"Eu odiava fazer trabalho em grupo". Você já ouviu essa declaração de algum adulto? Pois mal sabe ele que os projetos em equipe não ficaram lá atrás, nos tempos de escola. Pelo contrário. Cada vez mais, trabalhamos uns com os outros por um objetivo comum. E quem "odiar" essa convivência terá duas opções: isolar-se em alguma das poucas atividades solitárias que ainda existem - que tal vigilante de farol, lá no alto mar? - ou rever a sua postura.

"Hoje, as empresas trabalham com grandes projetos. Às vezes, até pagam bônus para equipes de destaque. Por isso, as crianças têm de aprender a colaborar com colegas desde cedo", ressalta Paula Furtado, psicopedagoga e autora de vários livros. E não é só questão de se tornar um profissional competente. Quanto mais participativos e generosos formos, melhor para toda a sociedade.

É claro, porém, que isso parece mais fácil do que é. "O trabalho em equipe, na verdade, não é fácil para ninguém. Abrir mão do que pensamos ou queremos para dar lugar ao outro é um desafio para o ser humano", afirma a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano, de São Paulo. Por isso mesmo, essa habilidade tem de ser trabalhada, e muito!

A seguir, com a ajuda dessas especialistas, trazemos dicas de como incentivar essa competência tão importante - a disposição para o trabalho em equipe - em seu filho. Veja que é observando o seu exemplo, sobretudo, que ele aprenderá a colaborar.

1. Como é um bom colaborador?

O trabalho em equipe é uma habilidade não-cognitiva, ou uma competência socioemocional, das pessoas que conseguem, sem desconforto, participar bem de atividades em grupo. Espera-se que um bom colaborador: 1) respeite e valorize os colegas do grupo; 2) tenha empatia e compaixão pelas outras pessoas e, por isso, esteja aberto a opiniões e desejos diferentes dos seus; 3) tenha a generosidade de, por vezes, abrir mão do que quer em prol da maioria; 4) seja simpático, cordial e afetuoso - com os colegas e com as pessoas em geral.

2. Tudo começa em casa

Ao trabalhar em grupo, é importante expor o seu ponto de vista sem exaltação, e também ouvir os colegas - igualmente sem exaltação e com respeito. E que outro lugar seria melhor para aprender a fazer isso do que em casa, com a família? "A família deve funcionar como grupo, combinando regras e cumprindo-as, sem muito blábláblá", aconselha a psicopedagoga Paula Furtado. Isso significa se reunir, conversar direta e claramente - sem levar tudo para o pessoal, nem passar horas em cada tópico - e chegar a combinados, por exemplo: quem sair da sala por último tira os aparelhos eletrônicos das tomadas; quem não tiver lição de casa fará companhia para a vovó; uma vez por semana, prepararemos o jantar todos juntos. Assim, a colaboração se torna algo natural para a criança.

3. Valorize a escola

Quer colaboração maior do que uma classe inteirinha tentando aprender uma lição? Participando de brincadeiras, preparando celebrações? O próprio sistema escolar é um grande exemplo de trabalho em grupo e, quanto mais o seu filho se sentir "pertencente" àquele mundo, melhor. Por isso, valorize a convivência escolar, emitindo opiniões positivas sobre colegas, professores e atividades e permitindo que seu filho participe das mais diversas experiências, como aulas extracurriculares e projetos de ajuda à comunidade organizados pela instituição, por exemplo.

4. Ensinando a confiança

Ao participar de um projeto em grupo - seja uma empreitada milionária ou um passeio de caiaque - é preciso confiar nos parceiros, sob o risco de a experiência virar um verdadeiro inferno. Como transformar o seu filho em uma pessoa com a qual os outros possam contar? Simples: deixando claro que ele pode contar com você. "É em casa que a criança se sente amada e segura", lembra a especialista Paula Furtado. Crescendo com a noção de que pode confiar nas pessoas próximas, a criança torna-se confiável por consequência.

5. Peço ajuda, dou ajuda

Da próxima vez em que houver brinquedos espalhados pela sala, que tal pedir para o seu filho ajudar você a recolhê-los, em vez de gritar para ele ir lá arrumar a bagunça? Quem sabe ele não faça, depois, o contrário: peça a sua ajuda na arrumação do quarto, por exemplo. Quem é capaz de pedir ajuda - e, portanto, não se julga um sabichão independente - também é mais capaz de ajudar, porque sabe que, como ele, outros podem precisar de uma mãozinha. Esse traço é essencial para um trabalho em grupo tranquilo e bem-sucedido.

6. Juntos venceremos!

Algumas atividades são ideais para estimular a colaboração. Ana Cássia Maturano sugere uma brincadeira com Legos, ou outros bloquinhos de montar, que pode ser realizada tanto em casa quanto na escola: 1) primeiro, o grupo (que pode ser formado por pais e filhos, amigos, colegas de classe etc.) decide junto o que irá construir; 2) cada um, então, fica responsável por um estágio da construção: separar as peças, montar e arrumar as peças que sobrarem; 3) todos respeitam as suas "obrigações" sem se meter na parte do outro; 4) na próxima montagem, faz-se um rodízio: quem separava as peças passa a montar, quem montou agora fica responsável pela arrumação e assim por diante. Essa brincadeira simples é muito rica, pois ensina o respeito ao trabalho do outro, a paciência (de esperar a sua vez) e a visão global de um projeto, participando de cada uma de suas fases.

7. Autoavaliação

Quando participamos de uma atividade em grupo, seja por diversão, estudo ou trabalho, tendemos a avaliar como os outros se saíram e o papel que cada um desempenhou. Mas é muito importante, também, propor-se uma autoavaliação: consegui fazer a minha parte? Ouvi as opiniões dos outros e fui aberto a elas? Na escola, uma boa solução para que as crianças desde cedo adquiram esse hábito são os relatórios de trabalho em grupo entregues para o professor - neles, os alunos contam como se saíram durante o processo. "Por meio desses relatórios, percebemos se o trabalho foi, mesmo, feito em grupo, com um real compartilhamento de tarefas", acredita Paula Furtado.

Em casa, não é preciso fazer relatório, claro. Os pais podem incentivar os filhos (e eles mesmos) a fazer comentários descompromissados no dia a dia, como: eu poderia ter ajudado você a tirar as compras do carro ontem; hoje, quero ser mais participativo na visita à casa dos tios etc.

8. O que seria do mundo sem a solidariedade?

Não deixe para lembrar que existem pessoas precisando de ajuda apenas no Natal. Ouvir os outros com o coração, vez ou outra abrir mão de uma comodidade sua para acolher alguém e se sentir responsável pelo que acontece à sua volta são exemplos de comportamentos preciosos para o seu filho. A pessoa solidária não se importará, por exemplo, se de vez em quando outro for aplaudido em seu lugar por um bom trabalho. E ficará feliz quando o resultado for bom para todos, não só para ele.

9. E se a criança não gostar de trabalho em grupo?

A psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia alerta: "Se a criança não consegue se encaixar em nenhum grupo, pode ser sinal de que existe, de fato, uma dificuldade". É hora de conversar com a escola e, dependendo do encaminhamento da questão, com um especialista. Lembrando, porém, que é normal e saudável que a criança às vezes queira brincar, ler ou fazer outras coisas sozinha. Todos nós precisamos de momentos solitários, mesmo quando lidamos bem com situações de grupo.


Fonte da imagem e do texto: Educar para Crescer