Se os pais querem ensinar aos filhos que é importante que eles falem a verdade, isso deve começar por eles. Pois sabemos que as crianças aprendem com o que escutam dos pais (depois com professores e outros que vão ao lugar de modelos) mas também aprende, e principalmente com o comportamento dos pais.

Logo, se eles praticam o exercício de falar com seus filhos, explicar o porquê do funcionamento das coisas, o que é fantasia e o que realidade, seus filhos aprenderão com isso e tenderão a fazer o mesmo.

Quando uma criança pergunta algo para a mãe que ela julga ser ‘demais’ ou ofensivo, esta, tem o dever de explicar para seu filho o quanto ele está equivocado e confuso. Mas, só poderá fazer isso, se antes escutar o que ele tem a dizer e perguntar porque está falando sobre aquele assunto. Um exemplo: Uma criança pergunta sobre sexo ou morte, os pais precisam responder aos filhos a verdade (respeitando o limite da idade dele) em vez de calar a boca deles. Pois se o fizerem eles vão endereçar essas perguntas para outros, que podem ser adultos desestruturados ou até perversos.

Ao ouvir a resposta eles saberão da verdade e se aliviarão. Pois o não saber, o equívoco, dá lugar para fantasias ruins e isso gera angústia e também sintomas.

As crianças são seres em formação, logo, elas aprendem com o que está a sua volta, sendo fundamental que possam confiar nos pais (ou em quem vai a esse lugar) que são os que têm a função de: amar, ensinar e proteger. E isso é imprescindível para o desenvolvimento psíquico sadio de um sujeito.

Uma palavra, ou uma explicação pode aliviar a criança. Como, contar que vai trabalhar e volta no final do dia, mesmo que isso provoque tristeza e o filho chore, saberá que a mãe está se importando com ele e explicando o que vai fazer e quando retornará. Tem mãe que diz que vai sair e já volta, mentem, quando na verdade sabem que voltarão somente à noite. Ou o fato da criança perder o pai (morte) ou outro ente querido e a mãe não contar para seu filho por acreditar que ele não entenderia...

Está claro que essa é a dificuldade dela de lidar com a morte e não do filho. Aliás à maioria dos adultos tem essa dificuldade: de aceitar que são mortais. Vale lembrar, com o que aprendemos com Freud, que no inconsciente não tem a representação da morte.

Mesmo a criança com pouca idade tem o direito de saber o que aconteceu com seu pai, pois ela sentirá sua falta. E é importante que não lhe tirem esse fato, que lhe permitam falar, chorar, ficar triste e falar da saudade que sente para poder fazer o luto dessa perda.

Quando isso não acontece fica uma lacuna que pode ser preenchida com as mais loucas fantasias que podem depois, desencadear doenças.

Se os pais querem filhos sadios psiquicamente têm que possibilitar isso, e falar a verdade (respeitando claro a idade e o entendimento da criança) e escutar o que eles têm a dizer, saber quais são suas dúvidas, será de grande valia.

Andreneide Dantas

Fonte: Blog da escuta analítica