As Funções Executivas correspondem a um conjunto de habilidades que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comportamentos a metas, avaliar a eficiência e a adequação desses comportamentos, abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, desse modo, resolver problemas imediatos, de médio e longo prazo (Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes e Leite, 2008).

São habilidades mais associadas ao córtex pré-frontal e circuitos a ele relacionados e funcionam como um maestro ou general. Explico. Assim como uma orquestra precisa de um maestro para coordená-la e um exército precisa de um general para comandá-lo, as demais funções cognitivas como atenção, memória, linguagem e percepção, só para citar algumas, precisam das funções executivas para gerenciá-las. Já ouviu alguma vez alguém falando de que a inteligência só vale alguma coisa se a gente souber usá-la?

A boa adaptabilidade do indivíduo em seu ambiente depende em grande parte do bom funcionamento das funções executivas, pois estas também estão envolvidas na regulação emocional e em aspectos da cognição social (empatia, comportamentos socialmente adequados, etc). Na história ontológica de cada indivíduo, as funções executivas são as últimas funções cognitivas a serem totalmente desenvolvidas e as primeiras a serem prejudicadas em situações normais, pois o córtex pré-frontal só é totalmente mielinizado aos 18 anos (com resquícios até os 30 anos nos homens e 35 anos nas mulheres) e o primeiro a perder células neuronais com a chegada da terceira idade. Não é por acaso que alguns idosos perdem um pouco da inibição, fazem brincadeiras que nunca faziam e até "mexem" com mulheres mais jovens...

São inúmeras as condições clínicas que podem provocar alterações executivas, como TDAH, lesão crânio-encefálica, demências, depressão, transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade, estresse cotidiano acentuado, doença renal crônica em estágios mais avançados e abuso de drogas, entre muitas outras. Algumas dessas alterações podem ser muito nítidas e outras nem tanto, o que pode gerar desentendimentos e dificuldades nas áreas pessoal, acadêmica e profissional. Por esse motivo, torna-se relevante a divulgação de exemplos cotidianos de disfunção executiva para o público leigo.

Existem vários componentes executivos, como memória de trabalho (operacional), planejamento, flexibilidade cognitiva, automonitoramento, fluência verbal e motora, seleção/direcionamento para alvos mais importantes, velocidade de processamento, controle executivo da atenção, tomada de decisões e regulação emocional. Com essa quantidade de componentes (e frequentemente descobrem outros), não fica difícil imaginar a complexidade de tal conceito. Muitos autores consideram que o Controle Inibitório, Memória de Trabalho e Flexibilidade Cognitiva são os componentes principais.
É importante frisar que o fato de uma pessoa ter um déficit ou alteração em um ou alguns componentes executivos, não quer dizer necessariamente que todos os componentes estão prejudicados. Também é importante ressaltar que os déficits executivos podem ser permanentes ou temporários e que não é preciso obrigatoriamente ter uma patologia para experimentar dificuldades em alguns componentes executivos, pois práticas educativas inadequadas, por exemplo, podem estar por detrás de algumas dessas dificuldades. Como todas as outras funções, os componentes executivos devem ter treinados ou estimulados já na infância.

Como já exposto, alterações executivas podem causar impacto negativo em diversas áreas da vida e com bastante freqüência as pessoas que sofrem com tais sintomas (após sofrerem patologias, por exemplo) são rotuladas como "preguiçosas", "que não se ajudam", "irresponsáveis", "que só querem se aposentar e não trabalhar mais" e assim por diante. Isso pode contribuir para o surgimento de crenças centrais que influenciam o indivíduo a se comportar de modo que reforce cada vez mais as disfunções executivas, que por sua vez reforçam as crenças (pensamentos rígidos e inflexíveis), surgindo desse modo um círculo vicioso.

Na suspeita de alterações em componentes executivos, particularmente em casos sutis, torna-se importante, portanto, a procura de profissionais habilitados que possam fazer a distinção entre dificuldades normais, que todos podem experimentar, e déficits executivos. Há atualmente diversas formas de auxiliar essas pessoas, entre as quais está a psicoterapia, terapia ocupacional, reabilitação neuropsicológica e o tratamento medicamentoso, o que certamente aumentará a qualidade de vida dos indivíduos acometidos com disfunções executivas.

Referências:
Fuentes, D. e cols. Neuropsicologia: teoria e prática. Artmed, 2008. Porto Alegre: RS
Malloy-Diniz, L. F. e cols. Avaliação neuropsicológica. Artemed, 2010. Porto Alegre: RS

Fonte do texto: psicologiajoinville.com.br/index.php?option=com_easyblog&view=entry&id=38&Itemid=61" target="_blank">Neuropsicologia Joinville

Fonte da imagem: Uol