Quando um bebê chega a um lar os responsáveis tem uma tendência a deixar o ambiente mais infantil na intenção de que a criança tenha um ambiente confortável de acordo com seu tempo de vida. Decorações em paredes, brinquedos, chupetas e mamadeiras fazem parte desse cenário. Adultos também começam a conhecer desenhos infantis e todo o ambiente ganha aspectos diferentes. No entanto, especialistas alertam que a fala infantilizada pode interferir no desenvolvimento da criança.

Muitos adultos acham fofo a forma como os filhos respondem as palavras de forma errada e tendem a repetir da mesma forma que a criança disse. Geralmente, acontece muito as trocas das letras ‘r’ por ‘l’ nas palavras, "pepeta" ao invés de "chupeta", "tetê" no lugar da "mamadeira". Essas falas de forma infantilizada com um tom de voz terno e pronunciando palavras de forma incorreta, é um hábito conhecido mundialmente como "baby talk".


De acordo com a especialista em pareceres pedagógicos do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Rita Schane, no momento que a criança começa a se desenvolver melhor e estabelece vínculos com outras pessoas em espaços diferentes do seu habitual, a fala infantilizada pode prejudicar, inclusive, os seus relacionamentos. Nesse sentido, os pais devem discernir que, quando a criança está se apropriando da sua oralidade, eles devem passar a falar de forma correta, para que a criança faça uso do vocabulário de maneira adequada.

A psicóloga infantil Tauane Gehm destaca a importância do papel dos mais velhos nesse processo de desenvolvimento e diz o seguinte: "Conforme o bebê/criança cresce e seus recursos para lidar com o mundo se expandem, é importante que a fala do adulto acompanhe esse processo de amadurecimento e se torne compatível com o desenvolvimento da criança. Os adultos e as crianças mais velhas têm, inclusive, o papel de socializar o bebê, dando modelos e feedbacks relacionados a comportamentos linguísticos adequados à comunidade em que estão inseridos", esclarece.

De acordo com a psicóloga, pais que apresentam grandes dificuldades de lidar com o crescimento da criança, é possível que isso dificulte também o desenvolvimento infantil. Nesse aspecto, Tauane Gehm, salienta que pode ser interessante que esses pais disponha um tempo para olhar para si, perceber e nomear os sentimentos que estão sendo vivenciados e conversar sobre eles com pessoas que estejam passando pelo mesmo processo. Em certos casos, o "baby talk" é sintoma de uma família que tem dificuldades de lidar com o fato de que a criança está crescendo.

"Tal dificuldade familiar está frequentemente associada a prejuízos, para a criança, na construção da autoestima, da autoconfiança e da autonomia. Quando, por outro lado, a criança é empoderada no que se refere às suas capacidades de comunicação, observamos, com frequência, ganhos nessas esferas", sinaliza a psicóloga Tauane Gehm.

O problema nas falas infantis repetidas pelas crianças em que os responsáveis agem de forma positiva e até acham engraçado é que há a grande possibilidade da criança acreditar que agiu corretamente. Segundo a psicóloga pode acontecer uma falha na estimulação de formas mais adequadas de expressão linguística, ao mesmo tempo que um incentivo de formas inadequadas de expressão. Muitas vezes, essas maneiras inadequadas de expressão são mantidas porque as crianças aprendem, de forma não consciente, que pronunciar a palavra de forma errada vai gerar reações positivas de afeto em seus cuidadores.

A fala tem seu processo de desenvolvimento específico para cada criança, com ritmo e tempo distintos. Nesse caso, os pais não devem, imediatamente, se preocupar com a demora ou com erros ao longo do caminho. A pedagoga Rita Schane, explica que, mesmo quando a criança já está saindo da Educação Infantil com o repertório bem organizado, podem acontecer algumas trocas na hora da fala, como "plato" em vez de "prato", ou "vrido" em vez de "vidro". Segundo ela essas trocas na fala são naturais devido a construção e desenvolvimento da linguagem. "Esses erros são questões fonoaudiológicas que, muito provavelmente, serão corrigidos com o tempo", acrescenta.

Já a psicóloga Tauane Gehm destaca a importância de interagir com a criança de forma compatível com o repertório que ela é capaz de apresentar, valorizando suas conquistas e autonomia. "Em alguns casos, é salutar consultar também um profissional da saúde especializado, que pode ser um fonoaudiólogo, um psicólogo, ou mesmo o pediatra de referência. Isso será, sobretudo, importante caso a criança apresente dificuldades em relação à produção de alguns fonemas, ou se a fala infantilizada estiver acarretando sofrimento e/ou prejuízos sociais e emocionais", pondera.

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Fonte: Estadão

Imagem: Pixabay