O trabalho em grupo é uma aventura emocionante: Primeiro porque rompe com o paradigma individualista do trabalho psicoterapêutico e centra os esforços no grupo como um todo. Logicamente que a efetividade do trabalho em grupo dependerá em grande parte do preparo do terapeuta, mas o grupo em si é detentor de qualidades que o fazem adquirir "vida própria".

Neste sentido, o terapeuta deve ser apto para lidar com as diferentes situações e conflitos que surgem no grupo a todo momento: Conflitos de papéis, autoridade, gênero e sexualidade, situações projetivas e etc. Para isto ele deve "armar-se" de um arsenal de possibilidades de ação que deem conta desta diversidade.

Um dos momentos interessantes e possíveis de serem tratados em grupos é a questão das "máscaras". Em um momento muito interessante em que participei de um trabalho/treinamento em grupo, a terapeuta-professora entrou nesta questão, conceituando a máscara como "distorção da essência". Sabíamos por isto que a mesma falava desde uma perspectiva fenomenológica para ilustrar a cena, mas esta é uma interessante dinâmica que possui princípios que podem ser aplicados às várias abordagens de trabalho em grupo.

O terapeuta passa uma tarefa prévia para os participantes confeccionarem as suas máscaras em um material que possa ser levado para o grupo em um dia específico: Seja em papel, papelão, ou qualquer outra coisa. Detalhe - A máscara deve seguir algumas recomendações:

  • Como eu sou?
  • Como os outros me veem?
  • Como eu me idealizo?

No dia da dinâmica, com as máscaras nas mãos, as pessoas devem ser instigadas a passarem um tempo olhando para as máscaras e refletindo sobre o que ela significa em suas vidas, e qual o papel que elas desempenham. Após um tempo as pessoas são convidadas a colocarem as máscaras e olharem umas para as outras com suas respectivas máscaras. Em todo o tempo, o terapeuta, pausadamente, faz algumas pontuações sobre o trabalho com perguntas disparadoras: "Olhe para o seu colega e veja a máscara dele, o que ela desperta em você?", "Sinta-se usando esta sua máscara no dia a dia e veja para que ela serve", "Pense no que existe por trás desta máscaras". Depois de uns minutos, peça para as pessoas tirarem as máscaras e se observarem em silêncio, instigando-as para perceberem os seus sentimentos de olharem umas para as outras sem as máscaras.

Ao final do trabalho, faça um momento de reflexão: "O que esta atividade representou para o grupo?", e espere que os participantes se manifestem. LEMBRE-SE: Esta atividade é muito interessante para ser realizada em um grupo mais maduro, coeso e que suporte com amor o feedback das outras pessoas. Grupos não muito maduros, que não tenham muita coesão ou afinidade podem reagir negativamente à esta atividade.

Outra coisa importante sobre isto: O mais importante nesta atividade não é ela em si, mas a reflexão que ela gera. Qualquer leigo pode realizar este trabalho simples, mas somente um psicólogo bem treinado e com sua sensibilidade voltada para as necessidades do grupo poderá manejá-la de forma terapêutica. A questão que aqui coloco é que, quase todas atividades desempenhadas em um grupo podem ser terapêuticas, dependendo da ética, cuidado e critérios com os quais ela é conduzida. O que importa para o psicólogo, neste sentido, é a criatividade e a maneira sensível com a qual ele as executa.

Fonte: psicologia.com.br/colunista/13/" target="_blank">Colunista Murillo Rodrigues