A Gestalt-terapia é uma abordagem Humanista, Existencial-Fenomenológica, ou seja, sua visão de homem é permeada por estas três filosofias. Sendo assim, é de acordo com essa visão de homem que o Gestalt-Terapeuta se coloca diante do seu paciente e diante da sua própria vida. Neste pequeno artigo, então, pretendo abordar o Humanismo e o Existencialismo, não com o objetivo do aprofundamento do tema, mas sim buscando possibilitar uma visão sobre qual o sentido destas filosofias para a prática do Gestalt-Terapeuta.

O Humanismo acredita que existe na pessoa um potencial que ultrapassa sua existência, é um impulso para o crescimento, para o processo de individualização em que o homem é responsável pela sua atualização. É uma concepção do mundo e da existência, cuja questão central é o Homem. Podemos dizer que o Humanismo torna o homem mais verdadeiramente humano.

Na prática terapêutica, é preciso entender o homem como um ser inteiro, como um todo, lidando com o que ele sente, pensa e faz, pois o Homem se põe por inteiro no processo psicoterápico. O terapeuta deve valorizar o Homem, o seu potencial, acreditar que o paciente é capaz de encontrar a si mesmo, de conhecer-se cada vez mais e despertar no paciente seu impulso para o crescimento que às vezes pode estar adormecido. Acho importante parar um pouco aqui e refletir: Qual é a minha visão de mundo? Como eu olho para o ser humano? Esses questionamentos nos levam a uma reflexão sobre o nosso olhar para a humanidade, para o homem, e são importantes pois tudo o que foi abordado acima só será possível na prática clínica se também for verdade, se também for vivido pelo Gestalt-Terapeuta.[p][p]"É a postura humanística que, sem esquecer os limites pessoais, os fracassos e impossibilidades de mudanças, aqui e agora, procura fazer uma reflexão a partir do positivo, do criativo, do que é ainda potencialmente transformador; enfim, daquilo que, talvez sem o perceber, o paciente tem à sua disposição, como principal e, às vezes, única porta de saída para sua recuperação e renascimento. (RIBEIRO, 1985, p. 30)

A Gestalt-Terapia também se apresenta como uma filosofia existencial, uma arte de viver, uma forma singular de olhar as relações. Para o Existencialismo e para a Gestalt, o homem é um conjunto de possibilidades que pode se atualizar, se realizar durante sua existência, tendo liberdade para realizar suas escolhas, sendo estas vividas com angústia e inquietação.

Em todo ato humano há uma intenção, onde a vontade e a liberdade de cada um estão presentes. Deste modo, pode-se dizer que a pessoa é responsável pelo que ela é nesse mundo, possuindo a capacidade de escolher seu caminho, assim como de responsabilizar-se pelo mesmo. O homem enquanto ser que existe, é um ser de opção, podendo definir o que pretende ser. O homem é um conjunto de possibilidades que vai se atualizando no decorrer de sua existência. Ele é livre para escolher entre muitas possibilidades, e, como dito acima, a sua escolha é vivenciada com inquietação e angústia, pois seu existir não lhe permite escolher tudo – cada escolha implica a renúncia de muitas outras possibilidades, implica em ganhar e também, em perder. Negar a liberdade é fugir da angústia da escolha, e achar o repouso e a segurança na confortável ilusão de que "eu não sou responsável pelas coisas que me acontecem", tornando-se, desta maneira, um agente passivo da natureza. Pare e pense um pouco sobre o seu dia hoje: quantas escolhas você já fez? Escolheu levantar da cama, escolheu escovar os dentes, escolheu tomar leite ao invés de café, escolheu pentear o cabelo, etc. A todo o momento estamos fazendo escolhas em nossas vidas, e é preciso estarmos conscientes delas. Até o fato de não escolhermos também implica numa escolha: "você escolheu não escolher".

Para o existencialismo, a vida é um projeto inacabado, que depende de cada um e por isso é fundamental assumir a responsabilidade sobre ela. Através da sua liberdade, das suas responsabilidades e das suas escolhas, a pessoa pode ir assumindo sua verdadeira essência, numa postura autêntica consigo e com o mundo. É importante ressaltar que a liberdade, ou seja, nossa capacidade de decidirmos sobre nossas vidas, segundo o existenciliasmo, não diz respeito a uma liberdade absoluta, mas sim a uma liberdade responsável. Isso porque vivemos em sociedade e como todo grupo existem normas e regras que o regem.

Fonte: GESTALT EM MOVIMENTO