O papel de todos os pais é muito mais do que assegurar o bem-estar físico dos filhos, providenciar-lhes estudos e dar-lhes um teto. O grande desafio e talvez o mais importante é... educar! No seu livro «Educar com amor», publicado por A Esfera dos livros, Mário Cordeiro, o pediatra mais lido em Portugal, recorrendo a casos práticos e à sua longa experiência profissional, explica que educar «é a maior prova de amor que os pais podem dar a um filho» e «é das tarefas mais exigentes que se pode pedir a alguém».

Esta missão requer, segundo o autor, «doses (toneladas!) de paciência, calma, fleuma, resignação, perseverança, tolerância. Tudo sinónimos, mas que, dado o desafio, vale a pena aqui escrever. (…) Consiste em dar pautas e normas, mas deixar a criatividade, o génio humano e o improviso acontecerem para que a natureza dos filhos venha ao de cima dentro das regras sociais instituídas». Segundo o autor, em entrevista à Prevenir, «não havendo na vida certezas nem passaportes para a felicidade, uma criança estruturada a todos os níveis, no futuro, sentir-se-á melhor, irá saber reagir em situações adversas e será uma mais-valia importante para os outros».

Como tal, existem valores e qualidades humanas que a tornarão mais feliz e equilibrada. Em «Educar com amor», Mário Cordeiro destaca seis dessas leis universais e diz-lhe como transmiti-las ao seu filho. Estes são, de acordo com o especialista, os seis pilares em que os progenitores e os educadores devem centrar a educação dos mais novos:

1. Empatia

Consiste na «capacidade de sentirmos em nós as razões e o sofrimento dos outros», como descreve Mário Cordeiro, podendo gerar «sentimentos positivos» em quem a pratica. «A falta dela, resultando em indiferença, é uma das maiores causas das agressões aos direitos dos outros e dos comportamentos eticamente errados», refere o autor, acrescentando que uma criança que não desenvolve a empatia poderá surpreender os pais com comportamentos pré-delinquentes, que se revelam na total indiferença pelos sentimentos dos outros, resultado de uma «capacidade empática completamente cilindrada pelo narcisismo e o facilitismo», refere.

O autor sublinha ainda «a necessidade de os pais serem bons modelos e bons exemplos das qualidades que querem incutir nos filhos e de irem, com senso e vagar, mostrando as iniquidades da vida». Para além disso, «a colocação dos limites adequados às atuações da criança» é uma das formas importantes para se desenvolver a empatia.

2. Coragem

«As crianças aprendem, frequentemente, que coragem equivale a atirar-se às cegas para a frente do perigo», sem medo. No entanto, ser corajoso é precisamente «a arte de vencer o medo», fazendo opções «segundo os critérios do que achamos certo ou errado», refere. Educar uma criança para a coragem fará com que ela consiga «vencer os seus receios, seja nos testes ou nos exames, seja em enfrentar ambientes que não domina ou não conhece, seja avançar em prol da defesa de amigos, de colegas em perigo, revelando solidariedade e empatia com o próximo», explica o autor.

«Desde sempre – desde o berço – que o bebé deve ser apoiado, mas sossegado e dando-lhe, a pouco e pouco, claro, a visão de que pode desenvolver, dentro de si, os fatores protetores que irão ajudar a vencer os momentos de maior instabilidade», lê-se em «Educar com amor». Mário Cordeiro alerta que «dizer a uma criança para não ter medo é contraproducente… e indecente. Há que reconhecer os medos, ter respeito por eles (e pela criança), descodificá-los, trabalhá-los e até teatralizá-los, para que só fiquem aqueles que são protetores e benéficos», defende.

Fonte: Sapo