A literatura médica superestima os benefícios da psicoterapia para depressão, afirma um novo estudo publicado na última semana.

Isso acontece porque as revistas científicas tendem a publicar estudos relatando sucesso do procedimento, mas não o seu fracasso, dizem os autores.

A análise é a primeira tentativa de rever a eficiência da psicoterapia levando em consideração também os estudos sobre o assunto que não foram publicados.

A conclusão é que a terapia é mais falha do que se imaginava.

A muito tempo os médicos sabem que as revistas científicas superestimam os efeitos dos antidepressivos, e em parte isso acontece pela mesma razão: publicações gostam de artigos que relatam coisas que funcionam, em vez de coisas que não funcionam.

O trabalho sobre a psicoterapia foi publicado na revista científica "Plos One". Segundo ele, um paciente que se consulta com um psicoterapeuta tem 20% a mais de chance de melhorar de condição do que quem não faz isso.

O grande mérito de revisões científicas como essa, que analisam os resultados de vários estudos, é reduzir os erros e vieses de pesquisas individuais —a equipe liderada por Ellen Driessen, da Universidade Livre de Amsterdã, trabalhou a partir de 55 estudos, feitos entre 1972 e 2008.

Os pesquisadores afirmam ainda que seria importante para o progresso da ciência que as pesquisas que não relatam sucesso também fossem divulgadas —dos 55 trabalhos, 13 nunca tinham sido publicados, e isso tendia a ocorrer os com resultados mais negativos para a psicoterapia.

CRÍTICAS

Alguns pesquisadores, porém, questionam as conclusões do trabalho sobre a psicoterapia.

"Todas as várias abordagens da psicoterapia foram colocadas no mesmo balaio por eles", afirma Stefan Hofmann, professor de psicologia da Universidade de Boston, que não participou do estudo, para quem pesquisas mais específicas sobre cada técnica seriam mais adequadas.

Além disso, não houve controle sobre quantas vezes por semana o paciente ia ao consultório ou quanto tempo ele ficava por lá.

Outra questão: os autores não fizeram uma análise crítica da metodologia de cada trabalho estudado —consideraram que a soma de todos os resultados acabaria compensando eventuais falhas ou problemas.

Para o pesquisador Steven Hollon, da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, que participou da pesquisa, é importante lembrar ainda que os antidepressivos também são apenas modestamente eficientes.

Isso significa que a combinação de remédios e terapia é possivelmente a melhor solução possível para os pacientes que necessitam de tratamento, ainda que os resultados não sejam perfeitos.

Mesmo os críticos do estudo reconhecem que os tratamentos não são ideais.

"A depressão, especialmente, é um distúrbio muito difícil de tratar, e também acaba sendo muito complicado julgar a eficiência dos tratamentos, porque os sintomas da depressão no paciente naturalmente aumentam e diminuem ao longo do tempo", afirma Hofmann.

"É como atirar em um alvo móvel. Há um sentimento de desespero [na sociedade] no sentido de que precisamos de alguma forma nova de tratamento, mas há muito pouco no horizonte."

Fonte: Folha de São Paulo