É comum que no dia a dia os pensamentos (no geral, como eventos mentais) tomem a nossa atenção sem que percebamos que são pensamentos. Se surge em minha mente o pensamento "hoje está um dia horrível", talvez eu não reconheça que esta é apenas uma frase. Posso vir a acreditar nesse pensamento e ter a impressão que todas as 24 horas estão sendo terríveis.

Esse fenômeno – de acreditarmos nos pensamentos que vão surgindo – é o que chamamos tecnicamente na psicologia de fusão cognitiva. O eu e o pensamento se tornam uma coisa só.

Se eu peço para que você pense em uma cadeira imaginária, e você pensa, certamente que você não vai ter a ideia de que é possível sentar em sua cadeira imaginária, certo? Porém, se você pensa "como sou burro" ou "nunca serei feliz" ou "não tenho sorte" é menos provável que você logo veja que este é só um pensamento. É como se a gente "sentasse" nesse pensamento negativo imaginário ou como se a gente comprasse, acreditasse nas coisas que surgem na nossa cabeça, sem entender direito que pensamentos são apenas pensamentos.

Na psicologia, existe também o termo desfusão cognitiva, que é justamente fazer o processo inverso da fusão. Se na fusão o eu e o pensamento são uma coisa só, se o pensamento de algo é tido como já verdadeiro só por existir o pensamento sobre, na desfusão passamos a reconhecer que um pensamento é tão somente um evento mental. Surge em nossa consciência, dura um tempo e depois passa.

Nos exemplos que citei acima talvez já fique claro para você os benefícios da desfusão cognitiva. Se eu reconheço que "eu sou burro" ou "nunca serei feliz" ou "não tenho sorte" não são necessariamente verdades por terem passado pela minha percepção cognitiva eu consigo criar distanciamento entre o pensamento e o eu, crio um espaço e posso "sair" do pensamento.

Oi pensamento, obrigado pensamento, tchau pensamento

Esse processo de desfusão cognitiva é um dos mecanismos que acontece mais cedo ou mais tarde em todas as psicoterapias da psicologia. Ao falar sobre o que estamos pensando e sentindo, ao colocar para fora, lentamente passamos a ouvir o que estamos dizendo e, escutando a nós mesmos, e tendo feedbacks (mais ou menos diretivos dependendo da abordagem), conseguimos também criar a desfusão.

Nas práticas de Mindfulness, temos uma técnica que ajuda muitas vezes a criar a desfusão de forma direta. É a técnica do oi pensamento, obrigado pensamento, tchau pensamento. Se nas práticas de atenção plena ao momento presente (Mindfulness) eu tiver a instrução de treinar minha atenção por 20 minutos na respiração, certeza absoluta que aparecerão pensamentos.
(Nas práticas de Mindfulness o objetivo não é deixar a mente em branco. Porém, é comum que no começo a gente fique brigando com os pensamentos para poder então voltar a atenção para a respiração – se for a prática da respiração. Ora, querer que um pensamento vá embora à força não é muito produtivo).

O exemplo clássico é a solicitação para não pensarmos em um elefante. Tente até o final desse parágrafo simplesmente não pensar em um elefante. Apenas continue lendo e deixe de lado. Para não pensar em algo, temos que pensar para não pensar. E esta luta cansa, esgota, incomoda. Portanto, rechaçar um pensamento não é uma estratégia viável.

Por isso, no oi pensamento, obrigado pensamento e tchau pensamento dizemos também obrigado. Afinal, o nosso cérebro é o resultado de centenas de milhares de anos de evolução. Ter a habilidade de pensar, elaborar, criar conceitos, abstrair, memorizar, planejar, etc é fascinante. Tentemos então agradecer essas habilidades. E dizer tchau.

A ideia é que o oi represente o reconhecimento do pensamento como pensamento (desfusão cognitiva), o obrigado traga a não-luta para o processo e o tchau sinalize que no momento presente não queremos pensar aquele pensamento. Nos despedimos, talvez depois seja útil retornar ao que surgiu como evento mental.

Eu observando eu pensando o pensamento

Uma outra forma de criarmos desfusão cognitiva é feita em 2 passos. Digamos que eu estou pensamendo "eu nunca vou conseguir aprender matemática".
Passo 1) Eu estou pensando "eu nunca vou conseguir aprender matemática".
Passo 2) Eu estou observando eu estou pensando "eu nunca vou conseguir aprender matemática".

Notou como muda? Se o pensamento apenas existe e aceitamos e compramos a ideia sem perceber que é só uma ideia mental, ficamos presos na ideia. Se reconheço que é um pensamento que estou pensando, já é desfusão cognitiva. Se dou um passo além e reconheço que estou observando este pensamento surgir ainda estou criando descentramento. Estou saindo do modo pensar e entrando no modo daquele que observa tudo o que está lhe acontecendo, inclusive sentimentos, pensamentos e tudo o mais.

Podemos fazer isso também com um livro ou texto que estamos lendo. Muitas vezes acreditamos que algo é verdade absoluta só porque está impresso. Uma revista, um jornal, um livro pode conter imprecisões e até inverdades, assim como o que se passa em nossa cabeça.

Conclusão

Ter a habilidade, momento a momento, ou pelo menos de vez em quando, de reconhecer que os pensamentos são só pensamentos nos permite ter mais liberdade. A liberdade de acreditar em pensamentos que são construtivos, positivos, pra frente. Isso não significa que não vão continuar aparecendo os pensamentos negativos e pessimistas, mas teremos a capacidade da agradecer o nosso cérebro de cerca de 80 bilhões de neurônios por todas as suas produções e criações, sem comprarmos tudo o que surgir, sem "sentar na cadeira imaginária". E você? O que pensa destes pensamentos?

Fonte do texto e da imagem: psicologiamsn.com/2017/08/oi-pensamento-obrigado-pensamento-tchau-pensamento.html" target="_blank">psicologia MSN