Por Júlio César Menezes Vieira

A ciência busca o conhecimento por meio de ensaios clínicos sistematizados e analisados por ferramentas estatísticas. Porém, ela sabe que seus resultados são limitados devido a uma série de variáveis na vida real. Assim, a "verdade" de hoje talvez não será a de amanhã, desde que um ensaio clínico mais confiável diga o contrário.

Por muitos anos, o ovo foi considerado um alimento proscrito na dieta devido seus índices de calorias; hoje é considerado um dos alimentos mais saudáveis em razão de seu alto teor proteico. O escritor Luiz Fernando Verissimo brinca maliciosamente que pretende processar os médicos que o proibiram de comer ovo durantes todos estes anos.

E, agora, nos vemos diante do dilema sobre o álcool, principalmente na senescência. Beber ou não beber? É saudável até determinada dose ou sempre danosa à saúde?

De acordo com uma projeção do IBGE, em 2025 o Brasil terá cerca de 216 milhões de habitantes, dos quais 32 milhões (14,8 %) serão idosos. Segundo o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism – NIAAA e a Associação Americana de Geriatria, entre 2 e 3% das mulheres e 9 e 10% dos homens acima de 65 anos se envolvem em consumo alcoólico de risco.

No primeiro levantamento nacional sobre o consumo de álcool - LENAD, constatou-se que 7% da população brasileira acima dos 60 anos faz uso diário de álcool. Os efeitos do álcool são mais intensos nos idosos em razão das alterações fisiológicas do envelhecimento.

Na literatura recente, grandes estudos demonstram que doses de baixo risco de álcool teriam um efeito protetor contra o declínio da memória e outras funções cognitivas no idoso. Os trabalhos tendem a uma conclusão que a relação entre consumo e desempenho cognitivo é dose dependente, semelhante ao que ocorre com o risco cardiovascular versus consumo alcoólico. Portanto, os benefícios protetores do álcool diminuem conforme o aumento do consumo de álcool.

Devido a toda essa polêmica e debate sobre o uso do álcool na saúde do indivíduo, e pela falta de consenso entre os especialistas, não há nenhuma recomendação médica para utilizar o álcool para fins preventivos.

Então, ingerir ou não bebida alcoólica? Será que o envelhecimento traz maturidade para beber com sabedoria?
Porém, outros estudos utilizando a mesma metodologia dos trabalhos anteriores não sustentaram o efeito protetor do consumo leve de álcool na cognição do idoso.

Desde janeiro de 2016, o departamento de saúde da Inglaterra divulgou, de forma taxativa, que nenhuma dose de álcool é segura, e reduziu para 14 unidades de álcool por semana, no máximo, para homens e mulheres. E afirmou que nenhuma dose de álcool é segura na gravidez.

A resposta não é simples. Porém, o efeito do uso nocivo e crônico do álcool é unânime na literatura especializada e na mídia quanto aos riscos para doenças cardiovasculares, úlceras gástricas, neoplasias, anemia e doenças neuropsiquiátricas como depressão e demência.

Além disso, o álcool é uns dos principais fatores de risco para causas de mortes externas (homicídios, acidentes de transito e suicídios) e o aumento da violência doméstica, sexual e infantil.

Fonte de imagem e texto: Hoje em dia