Por Jullyana França

Já na porta da maternidade, vejo um quadro com a frase: "Nasceu o príncipe Davi". Na loja de bebês que frequento, pergunto quais os quadros são mais vendidos e a moça me diz: "os de príncipes e princesas". Fico pensando... Nem nasceram e já são tratados como majestade. Não me importo com o nome em si, mas me incomoda perceber que uma criança se encontra na posição de rei em um lar.

Antes de essa criança nascer, existia ali uma família. Não importa como (pai e mãe casados, separados, viúvos, pais e avós morando juntos), as famílias são diferentes, óbvio, mas a casa tem uma história e a criança nasce para preencher um espaço importante. No entanto, ela não deve ser o centro das vontades. É claro que a vida dos pais muda após o nascimento de um bebê, mas ele é uma criança que ainda não sabe o que é melhor para ela. Não sabe o que é certo ou errado. Por isso, precisa de limites e de direção.

O "príncipe Davi" ou a "princesa Maria" podem ser chamados como tal, mas não tratados como uma autoridade dentro de casa. Vejo pais que não podem sair porque o filho chora, não comem mais peixe porque o filho não gosta, não fazem mais programas de casal porque o filho tem ciúmes... E muitos outros exemplos. E então as crianças vão crescendo cheias de vontades e intolerantes. Mais para frente, a escola fica chata, o restaurante fica chato, qualquer lugar que existe regras fica chato. Não aceitam limites, nem respeitam a vontade do outro. Ficar em casa será sempre melhor, porque lá fazem o que querem. Crescem e acham que são reis de verdade. Tudo precisa ser do jeito deles.

Precisamos ter muito cuidado com a mensagem que passamos para nossas crianças quando os chamamos de príncipes. A hierarquia existe, sim. Pais são tutores legais dos seus filhos. São responsáveis pela educação dos mesmos. Filhos obedecem. Filhos cumprem rotina e regras. Recebem amor, atenção, carinho, cuidados, mas não são livres para fazerem o que querem.

Nada há de errado em gostar e comprar um quadro de maternidade de príncipe e princesa. Mas filhos são filhos, pais são pais. Chamamos nossos filhos de príncipes, mas o tratamos como crianças. Tudo bem... Sem problemas. A vida não é fácil. As pessoas vão te contrariar, você vai se frustrar na escola, no trabalho e em qualquer lugar que tiver outras pessoas. Na primeira oportunidade de socialização, a vida vai mostrar isso. As pessoas são diferentes e possuem pensamentos diversos. E não vivemos em um lugar de monarquia. Somos democráticos e a maioria vence. Se um grupo de crianças quer jogar futebol e só um quer jogar vôlei, a vontade da maioria prevalecerá. Sem choro, sem dó, sem piedade. Com amor, com respeito, com carinhos infinitos, com diálogos abertos e muita paciência.

Assim, vamos conseguir ensinar aos nossos filhos a importância de saber conviver em grupo. "Príncipe Davi nasceu" poderia ser substituído por "Criança feliz e amada com o nome de Davi nasceu".

Fonte: Ludovica