É comum, entre crianças, a recusa por alguns grupos de alimentos – em muitos casos, os mais nutritivos e saudáveis, para desconforto dos pais. Também, com frequência, as crianças passam por momentos nos quais o comer parece ser a última de suas preocupações por exemplo: nas férias, quando há muitas crianças e brincadeiras que "roubam" a atenção nas horas de refeição ou quando há uma mudança importante no cardápio, às vezes por ocasião de uma viagem. Situações como essas tendem a ser passageiras e não trazem prejuízos para o desenvolvimento e saúde da criança.

No entanto, a recusa pela alimentação pode constituir‐se como um problema quando a criança passa a desenvolver doenças decorrentes de baixa imunidade; quando a curva de crescimento (peso e altura) encontra‐se abaixo do normal ou, ainda, quando a seleção dos alimentos aceitos pela criança passa a ser, progressivamente, menor.

São em situações como essas que, muitas vezes, os pais se desesperam e, em uma tentativa de solucionar o problema, assumem atitudes contraproducentes. Uma das práticas mais comuns é ameaçar: "se você não comer eu vou te bater" ou "se você não comer vai ser um fracote e todos os meninos vão te bater". Ameaças como essas tendem a produzir intensa ansiedade (acompanhada de enjôos e "garganta fechada"), prejudicando ainda mais a vontade de comer. Vale lembrar que, enquanto para algumas pessoas a ansiedade pode associar‐se ao aumento de apetite, para aqueles que tendem a rejeitar alimentos, a ansiedade é mais um elemento inibidor de apetite.

Também é bastante comum que pais de crianças que recusam alimentação gastem muito tempo acompanhando as refeições e, ao final dela, tenham esgotado seus tempos e suas paciências. Nesses casos, podemos dizer que toda a atenção e a presença dos pais podem estar associadas ao não comer, faltando tempo e energia para momentos gostosos, de brincadeiras e diversão. Dessa maneira, é possível que as crianças passem a associar a atenção e cuidados à recusa pela alimentação.

Na tentativa de resolver ou suavizar esse problema, costumamos sugerir no consultório pequenas mudanças, como as apresentadas a seguir:

1) Pratos com muita comida tendem a produzir muita ansiedade na criança (que tende a vê‐los como montanhas impossíveis de serem escaladas). Permita que a criança, assistida pelo adulto, faça seu próprio prato – exigindo apenas que ela coloque "um pouquinho de tudo". É preferível um prato com pouca comida, que dê a oportunidade da criança terminá‐lo e ouvir dos pais: "Você raspou o prato! Se quiser, pode até repetir".

2) Quando houver uma margem de tempo razoável, após poucos minutos de rejeição à comida, prefira afastar‐se da criança e, com suavidade, sugira que ela o chame quando estiver com fome. Nesse intervalo, procure dar pouca atenção à criança, explicitando que a companhia virá durante e após a refeição.

3) Ao início da refeição, combine com seu filho alguma atividade (brincadeira, jogo ou assistir juntos um programa de TV), que deverá ser realizada somente após comer.

4) Em geral, a criança com esse problema associa o alimento a desconforto, ansiedade e brigas. Para suavizar isso, é interessante que se faça uma associação entre comidas e situações agradáveis. Para isso, vale cozinhar junto com a criança, brincar de casinha utilizando um pouquinho de ingredientes de verdade (por exemplo: alguns grãos de arroz e feijão e uma folhinha de alface picada) ou ler histórias envolvendo comidas.

É importante salientar que, em alguns casos, mudar esse quadro não é fácil e exige ajuda especializada de um psicólogo infantil, que deve realizar um trabalho com a criança em consultório e, paralelamente, oferecer orientações aos pais para que esses possam manejar com mais tranquilidade e eficiência esse problema.

Por: Joana Singer Vermes - Psicóloga Comportamental

Fonte da imagem e do texto: Psicoterapia Comportamental Infantil