Em algum lugar de nossa graduação em psicologia vamos nos deparar com a palavra "epistemologia", e devemos saber o que esta significa, afinal de contas, um curso mais sério irá esmiuçar este termo e as suas implicações para a nossa ciência. O fato é que, não se faz psicologia sem uma Epistemologia, aliás, não faz nenhuma ciência sem epistemologia! Simplesmente pelo fato de esta ser a "ciência" que valida e embasa a ciência!

Ora, mas o que é epistemologia, afinal de contas?! Epistemologia é o ramo do saber filosófico que se ocupa da validação, estruturação e sustentação do conhecimento de uma maneira lógico racional. No sentido amplo da palavra, é uma ciência, na medida em que se ocupa de uma determinada parte da realidade para explicá-la, usando de uma série de métodos para isso.

Por isso, podemos definir a força de uma teoria observando o tripé de sustentação filosófica da mesma: A epistemologia (ciência da validação do conhecimento), metodologia (ciência dos meios para alcançar o conhecimento) e ontologia (ciência da essência do conhecimento). Basicamente, estas três respondem a algumas das perguntas básicas do conhecimento: O quê (Ontologia), como (metodologia) e porquê (epistemologia).

Por isso, toda teoria em psicologia deve ter bem estabelecidas estas três bases: Este é um ponto crucial de encontro entre a Filosofia e a psicologia, na medida em que a segunda deve se preocupar muito com a primeira para validar-se, devido à sua natureza bastante contraditória, afinal de contas, existem várias correntes teóricas que dizem diferentes coisas sobre diferentes objetos, e todas reclamam para si o título de psicologia. Isso explica porque existem tantas abordagens na psicologia – A psicanálise não possui a mesma epistemologia, ontologia nem metodologia do behaviorismo, assim como a Gestalt não possui a mesma do Psicodrama.

Este é um tipo de discussão importante para a psicologia, e que por muitas vezes tem sido desprezada nas universidades e pesquisas na atualidade. Temos produzido uma psicologia muito focada em produzir e produzir, mas sem a devida preocupação com as suas "origens". Esta é a lógica do produtivismo que emboca no tecnologismo.

Emprego o termo "Tecnologismo" fazendo referência à produção de conhecimento sem a devida reflexão epistemológica, metodológica e ontológica.

Assim, posso dizer que a Epistemologia é a responsável por dizer se o que sabemos é válido ou não, na medida em que se guia por distintos pressupostos lógicos para verificar se um conhecimento é real ou fictício. Neste sentido, foram se formando desde a metade do século XIX várias escolas de pensamento que deram forma ao que hoje conhecemos como ciência. A primeira escola epistemológica da modernidade, se assim podemos chamá-la, foi o Positivismo, cuja autoria se atribui à August Comte (1798-1857), embasada nas teorias mecanicistas, empiristas, deterministas e reducionistas, dentre outras. Posteriormente foram surgindo outras alternativas à este pensamento, como o pensamento Fenomenológico, sintetizado por Edmund Husserl (1859-1938), e o pensamento Marxista, sintetizado por Karl Marx (1818-1883) – Destas linhas de pensamento (e de outras também), surgiram diversas teorias que possuíam seus métodos e objetos de estudos particulares e diferentes.

Assim sendo, a Epistemologia, é um ramo da filosofia é necessário para a psicologia, na medida em que a última se serve da primeira para afirmar sua identidade enquanto conjunto de saberes científicos.

Mas, com tantas epistemologias já presentes em nossa ciência, devemos continuar estudante e nos preocupando com este tema? Sim, é claro, pois somente voltando os olhos para onde viemos é que poderemos traçar melhores caminhos para onde vamos, pois sem o conhecimento adequado de nossas bases, estaremos fadados a desenvolver teorias mancas ou deficientes, de modo que as mesmas não se sustentarão. Por isso, devemos sim nos preocupar e estudar com dedicação os temas epistemológicos nas nossas matrizes de pensamento, para continuar progredindo e manter nossa ciência viva e eficaz.

Fonte psicologia.com.br/colunista/13/" target="_blank">Colunista Murillo Rodrigues