O ditado, que é também título desse texto, quer dizer que se a cabeça está bem, o corpo também estará. Saudáveis, ambos estão mais bem preparados para trabalhar e, no caso da criança, brincar e estudar. Porque estudar precisa de concentração, precisa de calma, organização e paz. Sim, precisa de paz. E pensando nos inúmeros benefícios que práticas de ioga e meditação têm já comprovadas, um número já considerável de escolas têm introduzido ambas em sua grade escolar. E estamos falando de escolas públicas e particulares. Já são 12 só na cidade de Vitória (ES) por incentivo de um programa do governo. Em São Paulo, a Centro de Apoio O Visconde a prática de ioga ocorre desde 2014. Segundo a ONG Mente Viva, a meditação já é ensinada em 194 escolas brasileiras.
Algo muito bacana e importante se observarmos o contexto de educação no país e a precariedade de muitas das escolas públicas. Há esperança.
E de olhos fechados, pernas cruzadas, muito silêncio e concentração, crianças e adolescentes têm demonstrado muito interesse pelas aulas de ioga e meditação, que intercalam as tradicionais de português, matemática, física e química. É um tempo em que as crianças param, ficam quietinhas, respiram com calma, e até descansam. Fogem do estresse diário de agendas superlotadas, aulas extras, pressão por desempenho e as outras muitas exigências que se faz da infância. Os benefícios são muitos e poder aliviar um pouco a carga é de grande valia. Todos já comprovados pela ciência como a melhora na oxigenação do cérebro e o aumento da circulação sanguínea. Sem falar na melhora da socialização, da autoestima, coordenação motora e flexibilidade. Até para lidar com problemas e desconfortos emocionais. E que bacana ver muita escola preocupada em melhorar a relação aluno-professor. Ambos são beneficiados. Tem também a qualidade de vida escolar da criança que dá um salto. Não necessariamente em notas, mas em aproveitamento e aprendizado. Obviamente, que todo esse ensinamento ainda deixa um legado a vida adulta destas crianças. Julia Delibero, mãe do Pedro de cinco anos, que estuda na Escola Catavento, em São Paulo, fala da certeza do filho crescer com a possibilidade de poder parar para resolver problemas e não fazer tudo com pressa. "Em um mundo como o nosso que fazemos tudo correndo, quase que no automático, é muito importante aprender a parar, respirar e pensar", fala.
Cecília, 3 anos, é filha de Delana Corazza, e tem o costume de se acalmar com a respiração de ioga quando fica nervosa. "Penso que a ioga pode ser uma parte da brincadeira na escola, uma outra relação com o próprio corpinho que segue desenvolvendo", conta Delana que tem a filha na escola Arte de Ser, localizada na zona oeste de São Paulo, única do ocidente a aplicar a filosofia how-to-live, do iogue Paramahansa Yogananda – muito difundidas na Índia. Delana também sabe dos benefícios no futuro da filha. "Acho que a possibilidade de ser menos ansiosa e viver o momento com mais intensidade, respeitar o silêncio, aguçar os sentidos e ter uma relação saudável com o corpo são aprendizados pra vida", fala. "A ioga é uma forma de se conectar ao mundo de forma mais equilibrada, com todos os seres da natureza, e respeitar o outro e a si mesma", pontua a mãe também praticante de ioga.
Foram através dos ensinamentos do mestre Saraswati Satyananda, da Bihar School of Yoga, na Índia, que se introduziu e implementou as práticas em escolas americanas há quase 20 anos. E hoje os Estados Unidos é o país número um, se assim podemos dizer, em práticas orientais difundidas em escolas e universidades, além, claro, do dia a dia dos americanos. Tanto lá como na França e, na Inglaterra, existem muitos livros didáticos e materiais infantis para trazer o ensinamento ainda mais próximo dos pequenos. Sabe o elefante Babar? Tem um DVD dele fazendo ioga que é super adorado. Porque são ensinamentos que valem por uma vida toda. As crianças passam a perceber que o estresse não é um estado natural e se sentem aliviadas quando conseguem controlá-lo. Aprender a lidar com as emoções e as sensações que elas causam é essencial pra construção de um mundo onde pedimos por mais companheirismo e mais colaboração com, e para com, o outro. Para construirmos um mundo onde o ‘ser’ tenha mais valor que o ‘ter’.
Fonte: Catraquinha