Anda triste? Meio deprê? Esqueça o psicólogo: chegou a hora de tomar um Yakult cheio de lactobacilos vivos. Uma experiência inédita encontrou conexões entre o nosso estado de humor e as bactérias que moram no nosso intestino – e descobriu que essas colônias microscópicas de estimação são responsáveis por muito mais do que uma simples mãozinha na digestão.

É a primeira vez que a ausência ou presença de um único tipo de micróbio no sistema digestório se provou suficiente para alterar padrões de atividade cerebral.

O primeiro passo do estudo foi analisar a composição das fezes de 40 voluntárias, que tinham entre 18 e 55 anos.

Com os resultados em mãos, os médicos as dividiram em dois grupos: algumas carregavam mais bactérias do gênero Bacteroides – em outras, dominava o gênero Prevotella.

(Pausa para um fato científico: o primeiro grupo é mais comum em dietas com grande concentração de proteína de origem animal. O segundo, por sua vez, domina os intestinos de pessoas que consomem mais pães, massas e outros alimentos com farinha. Em outras palavras, é provável que você possa controlar quem são seus hóspedes – é só ficar de olho no prato).

Depois – e isso já está virando um clichê científico – todas elas fizeram uma visita à máquina de ressonância magnética. Os cérebros das mulheres ficaram sob observação enquanto elas eram expostas a imagens de teor positivo, neutro ou negativo.

Resultado: o team Bacterioides tinha áreas do cérebro como o córtex frontal e a ínsula mais espessos. Essas regiões são essenciais para a memória de longo prazo, a introspecção e outras habilidades complexas.

Os hipocampos, responsáveis pela memória de curto prazo, também eram mais ativos nesse grupo – o gênero das bactérias previu as características do cérebro dessas voluntárias em 66,7% dos casos. Essas mulheres não reagiram com intensidade às imagens consideradas negativas.

O team Prevotella, por sua vez, ficou em um estado de espírito pior após a experiência. A explicação provavelmente está nas conexões entre as amígdalas e a região dos gânglios basais – associados à emoção – com outras regiões como o giro occipital superior, muito importante para a visão.

Essa é uma simplificação, é claro: o cérebro é uma estrutura orgânica, e as funções de cada área, que muitas vezes se sobrepõem, ainda não são completamente compreendidas pela neurociência.

Os pesquisadores levantaram a hipótese de que o hipocampo, além de sua lista de funções já bem grande, também contribua com a regulação de emoções.

Nesse caso, pessoas com hipocampos mais gordinhos (e portanto mais Bacterioides no intestino) suportariam melhor variações de humor.

"O menor volume do hipocampo (…) no grupo com alta concentração de Prevotella é consistente com maior reatividade a estímulos afetivos", afirma o artigo científico.

Isso significa que, no limite, você é o que você come: suas opções alimentares, muitas vezes impostas por questões culturais e condições socioeconômicas, podem realmente influenciar a arquitetura do seu cérebro e a maneira como você reage ao mundo.

Essas conclusões ainda são limitadas, mas abrem as portas para um novo nicho de pesquisa, que pode revolucionar a medicina e gerar novos métodos de tratamento.

Não é de hoje que a ciência busca a cura pela barriga. No ano passado, a própria SUPER deu uma capa sobre o sistema digestório chamada Seu segundo cérebro, que registrou, entre outras pesquisas curiosas, os efeitos de bactérias da espécie Lactobacillus rhamnosus (encontradas em iogurtes) no comportamento de ratos de laboratório.

Pesquisadores da Irlanda dividiram os ratinhos em dois grupos, alimentados com dois tipos de iogurte: um com essa bactéria e outro sem.

Camundongos normais nadam por 4 minutos, em média, antes de desistir de lutar contra a água – eles simplesmente boiam depois disso. Os bichos que tomaram iogurte com L. rhamnosus nadaram 50% mais.

Fonte: Exame

Fonte da Imagem: Google