Na última década vimos surgir diversas séries de TV, especialmente nos Estados Unidos, em que há a presença de psicólogos ou personagens com conhecimentos de psicologia que trabalham investigando crimes, suspeitos, levantando perfis de serial killers, ou seja, trabalhando no que podemos chamar de psicologia criminal.

Desde a época do CSI, entretanto, sabemos que este tipo de série é bem distante da realidade. Pessoas que trabalham nestes setores nos Estados Unidos dizem que os recursos disponíveis para os personagens da série não estão disponíveis para eles. Além dos recursos, podemos imaginar que muitos outros detalhes estão distantes do dia a dia da profissão. Então, imagine em nosso país!

Aqui, sabemos que o caminho para investigar crimes não está ligado a fazer a faculdade de psicologia. Para ser um detetive ou um delegado, por exemplo, uma faculdade mais próxima é a faculdade de direito. E faz todo o sentido porque é preciso conhecer a lei para investigar o que está fora da lei, assim como o conhecimento legal permitirá com que o profissional não a extrapole, ainda que tenha intenções supostamente positivas.

Mas o que dizer da psicologia jurídica ou psicologia forense? Não existe?

psicologia jurídica: uma especialização da psicologia no Brasil

A área de interseção entre psicologia e direito é a psicologia jurídica. Em outros países, ouvimos falar de psicologia forense ou mesmo psicologia criminal. Em tese, o nome não importa tanto, desde que conheçamos o que faz de verdade o psicólogo nesta linha de atuação.

Mas não faz sentido dizermos que a atuação da psicologia em nosso país exclui de todo a relação com a justiça e com as leis. Entretanto, é preciso salientar – e salientar bastante – que o que o psicólogo ou a psicóloga faz de segunda a sexta como psicóloga jurídica será muito diferente de séries como CSI, Criminal Minds, Lie to Me e etc.

Para dar uma ideia mais precisa, o trabalho vai estar mais ligado à atuação na área cível. Por exemplo, avaliar se uma criança está sendo maltratada, se é mais adequado que fique com o pai ou com a mãe ou ajudar na conciliação de conflitos, como na separação de casais ou disputas entre herdeiros. O nome a ser pesquisado para maiores informações é mediação de conflitos.

Além do campo de atuação ligado à família também pode existir a demanda por laudos e perícias, ou seja, o que envolve a avaliação de perfis e personalidades.

A avaliação de suspeitos

Como qualquer um sabe, apesar de sermos um dos países mais ricos do mundo (somos a 7° economia mais rica!), existe um problema de alocação de recursos em diversos setores por parte do governo. Isto se reflete nas estatísticas: "Por ano, são mais de 50 mil mortes no país. E os casos em que os assassinos são punidos não chegam sequer a 8%" (Fonte: Jornal O Globo). De modo que 90% dos crimes acaba sem solução.

Se é deste modo a realidade atual, é ingenuidade achar que o governo contrataria uma rede de psicólogos para ir atrás de possíveis suspeitos, fazer testes e avaliações aprofundadas. Além disso, a maioria dos crimes não necessitaria de uma investigação de personalidade apurado (o que levaria a um diagnóstico psicopatológico que, em última análise, seria utilizado para averiguar se a pessoa é passível de pena ou não).

Digo que não necessitaria porque a maior parte dos crimes se resume a duas situações:

– dinheiro;

– crimes passionais.

E esta asserção não é apenas aqui e apenas agora. Por isso, existem dois lemas de investigação que são: "Follow the money" (siga o dinheiro) e "cherchez la femme" (procure a mulher), ou seja, ao seguir a rota do dinheiro ou buscar as causas monetárias é possível solucionar uma parte dos crimes. Por exemplo, assassinatos em que o assassino estava interessado em se apropriar dos bens do assassinado. E, ao procurar a mulher – ou o homem – a polícia investiga os relacionamentos afetivos, amorosos e sexuais para descobrir motivações ligadas a estes comportamentos como ciúmes, vingança, etc.

Além destes dois tipos de situações, também existem os casos ligados à doenças mentais como o sujeito que está passando por um surto psicótico e mata a família. A motivação não é por dinheiro ou por paixões e sim pela doença mental subjacente.

Isto posto, devemos imaginar que toda a rede jurídica composta por juízes, advogados, delegados e outros profissionais precisaria dos serviços de um profissional da psicologia quando?

Voltamos à área da família, ao responder, mais do que a área criminal propriamente dita. Um juiz pode pedir que uma criança de 6 anos seja avaliada se sofreu ou não abuso ou se uma pessoa não está lúcida e deve ser interditada. Acontece de em casos de juri popular uma avaliação seja pedida. Porém, devemos nos lembrar que também existe a psiquiatria forense e, portanto, um psiquiatra talvez ocupe o lugar.

As séries de TV que retratam os profissionais com conhecimentos de psicologia ou psicólogos atuando na investigação de crimes não são verossímeis. Além de retratarem uma realidade de outros países (e serem fictícias até se compararmos a realidade lá com a série), em nosso país a realidade é ainda outra no que tange à investigação, como vimos.

Por isso, ao escolher uma faculdade e uma profissão, temos que sair da imaginação e investigar o dia a dia da carreira. Apesar de ser uma área bem remunerada na psicologia, a psicologia jurídica não é um campo de atuação muito vasto. Em outras palavras, não existem tantas vagas em concursos quanto se poderia querer ou esperar.

Fonte: psicologiamsn.com/2015/06/psicologia-criminal-fazer-psicologia-para-investigar-crimes.html" target="_blank">psicologia MSN