O psiquismo não existe sem memória, que não existe sem linguagem, que não existe sem o outro. Ao chegar ao mundo a única possibilidade de humanização do filhote do homem é que esse seja adotado por um outro. É esse outro que irá introduzir o novo bebê na cultura humana, no universo simbólico da linguagem. O outro lhe dará acesso a uma linguagem que organizará sua falta, determinada pela ausência de instintos ou padrões geneticamente prescritos.

A vinda do bebê ao mundo ao mundo é permeada, principalmente, por três desejos: o da mãe, o do pai e o do próprio bebê na luta pela sobrevivência. Assim, essa triangulação marca e permeia as interações iniciais do ser humano.

Entretanto, nos períodos iniciais de vida o bebê centra-se em uma pessoa, sendo esta aquela que ocupa a função materna. O bebê, inserido nesta díade, vive "fusionado" a este Outro primordial, preso no desejo materno. Para Winnicot é o apoio nesta função materna que permitirá ao bebê o desenvolvimento de um verdadeiro self e sua diferenciação, ou seja, "este sou eu e aquela e minha cuidadora".

A separação entre a mãe e seu bebê é processual. A situação de superdependência vai abrindo espaço para uma dependência relativa. A mãe deve introduzir terceiros nesta relação para possibilitar a socialização futura da criança e seu desenvolvimento adequado.

A entrada da função paterna na relação mãe-bebê é fundamental para que a criança possa se inserir no mundo simbólico, rompendo a díade com a mãe. O pai, representando a lei, insere-se na relação fusional para ampliar a sociabilidade da criança nas suas mais diversas formas. Isto não significa que durante todo o momento anterior o pai esteve fora de cena, mas sim de que há um momento em que a dependência absoluta da criança com a mãe vai sendo rompida.

A criança ao nascer é apenas um candidato à humanidade. Sua constituição como sujeito depende de sua relação com o outro e de sua entrada no mundo da linguagem. Sua mãe fornece os significantes iniciais que vão dando sentido às suas ações e sensações, por outro lado, o pai (função paterna) entra nesta relação para abrir espaço para que a criança se consolide enquanto um ser social e, assim, se desenvolva saudavelmente.

Autora: psicologia.com.br/colunista/15/" target="_blank">Stéfany Bruna