A maior parte das pessoas diria que trair alguém dentro de um relacionamento monogâmico é errado. Mas, na prática, as coisas podem não ser tão simples: trocar mensagens românticas é trair? E só beijar?

A coisa fica mais complexa quando quem descobre o caso não é o traído, e sim um amigo do casal. Foi essa situação constrangedora que pesquisadores da Universidade de Michigan foram pesquisar. Eles queriam entender o que leva uma pessoa próxima a revelar uma traição.

Para isso, entrevistaram 487 voluntários, que eram apresentados à seguinte situação:

"Imagine que você conhece a pessoa A, que está num relacionamento. Você descobre que o parceiro dela, pessoa B, fez sexo com penetração com a pessoa C". A frase já definia claramente o que deveria ser considerado traição na pesquisa.

Depois, surgiam uma lista de informações sobre cada envolvido, incluindo o quão próximo o voluntário é das pessoas A e B, quais as circunstâncias do relacionamento e quem era a pessoa C. Ao ler cada nova informação, o participante tinha que dizer se ela aumentava ou diminuía a chance de dedurar o caso à pessoa A.

Um das primeiras descobertas da pesquisa foi que quanto mais sabemos sobre a infidelidade, maior a tendência de revelarmos o caso. Mas os pesquisadores encontraram 3 fatores específicos que eram os mais importantes na hora de tomar essa decisão.

Transição, romance e saúde

Os participantes demonstraram uma inclinação bem maior à delatar a traição quando o casal estava próximo de um importante momento de mudança, como noivar ou casar.

O segundo fator decisivo era se o comportamento era recorrente. Se o caso já durasse um tempo com a mesma pessoa e parecesse mais um compromisso paralelo do que uma escapada, o traidor tinha mais chances de ser dedurado.

O último quesito eram as DSTs: quando o participante sabia que a Pessoa C tinha contraído algum tipo de doença, ele se sentia obrigado a contar do caso para proteger a pessoa traída de um possível contágio.

Fora o trio principal de motivos, o estudo encontrou outras razões interessantes. Um deles é que protegemos quem é mais próximo de nós. Se o traído é um parente ou amigo chegado, as chances de contar aumentam. Por outro lado, se foi o amigão quem traiu, aí a tendência é deixar passar.

Grana, abuso e karma

Outros vieses eram menos óbvios: os participantes expunham mais o traidor quando ele dependia financeiramente do traído. Quem paga as contas tinha mais chance de se safar do enrosco.

Quando a vítima da traição tinha, além disso, histórico de sofrer abuso psicológico ou físico do parceiro, os voluntários também decidiam abrir o jogo com mais frequência. Agora, se o abusador era o traído, eles preferiam o silêncio (provavelmente para evitar ainda mais violência).

Por último, um dos casos em que os voluntários resolviam não contar da traição era se a vítima já tivesse uma reputação de ter pulado a cerca várias vezes antes de ser traída. Com algum senso de karma, os participantes resolveram não entrar nessa treta e seguiram a máxima de "Tudo o que vai, volta".

Não dá para afirmar que todo mundo agiria conforme essas regras. Até porque, a maior parte da amostra do estudo eram mulheres jovens, em seus 20 anos, e todas da mesma universidade. Para ter um retrato mais diversificado, seria preciso saber se homens de 60 anos, por exemplo, teriam a mesma opinião.

Mas a pesquisa serve, ao menos, como uma análise preliminar. E mostra que, em uma tarefa tão desconfortável quanto a de ser o mensageiro de uma traição, as pessoas vão atrás de um senso mais ou menos compartilhado de "justiça" para decidir se expõem ou não quem aprontou.

Fonte: Super Interessante

Fonte da Imagem: Google