Desde antiguidade houve o interesse de se buscar compreender as complexas relações entre o cérebro e o comportamento humano e estabelecer critérios para esse funcionamento. Ainda assim o desenvolvimento da Neuropsicologia, enquanto um campo de saber sistematizado, só teve seu início nos anos 40. Dentre as diferentes definições, a Neuropsicologia pode ser entendida como uma disciplina que visa analisar os distúrbios de comportamento que se seguem a alterações da atividade cerebral normal. Ela é uma área de intersecção das neurociências, tendo seu desenvolvimento inicial a partir da convergência entre Neurologia e psicologia.

A evolução deste campo tem sido propiciada por alguns fatores, dentre eles se destacam a aproximação progressiva das neurociências com as ciências do comportamento, o desenvolvimento de técnicas para o estudo do cérebro e de sua atividade, o aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação neuropsicológica, bem como o desenvolvimento de alguns métodos de intervenção em casos de lesão cerebral.

A neuropsicologia infantil, que integra esse campo, possui especificidades teóricas e técnicas voltadas para as peculiaridades da infância. A diminuição da mortalidade infantil e o proporcional aumento nas sequelas e patologias neurológicas, psiquiátricas, entre outras, caracterizaram a necessidade de estudos sobre o desenvolvimento neuropsicológico infantil, bem como sobre as possibilidades de diagnóstico precoce e intervenção em crianças. A neuropsicologia infantil tem em vista uma atuação interdisciplinar envolvendo vários especialistas, destacando-se sua interface substancial com a educação, visto que a avaliação e reabilitação da criança estará ligada ao objetivo de otimizar seu desenvolvimento.

No campo específico da neuropsicologia infantil, a criança não poderia ser compreendida como uma extensão da população adulta e para isso destaca-se a compreensão do neurodesenvolvimento infantil. O conhecimento de psicologia do desenvolvimento é necessário para se compreender as particularidades das funções, tais como atenção, percepção, memória, linguagem, que se encontram em instalação ou consolidação na infância.

Apesar de seu crescimento, a neuropsicologia infantil, enquanto um campo incipiente, ainda tem muito que desenvolver principalmente no que diz respeito a pesquisas e elaboração de programas de intervenção para reabilitação dos déficits das clássicas síndromes neurológicas (paralisia infantil, epilepsia) e neuropsiquiátricas (autismo, TDAH) da infância. Ressalta-se que compreender e descrever o funcionamento das funções cognitivas é fundamental, mas é apenas o início para a delimitação de intervenções adequadas e efetivas, baseadas, sobretudo, na singularidade e potencialidade de cada criança. Assim, emerge-se o desafio de estudos teóricos e práticos neste campo, para avanços em benefício de nossas crianças!

Referências

SANTOS, F. H. Reabilitação neuropsicológica pediátrica. psicologia: ciência e profissão 2005, vol.25, n.3, pp. 450-461. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932005000300009. Acesso em: 24/06/2013

HAMDAN, A. C; PEREIRA, A. P. A. & RIECHI, T. I. J. S. Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica: desenvolvimento histórico e perspectivas atuais. Interação em psicologia. 2011, vol. 15, N. especial, pp. 47-58. Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/view/25373/17001. Acesso em: 24/06/2013

FERREIRA, S. F. B. Reabilitação neuropsicológica infantil: pressupostos e instrumentos. In: Caxeita, L. & Ferreira, S. F. B. Manual de neuropsicologia: dos princípios à reabilitação. São Paulo: Atheneu, 2012.