Dá para imaginar um momento mais feliz para uma mãe do que a chegada de seu tão esperado bebê ao mundo, depois de longos nove meses de gestação? Quando imaginamos a cena, vemos a mulher sorrindo, com seu filho saudável, em meio a roupas coloridas, bichos de pelúcia e aquele cheirinho de bebê. Mas nem sempre é exatamente assim. Algumas mães, mesmo nesse contexto positivo, vivenciam tristeza e melancolia. Na maior parte dos casos, trata-se do chamado baby blues. Um grupo menor - a literatura científica mundial estima uma taxa que varia entre 10 e 15% das novas mães - enfrenta um problema ainda mais grave: a depressão pós-parto.

Como diferenciar um do outro? "Enquanto o baby blues é passageiro, causado apenas pelas alterações hormonais bruscas que a mulher sofre no pós-parto e não precisa de nenhum tratamento, a depressão tem antecedentes - ou seja, não é ocasionada pela gravidez ou pelo nascimento da criança - e precisa de acompanhamento médico, inclusive com tratamento químico", diz Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo, em São Paulo.

Em uma enquete realizada pela CRESCER, 43% das leitoras afirmaram ter vivenciado o baby blues. Um dos fatores que mais complica essa turbulência emocional é que, muitas vezes, a família não entende, o marido não sabe como agir e, às vezes, nem a própria mulher compreende o que está acontecendo com ela. "A mãe vê todo mundo feliz, o bebê em ótimas condições de saúde e tudo está perfeito, mas ela não consegue se sentir bem e começa a achar que está louca", explica a especialista.

O primeiro passo, tanto para a mãe quanto para as pessoas que a cercam, é entender que esta reação está longe de ser uma frescura ou fraqueza. É um comportamento involuntário. Da mesma maneira inesperada que vem, o baby blues também se dissipa sozinho, em geral depois de 15 ou 20 dias. Além de esperar e ter paciência, a mãe precisa contar com o apoio prático da família. "Isso significa ter alguém que pegue o bebê no colo para ela poder dormir um pouco mais, que cuida da criança enquanto ela toma um banho ou se alimenta... Conselhos não ajudam porque o baby blues é uma condição física", afirma Rita. Além disso, a própria mãe tem de tentar ser mais compreensiva consigo mesma e menos severa na autocrítica.

Além da tristeza

Mais raro e mais grave que o baby blues é a depressão pós-parto. Embora muitas mulheres confundam os sintomas, os dois quadros são bem diferentes. A depressão é um problema que costuma acometer mães que já tinham antecedentes: seja manifestação de doença mental, trauma (como assalto, acidentes, perdas ou separações) vivido antes ou durante a gravidez ou até falta de estrutura emocional para lidar com alguma dificuldade na gestação, como o fato de a criança apresentar doença congênita, por exemplo, entre outras razões.

"A mãe perde a vontade de viver, manifesta o desejo de se matar, fala ou pensa em agredir a criança ou até a si mesma: são todos indícios de que ela está, de fato, em depressão", explica a psicóloga. Nesse caso, ela precisa de muito mais que apoio e paciência. A mulher deve ser acompanhada por um médico psiquiatra, que provavelmente recomendará um tratamento químico, com remédios.

De acordo com Rita, o obstetra é o profissional mais importante para identificar os primeiros sinais e encaminhar a mãe para o tratamento. Se ela já teve alguma outra doença mental antes, como a própria depressão ou síndrome do pânico, ele deve ficar atento ainda durante a gestação e acompanhar. Ele também poderá avaliar o estado da saúde psíquica da mulher na consulta que acontece após o parto, sempre nas primeiras semanas de vida do bebê.

Bem antes do bebê

Prestar atenção no histórico e no comportamento da mulher antes do parto pode ser mesmo o caminho mais eficaz para a prevenção. Um estudo realizado pela Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, observou os casos de mais de 8 mil mulheres com graus diferentes de depressão pós-parto e concluiu que dois terços das mães com sintomas severos começaram a manifestar a doença ainda durante a gestação e não somente depois de dar à luz.

A mesma pesquisa percebeu que as mulheres com uma versão moderada de depressão pós-parto revelaram os sinais após o nascimento dos filhos, mas 60% delas tiveram complicações na gravidez, como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia ou hipertensão. De acordo com os cientistas, a descoberta é um avanço no sentido de facilitar o diagnóstico precocemente e, assim, adequar o tratamento. "Este é definitivamente um primeiro passo na direção certa", diz Leah Rubin, professora-assistente do Programa de Pesquisa da Saúde Mental da Mulher da Universidade de Illinois.

Dá para evitar?

No caso do baby blues, como ele é ocasionado por hormônios, simplesmente não dá para se prevenir. É como a tensão pré-menstrual: algumas mulheres têm vários sintomas e outras não. "O que pode ser feito, antes ou durante a gestação, é buscar informações e conversar sobre o assunto com a família. Assim, caso aconteça, todos já sabem do que se trata e fica mais fácil compreender a questão", alerta Rita.

Já a depressão pós-parto pode - e deve - ser evitada. Se a mãe já sofreu de doenças parecidas ou se passa por uma situação estressante, que possa desencadear o problema, ainda durante a gravidez, ela, o médico obstetra, o parceiro e a família devem ter cuidado redobrado e acompanhar possíveis alterações comportamentais de perto.

Fonte: Revista Crescer