Na semana passada, em um programa de tevê, a atriz e cantora Sophia Abrahão, 25 anos, chorou copiosamente ao ser informada que teria que se desfazer de algumas peças de roupa – essa era a proposta da atração. Mais do que isso: confessou ter 91 vestidos, 117 pares de sapatos e 56 bolsas. O exagero não é exclusividade dela. O guarda-roupa da atriz Marina Ruy Barbosa, de apenas 21 anos, está avaliado em mais de R$ 1 milhão. Celebridades, de vários matizes, consomem compulsivamente e fazem questão de exibir suas aquisições em todas as mídias disponíveis, principalmente em redes sociais. No início, se preocupam com a imagem como uma forma de impulsionar as carreiras. Ao atingir o auge, se sentem na obrigação de se manter em evidência – e, num ciclo sem fim, consomem cada vez mais. Para elas, é inconcebível dar a impressão de desleixo ou aparecer publicamente com peças de fast fashion. As famosas precisam impressionar e fazer a diferença. Não basta ter talento, atrair audiência e conquistar incontáveis fãs. A aparência impecável, traduzida em peças caríssimas, é tão importante (ou até mais) do que tudo isso. Como influenciam uma multidão de mulheres, que as julgam perfeitas e querem ser como elas, as celebridades acabam por estimular um consumo desenfreado e fútil. Já há quem considere a obsessão com o guarda-roupa uma espécie de doença contemporânea.

Comportamento negativo

Alguns especialistas afirmam que, hoje em dia, o consumo se tornou um vício crônico, comparado à compulsão por comer ou qualquer outra dependência. No caso das celebridades, elas gastam milhares de reais por mês em roupas e acessórios por satisfação pessoal e, num certo sentido, para responder a anseios da sociedade. As pessoas, alegam os pesquisadores, projetam nas celebridades aquilo que elas próprias queriam ser. Junte-se a isso o fato de as famosas terem vida social restrita: não podem circular livremente sem serem flagradas por paparazzi e fãs e terem fotos virilizadas na internet. Também têm sua imagem observada e julgada diariamente – roupa, peso, maquiagem, gestos. Tudo isso as afeta profundamente. "A restrição dessa vida, muitas vezes, é extravasada por meio do consumo", diz Fábio Mariano, professor do curso de Ciências Sociais e do Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Isso traz riscos. Quando a vida fica resumida ao consumo, o comportamento passa a ser negativo."

As celebridades também são ícones seguidos pelos fãs e pelo público comum, que copia seu estilo, corte de cabelo, dietas e toda sorte de atividade realizada por elas. A febre consumista bombardeia o imaginário das mortais comuns, que se desdobram para adquirir os objetos de seus "ícones de estilo". Para os estudiosos em psicologia do consumo, além de tentarem preencher vazios, em uma era de sentimentos descartáveis, essas pessoas tentam imprimir um valor à sua identidade, com etiquetas caras e já reconhecidas. Como se legitimassem sua personalidade com a vestimenta. O recurso, evidentemente, não é eficiente e provoca frustração. Desse processo surge a necessidade de comprar mais.

A relação das famosas com o consumo desenfreado começou no século XIX, quando o imperador da França Napoleão Bonaparte proibiu as damas de repetirem as roupas na corte. O rigor era tanto que, quem desobedecesse a ordem, não seria mais convidada a participar dos bailes da realeza. A medida visava proteger e desenvolver a indústria têxtil francesa. Em pleno século XXI, a história se repete. Hoje, porém, o imperador não é representado na figura de uma pessoa, mas da sociedade. Em tempos de redes sociais e fotos instantâneas, os looks são postados na internet e não há quem não perceba a repetição das peças. Se até um desconhecido passa por esse constrangimento, para uma celebridade que vive da imagem, a pressão é maior. Esse é um dos motivos que influenciam famosas a investirem boa parte da renda em roupas e acessórios. "A cobrança pública é muito grande para as pessoas que têm prestígio", diz João Braga, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

Fonte: Isto É

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