Hoje vamos falar um pouco sobre os fatores de proteção para a saúde mental/resiliência x qualidade de vida no trabalho dos caminhoneiros. Segundo a Revista Eletrônica Sistemas & Gestão, do ponto de vista do trabalho, a sociedade atual é rica em atividades que envolvem as pessoas, no exercício das suas profissões durante as 24 horas do dia. Parte das atividades industriais funciona no período diurno, mas, a cada dia, mais e mais empresas colocam os seus funcionários nos períodos noturnos ou em turnos irregulares, ou não usuais, de trabalho.
Algumas atividades profissionais, por sua natureza, acontecem durante o dia e também à noite, como aquelas dos profissionais da saúde, dos bombeiros, da defesa civil, da polícia, as farmácias, os restaurantes, etc.
Assim, o que se configurava como uma necessidade em determinados serviços essenciais e em certas indústrias de processo contínuo (petroquímicas) tem se expandido para outros setores. Até atividades esportivas e competições internacionais, com os mais diferentes fusos horários, estão ocorrendo com mais frequência à noite.
De tal forma que o que pode ser lazer para alguns significa trabalho para outros. Para que a sociedade tenha os serviços e produtos, certo número de pessoas trabalha em horários não usuais. A demanda por serviços que funcionam durante todo o dia é cada vez maior – shopping centers, supermercados, cinemas, clubes, academias são só alguns exemplos (Moreno et al., 2003). O transporte de cargas é um desses serviços que solicita horários não usuais dos profissionais para seu exercício.
Um estudo na aviação civil brasileira mostra que há deterioração física nos aeronautas pesquisados e que os sintomas físicos e mentais mais frequentes foram: sensação de isolamento, dificuldade de raciocinar, diminuição da velocidade de reação, insônia, irritabilidade, distúrbios gastrointestinais, diminuição do nível de atenção, alterações dos hábitos alimentares, sonolência, sensação de fadiga (Lotério, 1998). É de se esperar também que outros sintomas, como os distúrbios do sono e/ou a sonolência diurna possam aparecer, interferindo no humor, na concentração e no estado de vigília (Bittencourt et al., 2009).
O trabalho dos caminhoneiros situa-se nesse contexto de turnos irregulares com as consequentes repercussões à saúde. Um estudo sobre a vida e o trabalho dos caminhoneiros realizado por Santos (2004), mostra que há cerca de 1,2 milhões de caminhoneiros no Brasil, distribuídos de forma bastante heterogênea quanto aos locais de trabalho. Uma parte realiza o seu trabalho em zonas urbanas, outros em pequenos itinerários nas estradas vicinais. Esses podem retornar ao lar e ao convívio social ao final do dia. Um terceiro grupo realiza o seu trabalho em longos percursos, em rotas estaduais, federais e até internacionais. Nessas situações, passam muito tempo longe das famílias e de seus ambientes sociais. O seu convívio social restringe-se então aos encontros com colegas de trabalho, com os trabalhadores das rodovias e dos postos de serviços das estradas.
Dessa forma, pode-se afirmar que o ambiente de trabalho (transportadoras, rodovias, etc.) e algumas características da organização do trabalho podem interferir na qualidade de vida dos caminhoneiros, interferir na sua resiliência e serem elementos predisponentes para o desenvolvimento de fatores de riscos para a saúde física e mental dos caminhoneiros. Da mesma maneira, pode-se afirmar que alguns parâmetros de qualidade de vida (hábitos e estilo de vida) dos caminhoneiros – sedentarismo, alimentação inadequada, horas de sono, tabagismo, estresse, etc. – interferem e potencializam a exposição destes profissionais aos riscos cardiovasculares.
REFERÊNCIAS:
BITTENCOURT, L. R., ADDAD, F. M., FABBRO, C. D., CINTRA, F. D. e RIOS, L. (2009), "Abordagem Geral do Paciente com Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono", Revista Brasileira de Hipertensão, Vol.16(3), pp. 158-163, 2b
LOTÉRIO, C. P. (1998), Percepção de comandantes de Boeing 767 da Aviação Civil Brasileira sobre as repercussões das condições de trabalho na sua saúde, disponível em: http://portalteses.cict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_ cover&id=000048&lng=pt&nr (Acesso em 6 de junho de 2015).
MORENO, C. R., FISCHER, M. F. e ROTEMBERG, L. (2003), "A Saúde do Trabalhador na Sociedade de 24 Horas", Fundação Seade, Revista São Paulo em Perspectiva, Vol.17, No.1, jan/mar. Revista Eletrônica Sistemas & Gestão Volume 8, Número 1, 2013, pp. 58-66
SANTOS, L. (2004), "’Moro no Mundo e Passeio em Casa’: Vida e Trabalho dos Caminhoneiros", em Antunes, R. e Silva, M. A. M., O Avesso do Trabalho, Ed. Expressão Popular, São Paulo, pp. 285-353.
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