Você sabe a diferença entre neurociência, neuroeducação e neuropedagogia? São termos que surgem frequentemente no ambiente escolar e muitas vezes usados como sinônimos, porém envolvem conceitos diferentes. A ‘neurociência’ refere-se às ciências dedicadas ao estudo do sistema nervoso, no tocante à sua anatomia e fisiologia, bem como à sua saúde ou patologias. Já a ‘neuroeducação’, de acordo com Susan Leibig, diretora do Instituto de Pesquisas em Neuroeducação, é definida como um "modelo sistêmico de intervenções evolutivas desenvolvido para atuar nas matrizes de inteligência do sistema mental e estruturar/reestruturar o caminho de manifestação do potencial inteligente da consciência". Mas afinal, o que é neuropedagogia?

A Neuropedagogia

O assunto central de nosso post de hoje é um campo da pedagogia que se dedica a compatibilizar as técnicas de ensino/aprendizagem com a fisiologia cerebral humana. O conceito é trazido pela especialista Ingrid Taricano, graduada em Ciências Biológicas/ Modalidade Médica, com mestrado em Farmacologia/Neurotransmissores pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP).

Para Ingrid Taricano, que iniciou a vida profissional como coordenadora do curso de Psicopedagogia há cerca de 20 anos na Universidade de Santo Amaro (Unisa), na cidade de São Paulo, existe uma resistência inicial das pessoas leigas com relação a todas as expressões iniciadas com o prefixo ‘neuro’, achando que se trata de um tema complexo e intangível.

O temor muitas vezes se explica, segundo ela, devido à falta de pedagogia dos profissionais de neurociências que não estão preparados para repassar os novos conhecimentos ao público leigo. No caso da neuropedagogia, diz ela, "estamos falando é da boa e sólida pedagogia científica que historicamente surge no final do século XIX, para se consolidar no transcorrer de todo o século XX".

O conhecimento da estrutura e funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC) aplicado à pedagogia, de acordo com a neuropedagoga, imprimiu uma nova visão, bem como a compreensão dos processos de aprendizagem. Assim, a neuropedagogia vem tornando cada vez mais eficiente o trabalho de educadores, seja nas atividades de ensino, seja na sua própria produtividade intelectual, segundo ela.

"Um cérebro plástico aprende a vida inteira"

A questão da carência ou de excesso de estímulos no bebê como fator determinante para seu futuro desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, uma preocupação muito presente nos berçários e escolas infantis, é vista como uma relação de causa e efeito, sendo que o estímulo é a causa.

Ela explica que, ao que se refere ao trabalho cognitivo/motor com bebês e suas consequências futuras no seu desempenho, é preciso considerar que todo organismo que "trabalha" a seu tempo e hora deverá apresentar maior rendimento para as mesmas tarefas ou tarefas mais complexas, uma vez que essas dependerão das que foram trabalhadas inicialmente.

Assim, diz Taricano, cérebros com pouca atividade no período de desenvolvimento terão seu desempenho proporcional ao que lhe é exigido, e o resultado inverso também é verdadeiro, dentro da premissa de causa-efeito. A neuropedagoga deixa claro, no entanto, que esta não é uma sentença imutável de incapacidade futura.

Se não houver estímulo suficiente para que sobrevenha um melhor desempenho da capacidade de aprendizagem durante o desenvolvimento, é possível alterar esta situação posteriormente, em sua opinião. Ela frisa que o cérebro é plástico, ou seja, modificável por toda a vida do indivíduo e, dessa forma, pode se adequar e responder a qualquer situação a qualquer tempo.

Ressaltando que, atualmente, o conhecimento científico avançou muito em relação ao que, por exemplo, dispunha Jean Piaget, quando da apresentação de sua teoria da aprendizagem, Ingrid Taricano vale-se de trabalhos atuais, como os do médico radiologista Edson Amaro, cujas pesquisas demonstraram que "a evolução da espessura do córtex até a espessura encontrada na idade adulta acontece em velocidades diferentes em cada área cerebral. As áreas hierarquicamente mais primitivas – relacionadas à percepção e movimentação – maturam mais rápido. Nas áreas de associação – frontais e parietais -, responsáveis pela integração da informação, o processo de maturação ocorre mais tardiamente".

O conceito de neuropedagogia ficou mais claro para você? Esperamos que sim!

Fonte do texto e da imagem: Valor do Conhecimento