Esta é uma pergunta interessante para que possamos pensar a nossa própria prática no que se refere à motivações profissionais. A psicologia é, além de uma ciência, uma profissão, e por isso o psicólogo deve se sustentar dela... sim, psicólogo não faz caridade, não dá conselhos e muito menos é confessor de ninguém, mas é alguém que se sustenta com a sua atividade.

E feliz ou infelizmente, psicologia não é uma ciência que se ofereça "amostra grátis": ou se escuta, ou se não escuta; ou se analisa, ou não se analisa; ou é terapia, ou não é terapia! Ora, mas falo isso também voltado para o aspecto da psicologia clínica, e gostaria de lembrar que existem muitas outras áreas de atuação do psicólogo.

Mas ao que parece, a figura do divã ainda seduz muito os jovens calouros, com a sensação de poder que aquela postura gera, ou com um pouco de prestígio social que a posição de psicólogo pode gerar, afinal de contas, por mais que andemos desacreditados por alguns setores da sociedade, em quase qualquer lugar que vamos as pessoas querem saber a nossa opinião sobre quase qualquer tipo de coisa.

Alguns entram na psicologia seduzidos por esta imagem do "poder" de conduzir a vida de outra pessoa, ou mesmo pela ideia da clínica psicanalítica (que é confundida com as várias outras clínicas psicológicas); Outros são seduzidos pela ideia de serem "médicos da alma" (sendo que esta concepção está muito atrelada à um tipo de ética alheio à ciência psicológica); Outros entram na faculdade de psicologia porque não conseguiram a vaga no curso de medicina, e esta foi a sua segunda opção; Existem ainda os que não tem algumas questões bem resolvidas e vão procurar em uma graduação de psicologia o que encontrariam de maneira mais fácil e barata na terapia; Há os que se identificaram com a psicologia por não ter que fazer contas matemáticas (coitados, ainda terão aulas de estatística); há os que entram porque se identificaram com os psicólogos dos programas de televisão (ainda não sabendo que não há tanto glamour ou Hollywood na profissão); e há os que juram que estão na psicologia por vocação humanitária, afinal, querem muito ajudar as pessoas (mas o que eu me pergunto é, de tantas maneiras de ajudar as pessoas, porque logo a psicologia?);... enfim, há inúmeros outros motivos!

O mais interessante é que, independentemente do motivo pelo qual as pessoas escolhem fazer psicologia, alguns dos quais só poderão ser descobertos depois de uma análise profunda, os motivos mais importantes são os pelos quais a pessoa decide permanecer na mesma: uma ciência de considerável nível de complicação teórica e prática, de instabilidade financeira (em grande parte das vezes), de desvalorização salarial e de complicada inserção no mercado de trabalho.

A questão é que a psicologia, na maioria das vezes possui um mecanismo de ação semelhante ao de uma paixão: vagarosamente toma conta de nossas mentes e corações ao ponto de nos reconhecermos com seres completamente envolvidos em suas "garras". O fato é que, diante de tudo isto, pelo o que escolhemos ou pelo que permanecemos, devemos tratar de nos investigar para saber se estamos executando da maneira mais ética possível nosso trabalho e de pensar em como podemos auxiliar no desenvolvimento pessoal ou social.

É assim em muitas vezes em um relacionamento, e não acredito que deva ser diferente em nosso relacionamento com a psicologia: muitas vezes não importam os motivos pelos quais nos apaixonamos (às vezes eles estão bem ocultos de nós), mas os motivos pelos quais permanecemos.

E você, já se perguntou, porque escolheu a psicologia para a sua vida?

Imagem: Extraída do Google Imagens

Autor: psicologia.com.br/colunista/13/" target="_blank">Colunista Murillo Rodrigues