Acredito que um dos temas mais importantes da psicologia é a comunicação. Mas não aquela comunicação da qual se ocupam os jornalistas ou letristas, mas sim aquela carregada de elementos psicológicos que resulta ou é resultada da interação entre duas pessoas dotadas de singularidade.

O papel da comunicação, cujo ápice de expressão é a linguagem, foi muito bem teorizada por Vigotski (2003) como mediadora da construção da realidade psicológica dos indivíduos. A linguagem é composta por signos que são social, histórica e culturalmente construídos de modo a facilitar a vida das pessoas em comunidade. São instrumentos utilizados para a modificação e criação do mundo. Quando dizemos que a comunicação tem o poder de mudar o mundo, isso se torna facilmente exemplificado ao pensar nos imperativos: A mãe do Joãozinho, nosso personagem fictício diz: "Vá tomar banho!" ao passo que, temendo o castigo materno, Joãozinho prontamente obedece. O interessante na cena é que a mãe de Joãozinho não precisou fazer nenhum tipo de força física para alterar a realidade de João, mas as suas palavras estava dotadas de uma força coercitiva tão grande que se materializou numa atitude rapidamente executada.

Neste sentido, a comunicação é muito importante porque expressa a subjetividade dos indivíduos uns para com os outros, e é o mecanismo pelo qual se pode acessar estes conteúdos.

Todavia esta comunicação pode se expressar de várias maneiras, e neste texto irei expor sobre as duas mais usuais na interação cotidiana entre seres humanos: O discurso e o diálogo.

O discurso é um conjunto lógico e ordenado de argumentos organizados para um fim, possui uma estrutura básica e está organizado em torno de crenças e pensamentos prévios. É previamente preparado para alcançar algum objetivo.

O diálogo por sua vez nasce da interação genuína entre duas pessoas, e cada uma de suas partes é definida pela interação com o outro. É um espaço de conversação onde as singularidades são apreendidas e respeitadas. No diálogo há um constante movimento de construção e desconstrução de ideias, e o mesmo é focado em uma postura mais aberta e receptiva.

O discurso está preocupado na afirmação de um ponto, seja ele qual for, tratando-se em última instância de uma afirmação de poder: Defender as minhas posições diante das posições de outros. O diálogo, por sua vez, está preocupado em compreender o lado oposto para através disto apreender novas ideias.

O problema com o discurso é que, quando extremamente inflexível, aprisiona as pessoas em uma configuração subjetiva (González Rey, 1997) fanática, adoecida, em um único ponto de vista. Sendo assim se torna muito fácil definir uma pessoa adoecida: Aquelas que não conseguem sair da estrutura discursiva preestabelecida, de modo a não verem as demais possibilidades existentes, gerando novos sentidos subjetivos para a sua vida (González Rey, 2005).

O diálogo por sua vez, compreende que, as contradições das posições opostas são importantes para enriquecer o debate e produzir novos sentidos subjetivos, e é neste constante movimento que se dá o desenvolvimento humano. Por isto é importante manter sempre uma postura ativa e reflexiva sobre os discursos que se nos colocam no dia a dia, não fixando-nos em uma única maneira de ver e fazer as coisas, pois este pode ser o limite entre o psicologicamente saudável e o patológico.


Referências

González Rey, F. L. (1997). Epistemología cualitativa y subjetividade. São Paulo: EDUC.

González Rey, F. L. (2005). Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico cultural. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.

Vigotski, L. S. (2003). Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes


Fonte: psicologia.com.br/colunista/13/" target="_blank">Colunista Murillo Rodrigues