Quem nunca deixou a tarefa da escola ou aquele relatório da graduação para fazer na véspera do prazo final? Quem nunca passou algumas horas além da meia noite finalizando um trabalho que poderia ter sido concluído alguns dias antes? Há dias em que bebemos café, limpamos a casa, vasculhamos as redes sociais, respondemos as mensagens no WhatsApp, jogamos Pokemón GO, vasculhamos as redes sociais novamente, ouvimos músicas, terminamos de ver aquela série tão viciante, entre outras coisas muito interessantes, e deixamos de fazer o relatório da disciplina, que deveria ser entregue no dia seguinte.

Deixar as coisas para fazer na última hora, logo antes do prazo final, ou protelar uma tarefa, é um comportamento muito comum, e tem um nome especial: procrastinação. Procrastinar é o comportamento de evitar uma situação desagradável que se torna mais desagradável ao longo do tempo.

Infelizmente, estudar é um comportamento que pode ser amplamente desagradável. Portanto, é muito comum estudantes procrastinarem. Protelar a tarefa pode levar a algumas consequências não muito desejáveis. Por exemplo, pesquisas mostram que estudantes que procrastinam apresentam um desempenho pior em exames do que aqueles que não procrastinam.

Paul E. Johnson Jr. e colaboradores, da Universidade de Maine, nos Estados Unidos, buscaram, em seu estudo, investigar a procrastinação com 33 estudantes universitários. Eles analisaram se o uso de uma regra sobre determinada tarefa diminuiria a procrastinação.

Os pesquisadores partiram da concepção de que uma intervenção de sucesso para reduzir a procrastinação deve ajudar os estudantes a escolher uma condição desagradável menor e mais breve de estudo ao invés de uma condição desagradável maior e mais longa. Para isso, manipularam o estímulo que procede as condições desagradáveis, ou seja, utilizaram uma regra antes que os estudantes iniciassem as tarefas. Podemos entender uma regra como uma descrição de uma contingência, que frequentemente muda o comportamento subsequente de uma maneira consistente com ela. Por exemplo, a mãe fala para o filho pegar um agasalho, pois se chover ele vai passar frio. Assim, quando ele for sair para ir à escola, irá se agasalhar, evitando o frio.

A pesquisa foi realizada com dois grupos, os quais foram expostos a duas condições: condição controle e condição tratamento. Um grupo foi exposto primeiramente à condição controle, e, posteriormente, à condição tratamento, e o outro grupo foi exposto à ordem inversa.

Para cada grupo foram solicitadas tarefas em cada condição, as quais tinham dias determinados para serem entregues por e-mail ao instrutor. Havia quatro tarefas para cada condição. As tarefas "a", "b" e "c" foram denominadas pelos autores como "tarefas precursoras", pois antecediam a tarefa final (tarefa "d"), ou seja, a atividade final foi desmembrada em atividades menores. Abaixo será explicada cada tarefa e indicado o prazo de entrega:

Tarefa "a": Escolher um tópico sobre o qual escrever, e entregar no dia 3.

Tarefa "b": Encontrar no mínimo dois artigos de pesquisa sobre o tópico escolhido, e entregar no dia 6.

Tarefa "c": Escrever um esboço sobre o assunto, e entregar no dia 9.

Tarefa "d": Escrever o texto final, com duas páginas escritas, e entregar no dia 15.

Na condição controle, o instrutor descreveu aos alunos as tarefas e seus respectivos prazos de entrega. Foi informado que a consequência para a submissão atrasada do trabalho final era a perda de dois pontos na nota final do trabalho, do total de 20, a cada dia de atraso.

Na condição tratamento, foram fornecidas as mesmas instruções da condição controle, mas era acrescentada a seguinte regra: se os alunos perdessem o prazo das tarefas precursoras, a data prevista da entrega do trabalho final seria de dois dias antes, ou seja, no dia 13 ao invés do dia 15.

Os autores registraram a hora e data da submissão de cada tarefa pelos participantes e avaliaram a qualidade da escrita das tarefas por meio de cinco características: domínio da ideia, organização e desenvolvimento, uso e compreensão da fonte material, estilo e domínio gramatical. Será que houve alguma diferença nos resultados das duas condições? Você imagina quais foram?

No geral, a maioria dos participantes procrastinou menos durante a condição tratamento comparada à condição controle, sendo que 16 dos 33 alunos apresentaram um decréscimo significativo na procrastinação após a condição tratamento. A qualidade da escrita melhorou para 61% dos participantes durante a condição tratamento, ou seja, o decréscimo na procrastinação esteve associado com o aumento na qualidade do trabalho. Durante a condição controle, os participantes perderam 96% dos prazos de entrega das tarefas precursoras, e durante a condição tratamento, a quantidade dos prazos perdidos decresceu para 66%.

Os resultados demonstraram que uma regra que indica uma redução no intervalo que precede uma consequência desagradável diminui a procrastinação em estudantes universitários. A diminuição do tempo para concluir o trabalho acadêmico especificado pela regra tornou uma situação um pouco desagradável em muito mais desagradável, e, portanto, aumentou a probabilidade da emissão do comportamento de estudar. Assim, os pesquisadores defendem que no ambiente de sala de aula, regras que descrevem aumentos futuros na situação desagradável podem reduzir a procrastinação para alguns alunos.

Os resultados também mostram que uma manipulação simples, como a formulação de uma regra, pode mudar o comportamento das pessoas, favorecendo maior produtividade e qualidade das suas tarefas.

Os autores comentaram também sobre algumas limitações do estudo, pois há a dificuldade desse procedimento ser realizado além do âmbito clínico e acadêmico. Será que é possível realizar uma intervenção semelhante em outros contextos? Como podemos elaborar estratégias para melhorar a produtividade e o bem-estar das pessoas? Investigar o comportamento de procrastinar pode ser uma boa opção!

Fonte: Boletim Behaviorista

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