A Tomada de Perspectiva, a capacidade de se colocar no lugar do outro, é uma habilidade importante relacionada a muitos aspectos do comportamento dos indivíduos, tanto no plano social (em que constitui uma base para a empatia), quanto no plano cognitivo (em que permite repertórios mais flexíveis e abrangentes para compreender eventos). Ela tem sido bastante estudada a partir dos postulados da Teoria das Molduras Relacionais por pesquisadores que desenvolveram vários instrumentos de avaliação e treino focados nas molduras dêiticas (as que envolvem relações a partir da própria perspectiva, como eu-você, aqui-aí, agora-em outro momento) e obtiveram resultados interessantes com diferentes tipos de população.

Nesses estudos, geralmente se pressupõe a existência de diversos níveis de complexidade relacional, que pode ser verificada experimentalmente. Por exemplo, podemos criar um experimento composto por tentativas que envolvam relações dêiticas simples (ex: Eu estou sentado aqui e o Carlos está sentado lá. Onde eu estou sentado?), e tentativas que envolvam relações dêiticas reversas (ex: Eu estou sentado aqui e o Carlos está sentado lá. Se eu fosse o Carlos e o Carlos fosse eu, onde eu estaria sentado?). Assumindo que as relações reversas são mais difíceis que as simples, podemos analisar os resultados do experimento visando conferir essa hipótese. Se os participantes erram mais nas tentativas que envolvem relações reversas, isso pode indicar que, de fato, estas são mais complexas.

O grupo de pesquisa localizado na Universidade de Almería, na Espanha, formado por Adrián Barbero-Rúbio, Juan C. López-López, Carmen Luciano e Nikolett Eisenbeck se propôs verificar se seria possível medir essa questão da complexidade relacional e, também, a flexibilidade (a facilidade para adotar a perspectiva alheia) em tarefas de Tomada de Perspectiva usando outro tipo de procedimento, conhecido como IRAP (Procedimento de Avaliação Relacional Implícita). Este procedimento está baseado em comparar o tempo de resposta em dois tipos de tentativas. Um desses tipos é o de tentativas "consistentes" (em que, por exemplo, responder SIM à relação "Criminal semelhante a Violento" seria considerado correto e, portanto, o participante do experimento receberia alguma consequência agradável por fazer isso, como um elogio). O outro tipo estaria formado por tentativas "inconsistentes" (em que, por exemplo, a resposta considerada correta seria responder SIM à relação "Criminal oposto a Violento"). Fica claro, então, que a consistência ou inconsistência é avaliada segundo a relação existente entre os dois estímulos apresentados em cada tentativa. A ideia subjacente é que o tempo de resposta será menor nas tentativas consistentes do que nas tentativas inconsistentes, pois responder a tentativas consistentes envolveria um comportamento chamado BIRR (Responder Relacional Imediato e Breve) e o responder a tentativas inconsistentes, pelo contrário, envolveria um comportamento diferente chamado EERR (Responder Relacional Elaborado e Estendido). O chamado "efeito IRAP" consiste precisamente nessa diferença do tempo de resposta entre ambos os tipos de tentativa.

No estudo realizado por esse grupo de pesquisa em 2016, em que participaram 35 estudantes universitários, foi criada uma versão do IRAP composta por 4 tipos de tentativas, que resultavam das possíveis combinações dos estímulos usados. Assim, o estímulo modelo (na parte superior da tela) era o nome do participante ou o nome do experimentador e o estímulo-alvo (na parte central da tela) podia ser uma caraterística do participante ou uma caraterística do experimentador. Essas caraterísticas eram observáveis, como estar sentado ou em pé ou usar uma determinada cor na camiseta. Em uma das condições experimentais o participante devia responder desde sua própria perspectiva e, na outra condição, o participante devia responder desde a perspectiva do experimentador. Em cada tentativa, as respostas possíveis eram SIM (indicando uma relação de coordenação entre o estímulo-modelo e o estímulo-alvo) ou NÃO (indicando uma relação de oposição entre esses estímulos).

A complexidade relacional foi avaliada a partir das respostas dos participantes em cada tipo de tentativa, as consistentes (em que o estímulo-modelo e o estímulo-alvo faziam referência à mesma pessoa) ou inconsistentes (o estímulo-modelo fazia referência a uma pessoa – o participante ou o experimentador- e o estímulo-alvo fazia referência à outra pessoa); e se se referiam ao participante ou ao experimentador. A flexibilidade psicológica foi analisada comparando os tempos de resposta em ambas condições experimentais.

Os resultados mostraram que, de fato, as tentativas que envolviam relações de oposição eram mais complexas que as que envolviam relações de coordenação, e entre as tentativas envolvendo relações de coordenação, eram mais complexas aquelas que exigiam responder às caraterísticas do experimentador. Da mesma forma, responder às tentativas inconsistentes foi também mais complexo do que responder às tentativas consistentes. Além disso, os participantes mostraram um baixo nível de flexibilidade para adotar a perspectiva alheia, pois o efeito IRAP foi alto.

Fonte: Boletim Behaviorista

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