Ouça a sua tristeza.

A tristeza tem tudo a ver com o passado e como o internalizamos, e uma de suas funções é trazer alguma informação à nossa consciência. Por isso, é muito importante observar o contexto de sua tristeza – em que situações ela ocorre e se há algum ‘gatilho’ que a gera com frequência e assim evitá-lo. E também, ficar atento para que informações sua tristeza disponibiliza para você. Veja algumas perguntas que podem te apoiar nisso:

O que você precisa soltar, deixar ir?
Você está tomando para si algo que não te pertence?
O que te faz mal ou não te serve mais?
O que você precisa mudar?
Que padrões de ações geram o seu padrão de problemas?
A quem você está entregando o seu poder pessoal?

Expresse-se.

A maior armadilha da tristeza – e uma das razões que pode levá-la a evoluir para algo mais sério – é nossa resistência em nos expressarmos. Seja falando, escrevendo, produzindo arte, se exercitando, seja como for, ter uma ‘válvula de escape’ através da qual você escoa tudo aquilo que você está com dificuldades de processar ou internalizar de forma confortável, é essencial para lidar com a tristeza de forma saudável e construtiva. Lembre-se a tristeza é, de certa forma, uma ferramenta da sua consciência, para te ajudar a processar algo e para usar essa ferramenta em seu poder máximo, você precisa proporcionar a si mesmo uma forma de deixar o excesso de sentimentos sair.

Falar é o jeito mais eficaz, para a maioria das pessoas. Simplesmente falar, tudo que vem à mente, sem filtro, e se esforçando para ouvir aquilo que se está dizendo.

Se você não tem quem possa te ouvir sem interrompê-lo e com atenção, grave a si mesmo falando, usando seu celular. Você ficará espantado com o bem que algo tão simples e incomum vai fazer a você.

A propósito, permitir-se chorar, ajuda muito também. Sem contraindicações.

Assuma a responsabilidade pelo que você sente.

Um movimento comum de nossa consciência é atribuir a ‘culpa’ do que sentimos a outras pessoas ou situações. ‘Estou triste porque meu chefe foi grosso comigo’, ‘estou chateado porque meu marido não entende meu lado’, ‘estou decepcionada com a dificuldade de arrumar um novo emprego’.

Sei que o nosso movimento quase natural quando qualquer coisa acontece é atribuir a alguém a responsabilidade por aquilo. No entanto, por mais que alguém possa ser responsável por nos fazer algo, somente nós somos responsáveis por aquilo que sentimos.

Imagina que você é um pintor, que passa o dia inteiro em outras atividades, e chega em casa à noite e separa algumas horas para a pintura. Durante o dia, muitas coisas acontecem: boas e ruins, agradáveis e desagradáveis. Você traz tudo isso consigo quando está de pé em frente a tela, com o pincel na mão. Mas você pode escolher o que vai transferir para a tela. Você não precisa, obrigatoriamente colocar tudo que vivenciou ali e nem precisa colocar da mesma forma como ‘recebeu’.

Somos os artistas de nossa experiência interna, e cabe a nós escolher como vamos traduzir o mundo externo na forma como nos sentimos. A responsabilidade por isso é de cada um, exclusivamente. Como já dizia Eleanor Roosevelt, muito sabiamente, ‘ninguém pode fazer você se sentir inferior sem o seu consentimento’.

Uma importante ferramenta para construir essa autorresponsabilização é sempre dizer ‘nesse momento, eu escolho…’, pois assim você está conscientemente assumindo a autoria do que você sente.

Entre em movimento

Em minha experiência, o que é mais eficaz para lidar com a tristeza é o movimento. A ação, pura e simples. A tristeza prolifera na inconsciência e na imobilidade. Ao estimular sua consciência sobre o que você sente e ao colocar-se em movimento, você começa a transformar seu estado interno imediatamente.

Você pode tomar um banho, sair para dar uma volta, dançar em seu quarto com fones de ouvido, ir ao cinema, conversar com um estranho e por aí vai. O essencial é quebrar o ciclo de imobilidade que te prende na inconsciência e se abrir para a mudança de estado interno.

Lembre-se, a tristeza em si não é um problema. Ela faz parte do equilíbrio emocional, que está no centro do seu bem-estar.

Ela começa a ser problemática quando você se torna uma vítima dela. Você não é seu corpo, nem sua mente, nem seus pensamentos. Você é o que está por trás – e no controle – de todo esse show.

Assuma seu lugar de autor e escreva aquilo que você quer para si, sabendo dar um basta em qualquer emoção ou sentimento quando você percebe que já não serve a você de forma produtiva.

Você tem todo o poder, assuma o controle!

Fonte do texto: O segredo

Fonte da imagem: Clube das Comadres