Presenciamos na última semana um ato de racismo durante um jogo de futebol entre Barcelona e Villareal na Espanha, quando um torcedor do segundo time, para ofender o jogador brasileiro Daniel Silva, atirou uma banana ao campo. Esse tipo de provocação (que na verdade é um crime) começou a se tornar moda nos últimos dias em jogos europeus, mas o inesperado ato do jogador de comer a banana atirada atraiu a atenção da imprensa internacional sobre o tema: Em pouco tempo, vários jornais, estadistas e celebridades saíram em defesa do atleta em uma campanha contra o ato, se tornando inclusive um viral nas redes sociais. Dentro de dois dias a hashtag #SomosTodosMacacos virou moda somando-se a fotos de pessoas comendo bananas, com frases de repúdio de todo o tipo.

Todavia a internet é caracterizada por uma fluidez e velocidade de informações muito grande, e como um espaço de afirmação de opiniões de todos os tipos. Começaram também a circular mensagens do tipo "Não somos macacos, mas sim humanos", entre outras, todas como forma de afirmação de uma opinião contra o racismo, à uma maneira.

Analisando as postagens das redes sociais pude notar algo interessante: Havia uma confusão muito grande de termos, ideias e opiniões. Muitas pessoas se apressando em deixar a sua marca, incluindo-se em um movimento "da moda", com a bandeira do repúdio ao preconceito. E é aqui que nos convém entrar no assunto: Não há no senso comum uma diferenciação muito clara sobre RACISMO e PRECONCEITO, e talvez aqui seja necessário um ponto de vista mais técnico.

Afinal de contas, o que é preconceito? Preconceito é a formação de um conceito sem bases suficientes para extrair conclusões. É o mesmo que dizer: "Odeio todos os alemães" tendo conhecido apenas 2 ou 3 nativos daquele país, ou ainda dizer "Não gosto dos filmes de Russell Crowe" tendo assistido somente o seu último filme. Ou seja, o preconceito é uma forma de afirmar uma conclusão generalizada com base em poucos fatos ou quase nenhum, e geralmente existindo mais fatores emocionais nesta afirmação do que racionais. Pode representar um problema? DEPENDE! Isso porque, um preconceito pode ser verificável ou não! Um preconceito, por mais que seja embasado por poucas premissas racionais, pode ser real dependendo da situação, por exemplo: "Não gosto da música da Banda X", mesmo sem ter ouvido todas as músicas da banda, e as músicas realmente serem de baixa qualidade.

Um dos problemas do preconceito é a generalização sem o direito de resposta, de defesa. Dessa forma o preconceito ajuda as pessoas a "fecharem" questões sobre um assunto que deveria ou poderia ser mais bem discutido, estagnando-o e fazendo os envolvidos deixarem de produzir afetiva ou racionalmente. O preconceito também pode se apresentar de várias maneiras, e uma delas é o racismo.

Em relação a este: O racismo é uma forma de preconceito, porém este se apresenta de uma maneira nociva e com o objetivo de denegrir, destruir e segregar o diferente. E ele não acontece somente com pessoas de pele negra, pode acontecer com qualquer pessoa de qualquer cor. Tem o intuito de diferenciar "classes" de pessoas conforme a cor de sua pele. Porque não dizemos conforme sua raça? Simples! Não existem diferentes raças, existe a raça humana, que possui cores e tons de pele diferentes, e estes foram determinados pela evolução da espécie humana.

Dessa forma, o racismo é uma ferramenta social de segregação, de afirmação de poder de classes em detrimento do assujeitamento de outras. Por sua vez, o preconceito é uma ação natural do psiquismo humano e de sua organização, pois é impossível na atual sociedade do conhecimento, com sua complexa organização, saber de todas as coisas – muitas vezes a sociedade nos exige respostas prontas, rápidas e fomos preparados para sermos preconceituosos.

O que devemos fazer é nos educar para que nossos preconceitos não firam o nosso semelhante, não seja cruel, não seja a palavra final. Preconceitos podem ser ocupados para abrir reflexões sobre temas não antes pensados, mas devem ser fruto de constante autoanálise e escrutínio. Com base nestes dados, quem sabe não podemos usar os nossos preconceitos para refletir sobre o que existe dentro de nós que nos faz pensar desta forma?


Fonte: psicologia.com.br/colunista/13/" target="_blank">Colunista Murillo Rodrigues