Izabela Guedes

Inúmeras pessoas vivem diferentes e peculiares experiências da condição humana, sendo, por isso, comumente taxadas pela sociedade normativa como "loucos", "doentes mentais", "inúteis", "incapazes" etc. No entanto, se conseguimos olhar para tais idiossincrasias sob o ponto de vista do poeta e escritor Antonin Artaud, esta "loucura" passa a ser apenas uma, dentre tantas outras formas do ser humano se manifestar. Enquanto alguns se sentem experimentando a vida, há aqueles que são experimentados por ela, perdendo, às vezes, o controle de si próprios. Na percepção da revolucionária psiquiatra Nise da Silveira, o chamado "louco", na realidade, habita outro universo, sentindo e reagindo ao mundo em profundo deslocamento, o que acaba por torná-lo incompreensível para as demais pessoas.

Na medicina tradicional, a expectativa é de que o paciente psiquiátrico atinja sua máxima normalização, pretendendo-se que o indivíduo se ajuste, tanto quanto possível, aos padrões convencionais de seu segmento social. Entretanto, do ponto de vista existencial, existiriam outras maneiras de se compreender o sofrimento, a angústia, o estigma e a segregação que as experiências psicóticas produzem.

Nosso trabalho visa oferecer um ambiente favorável, que funcione como ponto de apoio e referência afetiva para aqueles que sofrem com algum transtorno mental. Permitimos às pessoas serem como elas são, cuidando para que vivam como queiram em suas diferenças, ajudando-as a partir da expressão de seus conteúdos, de forma a alcançarem uma maior integração das emoções.

É essencial a presença do afeto para que o processo de ressignificação das experiências fragmentadas possa acontecer. Amor, respeito e aceitação são essenciais para a recuperação da confiança e da segurança embotadas. Acreditamos que sem a relação de uma pessoa com outra não há saúde possível, e percebemos que, após a construção de um relacionamento confiante com o profissional, aos poucos o cliente começa a estender o contato com o ambiente e com outras pessoas, ocorrendo, então, uma maior estabilidade emocional que colabora com sua ressocialização.

Valorizamos as vias e as possibilidades criativas da vida. Através das atividades artísticas, conseguimos a livre e espontânea expressão dos afetos e emoções, alcançando uma maior penetração no mundo dos psicóticos, daí ser possível para eles uma melhor elaboração de suas vivências e experiências não verbalizáveis e que estão fora das fronteiras da razão e do pensamento. Percebemos que dando continente para a manifestação das vivências desorganizadas, proporcionamos àqueles que sofrem com algum transtorno mental experimentar um sentimento de constância física e psíquica, possibilitando, assim, um encontro mais integrado consigo próprio a partir da participação e construção ativa no seu constante processo de eterno-vir-a-ser.

Fonte: Gestalt em Figura